Eliminação do “segundo intercalar” adiada até 2023
Nas últimas décadas, um segundo tem sido acrescentado de vez em quando à nossa hora legal para que ela permaneça sincronizada com a rotação da Terra.
A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou há dias que a decisão de suprimir o segundo intercalar, de que muitos países discordavam, foi adiada por mais oito anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou há dias que a decisão de suprimir o segundo intercalar, de que muitos países discordavam, foi adiada por mais oito anos.
A decisão foi tomada em Genebra aquando da conferência mundial das radiocomunicações, organizada pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), agência especializada da ONU.
Foi decidido que era necessário “estudar mais a fundo as actuais e potenciais futuras escalas horárias de referência, incluindo as suas repercussões e aplicações”, refere a UIT em comunicado. Um novo relatório deverá ser submetido, em 2023, na conferência mundial das radiocomunicações.
Há anos, porém, que esta questão é objecto de debate. Já em 2012, os países tinham remetido o dossier para as calendas gregas, argumentando que era preciso “esclarecer certas dúvidas”.
O sistema actual de medição do tempo foi definido em 1972 com a adopção do “tempo universal coordenado” (UTC), que é a hora marcada pelos relógios atómicos e à qual é acrescentado vez em quando – ou subtraído, embora isto nunca tenha acontecido –, um segundo “intercalar” para que a hora legal permaneça sincronizada com a hora solar.
A decisão de acrescentar um segundo cabe ao Centro da Rotação da Terra (com sede em Paris) do Serviço Internacional da Rotação Terrestre e dos Sistemas de Referência. E costuma ser anunciada com “pelo menos oito semanas de antecedência”, explicou à AFP Sanjay Acharya, porta-voz da UIT.
A inserção é então feita pelos peritos nos relógios nacionais, ditos UTC, que são utilizados pelo Gabinete Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) para calcular a hora de referência mundial.
Desde 1972, já foram acrescentados 26 segundos – o último no passado dia 30 de Junho. Esses acrescentos são programados para ter lugar, mais precisamente, às 00h UTC de 1 de Janeiro ou de 1 de Julho.
A muito longo prazo, a rotação do nosso planeta azul tem tendência a abrandar, nomeadamente devido à atracção gravitacional da Lua e do Sol, responsável pelas marés. Os relógios atómicos actuais, que se baseiam nas propriedades dos átomos para medir o tempo, são pelo contrário tão exactas que só se desviariam um segundo ao fim de 300 milhões de anos.
Mas o exercício do segundo intercalar não agrada a toda a gente e alguns países (como os Estados Unidos e França) gostariam de o eliminar, uma vez que o consideram inutilmente complicado, para passar a confiar apenas nos relógios atómicos. Outros, como o Reino Unido, preconizam a sua manutenção.
O acrescento de um segundo intercalar a 30 de Junho de 2012 provocou um problema de sincronização na Web, em particular em servidores e sites comerciais. A 30 de Junho de 2015 o impacto foi menor, mas ainda se fez sentir. O mundo do espaço também tem estado atento a este hiato temporal: nunca há lançamentos de foguetões previstos para esses dias.