Antigo conselheiro nacional deixa PSD e arrasa liderança de Passos Coelho

Paulo Vieira da Silva acusa o líder do partido de “patrocinar a pouca vergonha de apresentar o livro de José António Saraiva, que ultrapassa todos os limites da razoabilidade”.

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Paulo Vieira da Silva era militante do PSD há 25 anos Paulo Pimenta

Ao fim de 25 anos de militância, o antigo conselheiro nacional do PSD Paulo Vieira da Silva bate com a porta, arrasando a liderança de Pedro Passos Coelho, a quem acusa de ter “passado de primeiro-ministro a profeta da desgraça” e de “estar desfasado da actual realidade política e social”.

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Ao fim de 25 anos de militância, o antigo conselheiro nacional do PSD Paulo Vieira da Silva bate com a porta, arrasando a liderança de Pedro Passos Coelho, a quem acusa de ter “passado de primeiro-ministro a profeta da desgraça” e de “estar desfasado da actual realidade política e social”.

O antigo conselheiro nacional comunicou esta segunda-feira ao partido a sua saída numa carta na qual dá conta das razões que o levaram a romper com a militância, aproveitando para denunciar a “deriva neoliberal” que PSD conheceu com a liderança de Passos Coelho, uma estratégia que - segundo afirma - afastou o partido dos “princípios ideológicos que estiveram na génese da sua fundação”. “No consulado de Passos Coelho assistimos a uma deriva neoliberal. Passámos a assistir à defesa de um regime assistencialista em que o Estado apenas pagaria aos ‘coitadinhos dos pobrezinhos’. Esta é para mim uma visão inabalável e redutora do papel do Estado”, escreve o antigo dirigente da distrital do PSD-Porto.

Paulo Vieira da Silva, que ganhou notoriedade por ter feito, em Abril de 2015, uma denúncia à Procuradoria-Geral da República (PRG), acusando Marco António Costa de montar uma “rede de interesses” e de ter cometido uma série de irregularidades, ainda nos tempos em que o actual vice-presidente do partido estava na Câmara de Valongo, escreve na carta que “em 2010, com a ascensão de Passos Coelho à liderança do PSD, ascenderam também a lugares cimeiros do partido dirigentes políticos do tipo ‘trepa-trepa’, em que o mérito foi medido em função do número de votos dos ‘exércitos’ que comandavam e que valiam exclusivamente para a eleição do presidente do partido. A mediocridade passou a ser premiada. Quanto pior melhor que assim não incomodavam”.

Mas a gota de água que o levou a bater com a porta está relacionada com o facto de Passos se ter disponibilizado para apresentar a mais recente obra de José António Saraiva, antigo director do Expresso, intitulada Eu e os políticos: o que não pude (ou não quis) escrever até hoje [O livro Proibido].

O ex-conselheiro nacional confessa que não quis acreditar quando ouviu dizer que o presidente do seu partido ia “patrocinar este ‘circo’ da política portuguesa”. Mas quando teve a “confirmação pela voz do próprio Passos Coelho” entendeu que estava na hora de se desvincular do PSD. “Não foi uma decisão fácil, mas há momentos em que temos que ser claros e dizer não. Há limites para tudo. Uma coisa é a luta política, por vezes dura, a defesa de pontos de vista muitas vezes antagónicos de forma convicta, o estar sujeito quotidianamente ao escrutínio público, outra coisa é ‘abençoar’ a devassa da vida privada e intima das pessoas”, refere na carta. ”Apesar de deplorável e nojento, entendo que isto fica com o senhor arquitecto [José António Saraiva]. Porém, outra coisa bem diferente é ver Pedro Passos Coelho, o presidente do PSD, o meu partido há mais de 25 anos, ‘patrocinar’ esta pouca vergonha”, lamenta.

Afastado da vida partidária desde 2006, Paulo Vieira da Silva, hoje empresário, disse ao PÚBLICO que já que leu o livro [numa noite] e é por conhecer o seu teor que considera que “é completamente inadmissível que o presidente do PSD e ex-primeiro-ministro de Portugal faça a apresentação deste inqualificável livro que ultrapassa todos os limites da razoabilidade”.

Quanto ao combate das autárquicas, o antigo conselheiro nacional vaticina um “desastre eleitoral”. “O resultado pode ser catastrófico e o PSD corre o risco de ser tornar num partido marginal no espectro político português”, afirmou ao PÚBLICO.