Viral – uma exposição contagiante em Lisboa

Doenças, economias, ideias, comportamentos, emoções: podem ser contagiosos e contagiantes. Várias vertentes do contágio são exploradas na exposição mais recente do Pavilhão do Conhecimento.

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Imagine que está num túnel e que ouve espirar. Atchim. Um jacto de gotículas atinge-o em cheio. “Ugh.” Terá sido contagiado?

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Imagine que está num túnel e que ouve espirar. Atchim. Um jacto de gotículas atinge-o em cheio. “Ugh.” Terá sido contagiado?

Entrou no Túnel Virulento e assim começa a entrada da exposição Viral – Uma Experiência Contagiante, recém-inaugurada no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e que pode ser visitada até Setembro de 2016, de terça-feira a domingo. Mas não é uma exposição só sobre vírus ou doenças — é uma exposição sobre o contágio, a transmissão de doenças e também de ideias e de comportamentos.

O que significa ser viral? “Fomos buscar as várias dimensões do termo ‘viral’”, conta ao PÚBLICO Rosalia Vargas, directora do Pavilhão do Conhecimento, à entrada da exposição. “Para as gerações mais novas, o termo situa-se nas redes sociais. Para as gerações mais velhas, ‘viral’ está associado a um contexto biológico, à saúde ou à ausência dela. Além disso há a carga económica fortíssima de contágio de mercados, este efeito evolutivo e global.”

Esta exposição foi criada de raiz pelo Pavilhão do Conhecimento – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, em colaboração com outros dois centros de ciência europeus, os museus Cidade das Ciências e da Indústria, em Paris, e Heureka, em Helsínquia. Através de um consórcio entre os três centros, têm sido criadas várias exposições, como foi o caso da exposição” Loucamente”, que esteve no Pavilhão do Conhecimento entre Outubro de 2014 e Outubro de 2015 e vai agora para Paris. Depois de serem apresentadas nos três centros, as exposições entram no circuito comercial dos centros de ciência mundiais.

Depois de atravessar o Túnel Virulento, o visitante recolhe um dispositivo, que põe ao pescoço como um colar e que se liga automaticamente, e a partir desse momento passa a estar “susceptível”, “infectado”, ou “imune”. Ao longo da visita, e através da interacção com os restantes visitantes, também eles susceptíveis, infectados ou imunes, pode-se ser contagiado, contagiar outros ou passar pela exposição sem mudar de estado.

Contagiado com quê? “Com uma ideia, um comportamento, uma doença. Deixamos isso à imaginação de cada um”, diz Cláudia Velhas, coordenadora da exposição. Para complementar a experiência, num ecrã o visitante pode ver-se a si próprio e às outras pessoas presentes na exposição em diferentes cores consoante o seu estado. Será que quer ser infectado? Será que prefere evitar certas áreas? Ou ir a uma zona contagiar um grupo?

Peluches, vídeos e bocejos
A exposição tem 24 módulos independentes, muitos deles interactivos, todos contando uma história. Vários módulos vistos de fora parecem representações de vírus. Começa-se a visita pelos agentes infecciosos e avança-se para as outras formas de contágio. Há módulos mais dinâmicos, outros que convidam à reflexão, uns mais intimistas, outros mais sociais. Este visitante será capaz de contagiar uma multidão? E se forem vários visitantes a tentar?

Há um módulo sobre o gesto diário de lavar as mãos, a sua importância, como o fazer, o seu efeito na redução da transmissão de doenças — sabe como é que os astronautas lavam as mãos? A resposta está na exposição.

O módulo “os culpados” é uma grua de peluches. Há cerca de 30 peluches com a forma de bactérias e vírus conhecidos. Têm cores vivas e um ar divertido. O módulo tem muitas crianças à sua volta, e cada uma delas manipula à vez a grua. “Apanha aquele cinzento”, ouvia-se, “aquele, aquele que parece um texugo”, dizia outra criança, “o roxo”, “mais para a esquerda”, “aí, aí”, “vais conseguir”, continuou a ouvir-se, “yeeees”.

No ecrã aparece a ficha do vírus que foi apanhado pela criança — é o vírus da varicela. Cada peluche fofinho é, na realidade, um agente causador de doenças. Quando um peluche é capturado, pode ver-se a sua ficha, o nome comum, o nome científico, que doenças provoca e o que podemos fazer a prevenção e como se trata a doença.

Há um módulo, o microquiz, que tem enigmas para resolver. Também tem grupos de crianças à volta. O que se sabe e o que ainda se pode aprender sobre a biologia e a história dos contágios?

Mas os microrganismos não são todos transmissores de doenças. Um módulo com uma balança indica não o peso do visitante, mas o peso das bactérias e dos fungos que o acompanham. Fazem parte do corpo. São dois a 3% do corpo humano e a maioria é essencial ao seu funcionamento.

E o que faz um vídeo ser viral? Vídeos de gatinhos, vídeos do “Harlem Shake”, de “acidentes” cómicos. Por que é que alguns são tão vistos e tão partilhados na Internet? Neste módulo, encontram-se vídeos que ganharam uma dimensão viral. O visitante regista a sua opinião e pode ver a opinião dos outros visitantes. Quais os aspectos preferidos? Será a história, o efeito catalisador, o seu valor social, o valor prático, a emoção? Até agora, estava a ganhar a emoção. “É sempre a emoção”, conclui Rosalia Vargas.

No módulo” economias que espirram”, o visitante pode explorar a história, a origem e as consequências em todo o mundo de vários fenómenos de contágio das economias, desde o crash da bolsa de Wall Street em 1929, o “Baby Boom” em 1946 até à crise dos países periféricos em 2010. Fica a pergunta: quando e quais serão os próximos países atingidos?

Muitos outros contágios são explorados. O contágio emocional. O contágio do riso, em que o próprio visitante é contagiado. O contágio dos bocejos, um módulo que deixou toda a equipa do Ciência Viva a bocejar quando a exposição ainda estava em teste. As influências e as escolhas feitas no dia-a-dia – desde o voto nas eleições, a escolha do telemóvel e até o que vestir (as calças de ganga, por exemplo, surgiram no final do século XIX e continuam a ser um fenómeno de popularidade). A vida está repleta de contágios.

Quase no fim da exposição, o visitante tem uma surpresa à espera microscópio.  Afinal, quem é agora um dos maiores agentes de contágio no planeta? Ao sair do recinto, fica a pergunta: “Como gostaria de contagiar o mundo?”

Texto editado por Teresa Firmino