“Estamos a abrir o MIT-Portugal para áreas que não eram tradicionalmente as suas”

Pedro Arezes, 43 anos, licenciou-se em engenharia industrial na Universidade do Minho, onde também fez o mestrado e o doutoramento em ergonomia. Em 2013 tornou-se aí professor catedrático e, no ano seguinte, partiu para o Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos EUA.

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Pedro Arezes, o novo director do programa MIT-Portugal Adriano Miranda

Nos Estados Unidos, Pedro Arezes fez investigação ao abrigo da parceria MIT-Portugal. Esse foi o início de uma ligação que se foi reforçando nos anos seguintes quando passou a integrar a comissão directiva do programa doutoral de Líderes para as Indústrias Tecnológicas. Esta quinta-feira, durante a conferência anual do programa, que decorre em Braga, é anunciado como o novo director do MIT-Portugal. Substitui Paulo Ferrão, que o liderou desde a sua criação, em 2007, e saiu para presidir à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Garante que não vai “fazer uma revolução”, mas entende que é preciso comunicar melhor os resultados do programa à população.

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Nos Estados Unidos, Pedro Arezes fez investigação ao abrigo da parceria MIT-Portugal. Esse foi o início de uma ligação que se foi reforçando nos anos seguintes quando passou a integrar a comissão directiva do programa doutoral de Líderes para as Indústrias Tecnológicas. Esta quinta-feira, durante a conferência anual do programa, que decorre em Braga, é anunciado como o novo director do MIT-Portugal. Substitui Paulo Ferrão, que o liderou desde a sua criação, em 2007, e saiu para presidir à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Garante que não vai “fazer uma revolução”, mas entende que é preciso comunicar melhor os resultados do programa à população.

O programa MIT-Portugal está prestes a comemorar dez anos. Que contributo deu ao país?
Destacaria a internacionalização da ciência e da tecnologia, que se tornou muito mais relevante e visível nestes anos. Depois, houve um reforço da interligação entre as próprias universidades nacionais participantes, que se vê no aumento do número de projectos conjuntos e também na qualidade e impacto das publicações que são feitas em parceria. Há um terceiro aspecto que foi a criação de uma comunidade do MIT-Portugal composta por alunos e ex-alunos excelentes, o que tem garantido resultados fantásticos ao nível da criação de empresas e do estabelecimento de carreiras académicas de sucesso.

O programa influenciou mais o tecido científico ou o empresarial?
Influenciou ambos. Como estou ligado à área académica, vejo o impacto a este nível de forma mais clara. Mas quando olho para os números que temos, nomeadamente o co-financiamento privado dos projectos de investigação, não posso deixar de sublinhar também o sucesso nessa área. Na segunda fase do programa [2012-2017], o investimento [total] das empresas anda na ordem dos 1,5 milhões de euros, o que representa o dobro dos primeiros cinco anos e cerca de um terço do valor do investimento global. Isto é um indicador mais do que claro desse envolvimento.

Um estudo do ISCTE, publicado há um ano, apontava um fraco impacto económico destas parcerias internacionais. Isto não contraria essa ideia?
Não duvido dos dados do estudo do ISCTE – que convidámos para participar na conferência de amanhã [hoje, quinta-feira] – e é absolutamente relevante olhar para aquele estudo com mais detalhe. Sentimos que é difícil encontrar indicadores fiáveis relativamente ao impacto económico e temo que esse estudo possa ter uma visão restritiva sobre esses dados. Entendemos que se pode ir além dos indicadores quantitativos e por isso, nesta fase final do segundo ciclo do projecto, vamos ter um reforço de avaliação do programa sob vários pontos de vista, um dos quais é o impacto na economia portuguesa.

Por que sentiu essa necessidade de avaliação?
Porque é a nossa evidência mais clara da importância do programa. Na comunidade do MIT-Portugal, não há dúvidas sobre a qualidade e os resultados do trabalho, mas sentimos que alguns dos interlocutores, como as empresas, as entidades financiadoras e o Governo precisam de dados mais concretos sobre o impacto do programa. Nos primeiros cinco anos foram investidos 65 milhões de euros e financiadas mais de 200 bolsas de doutoramento e 20 projectos de investigação. Na segunda fase, iniciada em 2012, dada a redução drástica do orçamento para 20 milhões de euros, o programa focou-se no apoio a projectos científicos cujos resultados possam ser montras internacionais de tecnologia, havendo três em execução [os chamados test bed, de um milhão de euros cada, nas áreas de medicina regenerativa e células estaminais, cidades sustentáveis e materiais avançados na indústria da mobilidade]. Sendo o MIT-Portugal financiado publicamente, também achamos que as pessoas têm o direito de ter acesso a dados mais evidentes sobre estes resultados. Não temos dúvidas de que valeu a pena, mas precisamos de comunicar esses dados fora da comunidade académica.

Nestes dez anos foram criadas 18 empresas start-up no âmbito do programa. É um número suficiente?
Gostávamos sempre de ter mais, mas estou positivamente impressionado com a quantidade de empresas que foram criadas. Este não é um programa de aceleração de start-ups, portanto a quantidade dos nossos alunos que tomaram essa iniciativa por eles próprios é positiva. A maior parte destas start-ups têm indicadores de sucesso, nomeadamente prémios e convites para participarem em incubadoras estrangeiras.

