O destino pouco fabuloso de Francisco Pavón

Era o símbolo da “cantera” do Real Madrid e jogou ao lado dos “galácticos”. Mas nunca foi um deles.

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Pavón: ao lado de Casillas e entre os "galácticos" Desmond Boylan/Reuters

Chegaram com a regularidade de um por ano. Luís Figo, em 2000, Zidane, em 2001, Ronaldo “Fenómeno”, em 2002, David Beckham em 2003. Era a política dos “galácticos” em acção. Florentino Pérez pagava os milhões que fosse preciso para ter os melhores jogadores do mundo no Real Madrid. Mas os “galácticos” não chegavam para fazer uma equipa. O resto viria da “cantera”, que já tinha dado jogadores como Iker Casillas e Raúl González, jogadores de topo por direito próprio. A esta estratégia Florentino chamou “Zidanes e Pavones”. Zidane, um dos melhores jogadores de sempre, foi anunciado no início da semana como novo treinador do Real. Francisco Pavón tem 35 anos e está desempregado.

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Chegaram com a regularidade de um por ano. Luís Figo, em 2000, Zidane, em 2001, Ronaldo “Fenómeno”, em 2002, David Beckham em 2003. Era a política dos “galácticos” em acção. Florentino Pérez pagava os milhões que fosse preciso para ter os melhores jogadores do mundo no Real Madrid. Mas os “galácticos” não chegavam para fazer uma equipa. O resto viria da “cantera”, que já tinha dado jogadores como Iker Casillas e Raúl González, jogadores de topo por direito próprio. A esta estratégia Florentino chamou “Zidanes e Pavones”. Zidane, um dos melhores jogadores de sempre, foi anunciado no início da semana como novo treinador do Real. Francisco Pavón tem 35 anos e está desempregado.

Até aos 26 anos, Pavón não conheceu outra camisola que não a do Real Madrid. Madrileno de nascimento, Pavón entrou na academia “merengue” e foi progredindo pelos escalões até chegar à equipa principal pela mão de Vicente del Bosque, tal como muitos outros da sua geração, como Raúl Bravo, Oscar Miñambres ou Javier Portillo. Quando Florentino Perez chegou ao Real no Verão de 2000, já Pavón se tinha estreado na primeira equipa (uns minutos como suplente utilizado na Liga dos Campeões). Mas só com a chegada de Zidane em 2001 ao Santiago Bernabéu é que ele se tornou numa das componentes do famoso binómio criado pelo presidente.

Durante alguns anos, Pavón até teve utilização regular no Real Madrid, também porque nunca eram contratados “galácticos” para o sector defensivo. Ia aprendendo o ofício com Hierro ao lado. Entre os títulos conquistados nos “blancos”, Pavón esteve na equipa que triunfou na Champions em 2002, embora não tenha jogado a final, e, na época seguinte, manteve a titularidade numa época de título espanhol. Manteve esse estatuto com Carlos Queiroz em 2003-04, mas a sua utilização começou a cair na época seguinte, em que o banco “merengue” teve três ocupantes (Camacho, Remón e Luxemburgo). Os minutos foram ficando mais escassos e foram praticamente nulos em 2006-07, quando Fabio Capello assumiu a equipa.

Nesta altura, já Zidane se tinha retirado e Pavón, o que mais projecção teve da geração de “canteranos” que devia acompanhar os “galácticos”, era carne de banco. Seguiram-se três épocas de utilização irregular no Saragoça, um exílio na Liga francesa com o Arles-Avignon, e um fim não declarado de carreira em 2011, com 31 anos. Ainda teve algumas propostas para contratos de curta duração, mas nenhum se concretizou. Ficou no desemprego, mas recusou subsídio do estado. “Felizmente, não preciso de pedir. Há muita gente a viver em condições precárias, têm de pagar empréstimos. Esses cinco milhões de pessoas não têm onde se meter”, dizia Pavón em 2012, esperando ainda voltar a jogar.

Mas não voltou. Pavón fica para a história como um nome. Ele era um defesa-central decente e trabalhador, mas não era um “galáctico”, e acabou por sofrer o destino dos “não galácticos”, o esquecimento e a irrelevância. Mas sem arrependimentos. Dizia numa entevista de Março do ano passado: “Zidanes e Pavones? É a pergunta que mais me fizeram na vida. Digo sempre o mesmo e é verdade. Pensam que isso me prejudicou e eu sempre disse que não. Toda a publicidade que te derem no futebol é sempre positiva e eu tive uma grande sorte com esse slogan. Ser um símbolo da ‘cantera’ era algo que me encantava.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos