Estudo revela que professores do 1.º ciclo estão pouco preparados para lidar com crianças adoptadas

Estudo da Universidade do Porto mostra que docentes têm pouca preparação para ajustar a sua prática pedagógica a meninos adoptados.

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Daniel Rocha/Arquivo

Um estudo desenvolvido pela Universidade do Porto (UP) mostra que os professores primários têm falta de conhecimentos sobre a adopção e pouca preparação para ajustar a prática pedagógica nas respostas às necessidades das crianças adoptadas.

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Um estudo desenvolvido pela Universidade do Porto (UP) mostra que os professores primários têm falta de conhecimentos sobre a adopção e pouca preparação para ajustar a prática pedagógica nas respostas às necessidades das crianças adoptadas.

Este é um dos resultados obtidos pelo Grupo de Investigação e Intervenção em Acolhimento e Adoção (GIIAA) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UP (FPCEUP) no âmbito de um projecto onde foram entrevistados cerca de 600 professores de 150 escolas do Porto e de Coimbra.

De acordo com a coordenadora da investigação, Maria Barbosa-Ducharne, pretendia-se perceber como a escola e a comunidade escolar se posicionam face à adopção, centrando-se na figura do professor, "significativa no seio das relações que as crianças desta idade estabelecem".

"As questões relativas à legislação da adopção constituem-se, para grande parte dos professores, um campo ainda desconhecido, visto que as respostas às perguntas dessa natureza foram sinalizadas de forma incorrecta ou pela opção 'não sei'", explicou a investigadora.

Outro dos resultados indica que as professoras têm mais conhecimento sobre adopção do que os professores e que os profissionais mais velhos e mais experientes são mais conhecedores de alguns aspectos específicos desta matéria.

Verificou-se também que não havia diferenças ao nível do conhecimento sobre a adopção entre professores que já tiveram contacto com crianças adoptadas e aqueles que não tiveram, havendo, porém, diferenças quanto às práticas pedagógicas utilizadas.

Apesar de estes profissionais terem, para os investigadores, "um papel muito importante na facilitação da criança adoptada na escola", os dados indicam que "não estão mais informados sobre adopção do que o público em geral", o que pode ser explicado pelo facto de não haver formação específica nesta área.

Confrontados com uma situação deste género "os professores são levados a procurar estratégias alternativas que possam ir ao encontro das suas necessidades", ajustamento baseado na sensibilidade e na experiência do profissional.

No âmbito de outro estudo desenvolvido pelo GIIAA, 125 crianças, com idades compreendidas entre os oito e os dez anos, foram questionadas (em casa) sobre o ambiente escolar e a forma como aí viviam o facto de terem sido adoptadas.

"Os resultados mostram que a experiência de ser adoptado, vivida na escola, é caracterizada tanto pelos sentimentos envolvidos como pelo conforto na comunicação acerca da adopção", referiu Maria Barbosa-Ducharne.

Segundo a investigadora, quando o contexto escolar é percebido pela criança adoptada como mais discriminatório em relação à adopção, falar abertamente com os outros contribui para que ela se sinta menos triste, com menos raiva, menos diferente e menos confusa sobre quem é.

O estudo comprova ainda que as habilidades sociais da criança são um importante factor de protecção desta vivência na escola. No entanto, e apesar de os investigadores partirem do princípio de que uma "comunicação aberta, sensível e flexível" em torno da adopção em contexto escolar seja positivo para o bem-estar da criança, "isso não acontece sempre da mesma forma para todas", optando algumas por não o revelar.

"É fundamental uma mudança de atitudes", defendeu a coordenadora, de forma a facilitar a integração e a aceitação e criar um espaço para discutir, "em termos mais rigorosos", as questões da adopção.