A segunda fase do programa termina no final de 2017. Pode antecipar um balanço?
Olhando a frio para os números, o balanço é claramente positivo. Temos indicadores muito bons do ponto de vista da atractividade dos alunos. Tivemos 399 candidatos no último ano, para dez bolsas de doutoramento disponíveis, e 47% dos candidatos eram estrangeiros. Ou seja, atraímos muito mais do que a nossa comunidade envolvente e não nos limitamos a injectar recursos naquele que já era o nosso meio habitual. Além disso, os quatro programas doutorais do MIT-Portugal concorreram ao mesmo concurso competitivo dos outros programas doutorais para as bolsas de doutoramento da FCT e os quatro foram classificados como excelentes, o que mostra bem esse reconhecimento exterior.

O que mudará consigo à frente do MIT-Portugal?
Não sou uma pessoa disruptiva, mas também não sou uma pessoa acomodada. Neste meio-termo, quero claramente continuar o bom trabalho que foi feito durante estes dez anos. O meu contributo maior será reflectir sobre o futuro do programa. A esse respeito, uma das primeiras acções que fizemos foi uma reformulação do orçamento que temos no curto prazo para acomodar uma call [abertura de um concurso], que vai abrir em breve, para projectos exploratórios. Estamos a abrir o MIT-Portugal para áreas que não eram tradicionalmente as suas. Haverá 1,8 milhões de euros, para apoiar 18 projectos, com a duração de um ano.

Quais são as áreas que podem ser privilegiadas na terceira fase do programa?
Estes projectos exploratórios serão utilizados como um instrumento de mapeamento do que são áreas emergentes em termos científico-tecnológicos. Na abertura desta call já identificamos duas áreas com grande potencial: o espaço e a exploração oceânica. Não só porque existem já interacções interessantes entre essas áreas e as áreas clássicas que já tínhamos no programa, mas também porque percebemos que são áreas de futuro. As empresas estão a investir e há uma iniciativa paralela da FCT, juntamente com o Governo norte-americano, que tem estado a avaliar o potencial do espaço e da exploração oceânica sobretudo no arquipélago dos Açores.

Tem alguma coisa a ver com a situação na base das Lajes?
Do nosso ponto de vista, não. Do ponto de vista político, não sei. Da nossa parte, resulta da identificação de uma área emergente, de um apelo da própria FCT para que as entidades que estão associadas se juntem e se reforcem. Vemos nisto uma grande oportunidade.

Qual é o orçamento global do MIT-Portugal para 2016?
Cerca de sete milhões de euros.

E para a próxima fase, há alguma perspectiva de qual será o orçamento?
Todos os sinais são positivos, não só porque a recolha de indicadores que tivemos nos permite argumentar de forma mais firma sobre a qualidade do programa, como também estamos a viver algum início de esperança, como em todas as áreas da economia. O Governo actual, neste domínio específico da ciência e tecnologia, tem dado sinais claros de que quer fazer um reforço do investimento, o que também pode ser muito positivo para este programa.

Como se convence os parceiros privados a reforçarem o seu investimento?
Não estamos a pedir mecenato, pedimos às empresas que se envolvam em projectos de investigação e que co-financiem esses projectos, cujos resultados também lhes servem. Portanto, a forma de potenciar esse co-financiamento é mostrar os resultados que temos tido nos test bed que estão a decorrer. Estes envolvem parceiros industriais e institucionais de grande peso, que estão a ver positivamente o investimento que fizeram nestes projectos. O desafio é que as empresas vejam na investigação um investimento de mais-valia. Obviamente que nas grandes empresas isso é mais ou menos consensual, em empresas mais pequenas é mais difícil.

Mas são essas que representam a esmagadora maioria do tecido empresarial português.
E não queremos deixá-las de fora deste programa. Eu gostava que, na terceira fase, pudéssemos trazer pequenas e médias empresas a participar, sobretudo empresas de nicho e com alto valor acrescentado que, dada a sua especificidade tecnológica, vissem essa mais-valia.

Passaram 1000 alunos pelos programas do MIT Portugal nestes dez anos. Quem são estas pessoas?
São alunos com interesse em potenciar rapidamente a sua carreira académica e profissional. Pelos nossos critérios de escolha e o processo de selecção relativamente apertado, temos ficado com excelentes alunos e uma massa crítica muito boa. O efeito de novidade foi-se dissipando ao longo dos anos, mas depois de anos de alguma estabilização, temos observado com muito agrado que o número de candidatos tem vindo a crescer. O número de vagas é estável [dez por ano] e não temos a intenção de as aumentar, mas temos ocupado sistematicamente a totalidade das vagas, às quais adicionamos, pontualmente, vagas supranumerárias. Alguns alunos reconhecem a mais-valia da formação e, mesmo sem lhes ter sido atribuídas bolsas de doutoramento, pagam a sua frequência. Dentro destes, há trabalhadores cujas empresas reconhecem a formação e lhes pagam as propinas correspondentes.