Uma lei de 1592 ameaça o futebol escocês

Vários clubes já tiveram de redesenhar os seus emblemas por violarem as regras do organismo que supervisiona a utilização das figuras heráldicas.

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Os membros do Lord Lyon DR

O emblema é um dos elementos mais importantes para a identidade de um clube de futebol, mas para inúmeros clubes escoceses está a revelar-se uma valente dor de cabeça. Vários já tiveram de fazer alterações aos seus símbolos e outros correm o risco de serem obrigados a fazê-las. Tudo porque o organismo que supervisiona a utilização das figuras heráldicas está a aplicar, talvez com demasiado rigor, uma lei que data de 1592.

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O emblema é um dos elementos mais importantes para a identidade de um clube de futebol, mas para inúmeros clubes escoceses está a revelar-se uma valente dor de cabeça. Vários já tiveram de fazer alterações aos seus símbolos e outros correm o risco de serem obrigados a fazê-las. Tudo porque o organismo que supervisiona a utilização das figuras heráldicas está a aplicar, talvez com demasiado rigor, uma lei que data de 1592.

Estava-se a chegar ao fim do século XVI. Jaime Stuart era rei da Escócia desde 1567, e em Portugal o trono era ocupado, há 12 anos, por Filipe I de Portugal e II de Espanha, que subiu ao poder após a crise sucessória provocada pelo desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir. Algures em 1592, o parlamento escocês aprovou a criação do Lord Lyon, como é conhecido o tribunal que julga os crimes relativos ao uso indevido de insígnias.

Mais de quatro séculos depois, este organismo continua vivo e a desempenhar as suas funções, para desgosto dos clubes de futebol escoceses e dos seus adeptos (mas também de clubes de râguebi, de golfe, escolas e outras organizações). No futebol, a mais recente vítima foi o Airdrieonians, que teve de redesenhar o seu emblema em 2014-15, e o Ayr United já está a preparar-se para fazer o mesmo em 2017-18 após ter alcançado um acordo. “Estamos preocupados. Este assunto pode ficar fora de controlo e alguns dos mais conhecidos e identificáveis símbolos do futebol escocês podem perder-se para sempre por causa de uma regra arcaica”, lamentou o presidente da associação escocesa de adeptos, Andrew Jenkin.

Não existe uma polícia da heráldica e o Lord Lyon só se pronuncia quando é solicitado, daí que muitos clubes ainda não tenham sido confrontados (estima-se que mais de duas dezenas infrinjam as regras). No caso do Formartine United, por exemplo, houve uma denúncia anónima por o emblema conter um escudo onde figuravam a bandeira da Escócia e o leão rampante, duas das insígnias cuja utilização é vedada pela tal lei de 1592. Outros elementos proibidos são a coroa real, a coroa mural, o brasão de uma localidade, ou quaisquer letras ou números no interior de um escudo – qualquer que seja a sua forma, desde a tradicional com a ponta inferior pontiaguda, aos escudos circulares, quadrados ou em forma de diamante.

Em inglês arcaico, o texto original da lei de 1592 atribuía ao Lord Lyon o poder de “impedir todo o tipo de pessoas comuns não dignas de usar quaisquer insígnias de armas”. Apesar de a lei só se aplicar na Escócia, uma eventual alteração só poderia ser feita em Londres, no Palácio de Westminster, onde se reúnem as duas câmaras do parlamento, e para iniciar o processo seria necessário apresentar uma petição com dez mil assinaturas.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos