A moda como protecção do Inverno e do mundo na ModaLisboa

Segundo dia de desfiles lança as perguntas de Alexandra Moura e Pedro Pedro para o éter fashion. A 46.ª edição termina este domingo.

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Da moda e do vestuário de Inverno espera-se protecção e foi exactamente essa a tónica na recta final do dia de ontem na 46.ª ModaLisboa, especialmente graças a Pedro Pedro e a Alexandra Moura. Do Pátio da Galé e da música e fluidez de género para os cobertores de papa da região da Guarda. E do que nos é estrangeiro e da itinerância de um casaco solto para as interrogações e afirmações do design de moda numa sucessão de desfiles. 

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Da moda e do vestuário de Inverno espera-se protecção e foi exactamente essa a tónica na recta final do dia de ontem na 46.ª ModaLisboa, especialmente graças a Pedro Pedro e a Alexandra Moura. Do Pátio da Galé e da música e fluidez de género para os cobertores de papa da região da Guarda. E do que nos é estrangeiro e da itinerância de um casaco solto para as interrogações e afirmações do design de moda numa sucessão de desfiles. 

A ModaLisboa é a apresentação semestral de colecções de criadores de moda portugueses. É assim que se define, embora as portas se tenham aberto, ao longo dos anos, a alguns designers e marcas de outras nacionalidades com ou sem sede em Portugal - e outras portas se foram abrindo aos que produzem moda e vestuário no país, com eventos como o Portugal Fashion. Na passerelle e fora dela, entre público e moda de autor, a sua definição passa também pela diversidade das linguagens que junta em três dias. Este sábado agregou parte da sua mais recente versão dessa paleta múltipla.

A expressão eminentemente plástica de Olga Noronha, que começou na “joalharia ortopédica” e agora mergulhou em peças de joalharia corporal com elementos marítimos, produziu imagens serenas e abriu o dia de desfiles numa sala ainda pouco cheia. O glamour “boho” de Christophe Sauvat trouxe os convidados e clientes que com ele vão a terras nórdicas para o Pátio da Galé. O urbano unissexo de Ricardo Andrez chegou à passerelle “principal”, sinal do próximo passo da sua marca que vivia há cinco anos na secção Lab.

E a noite fechou com as elegâncias mais ladylike de Carlos Gil e ladies and gentlemen de Miguel Vieira. Muito público para ver os criadores que há duas semanas estiveram em Milão com o Portugal Fashion e cujo registo foi colorido e ecléctico para Gil, com cores pastel e as texturas do pêlo, do rendilhado ou do acetinado do azul mais nocturno, e de Vieira com malhas e homens de casacos de lã e mulheres aprumadas em preto branco e azul.

Mas ainda ao final da tarde, ecoaram no Pátio da Galé as duas perguntas que Pedro Pedro e Alexandra Moura deixam nas suas folhas de sala de apresentações de colecção. Ele questiona-se: “Uma imagem continuará a valer mil palavras quando vivemos asfixiados pelas imagens? And if the glamour is dead?”. Ela, inspirada pela transição de Anohni, a artista anteriormente conhecida como Antony Hegarty, dos assombrados Antony and the Johnsons, escreve: “Género, pronome, indivíduo!?”

Alexandra Moura sempre se moveu em registo neutro no que ao género toca, com peças apresentadas na passerelle para e por homens e mulheres. E trata-se de um tema com crescente discussão pública e que nos últimos anos emerge uma e outra vez na moda - de autor ou, por exemplo, a recente novidade de uma linha "sem género" na popularíssima Zara. A exclamação de Moura “é uma afirmação” para a premissa de uma colecção que enfatiza a “liberdade” da identidade – “por que é que os homens não hão-de ter detalhes ‘femininos’ no código de vestuário?”, pergunta, apontando para os laços e os brocados semelhantes aos que usavam os homens da era vitoriana que os seus modelos experimentam nos bastidores. Pessoas vestidas de forma sólida, mas poética, negros, vermelhos sangue, brocados, e em cada peça sempre um elemento a remeter para Anohni, “uma referência musical, estética, filosófica, artística”, diz a designer. “Hoje há tantos desejos, identificamo-nos com tantas coisas e não deixamos de ser nós.”

Lá ao fundo espreita um majestoso cobertor de papa, uma das mantas tecidas com lã churra, grossa, em estado bruto, no distrito da Guarda (neste caso em Maçaínhas). Uma parceria que também vai dar a Anohni: há uma imagem dela envolta numa manta que Alexandra Moura viu como momento de revelação e, ao mesmo tempos, como gesto de protecção.

É um conceito, ou uma função, que Pedro Pedro conhece bem, especialmente nas suas colecções de Inverno. Vindo da feira White, em que esteve em Milão com apoio do Portugal Fashion, está no meio de verdes e tons terra. Casacos, cintos, malhas que parecem uma camisola e são uma saia, escolhas e modelos em testes. L’Etrangère “é uma colecção com um tom um pouco existencialista”, que se segue aos decotes e ao muito feminino Verão que desenhou na estação passada, e “é uma reflexão interior e social”. “Protecção”, lá surge ela novamente, “porque ao mesmo tempo que estamos numa sociedade globalizante” nos isolamos, verdes e terras porque essa protecção “também é militar, camuflagem, itinerante”. Pedro Pedro vê as notícias.

A ModaLisboa continua este domingo com Kolovrat, Filipe Faísca ou Luís Carvalho no Pátio da Galé.