Sete notas sobre José Cid, Nuno Markl e Trás-os-Montes

Senhores, larguem os teclados e vão apanhar ar. Cada vez me convenço mais de que, tal e qual me disse um amigo há uns tempos, a internet está cheia de baratas

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José Cid/Facebook

Um sujeito nortenho (mas que até mora perto da capital) decidiu, em 2016, desenterrar uma entrevista de 2010 na qual um músico, de seu nome José Cid, faz uns comentários um tanto ou quanto alarves sobre os habitantes de uma região nortenha de um pequeno país do continente europeu chamado Portugal.

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Um sujeito nortenho (mas que até mora perto da capital) decidiu, em 2016, desenterrar uma entrevista de 2010 na qual um músico, de seu nome José Cid, faz uns comentários um tanto ou quanto alarves sobre os habitantes de uma região nortenha de um pequeno país do continente europeu chamado Portugal.

Esses habitantes do território pequeno do país que, já de si, também é pequeno insurgiram-se e fizeram-se valer de uma opinião que julgam ser válida e informada, ameaçando de morte tudo o que mexe nesta chamada polémica. Sobre tudo isto, umas quantas notas.

1. A entrevista aconteceu há seis anos. SEIS ANOS. O fuso horário de Trás-os-Montes não é o mesmo do restante território continental?

2. A entrevista foi dada a um canal humorístico, não foi dada ao "Jornal de Letras": é verdade que José Cid é dado a dizer disparates, de tempos a tempos, mas, caramba, o homem estava a exagerar e fazer pouco das suas próprias alarvidades. Não me parece que o senhor Cid seja um Trump cá do burgo a querer pôr muros à volta de terras. Além do mais, o senhor Cid não é o Brad Pitt, portanto pode chamar feio a quem bem entender.

3. O Nuno Markl — que é um tipo extraordinário, sempre disponível e cheio de boas intenções — riu-se. E riu-se porque, provavelmente, não tinha nada a dizer sobre aquelas ideias meio tresloucadas. Porra! Rir é crime, agora?

4. O sujeito que decidiu partilhar o tal vídeo da entrevista (que já vai com quase um milhão de visualizações) escreve, na descrição da sua partilha, que Cid comete esse grande impropério que é "não revelar a sua orientação sexual". Deixo à consideração do respeitável leitor quem será o verdadeiro atrasado no meio disto tudo.

5. A violência com que alguns — friso a palavra ALGUNS — transmontanos responderam/ameaçaram Cid, Markl e tudo quanto mais mexesse não é reveladora da tacanhez desses selvagens?

6. De vez em quando, erramos e dizemos coisas de que nos poderemos vir a arrepender, sem dúvida. No entanto, também acredito que devemos assumir o que dizemos ou fazemos. No meu entender, não há motivos para que Cid tenha de pedir desculpa. Vivemos num tempo em que é proibido ter opiniões ou dizer piadas? Por amor às divindades hindus, deixem-se disso. Todos — artistas e público — temos de saber viver com as palavras e opiniões alheias. Neste caso, quem tem de pedir desculpa é quem anda a ameaçar de morte um tipo que disse uma tolice e um outro que se riu.

7. Onde habita o poder de encaixe? Se agora alguém viesse dizer que, em Sintra, moram tipos feios e desdentados, eu escreveria uma crónica a ameaçá-lo de morte com sachos e outros instrumentos de lavoura? Então e os alentejanos, que andaram décadas e décadas a levar com anedotas, e muitos deles até as contam com sorrisos nos lábios?

Senhores, larguem os teclados e vão apanhar ar. Cada vez me convenço mais de que, tal e qual me disse um amigo há uns tempos, a internet está cheia de baratas.