Nem Eagles, nem death metal: muito rock e humor

A banda estava a tocar quando a sala de espectáculos Bataclan foi atacada por terroristas. São norte-americanos e tinham um concerto marcado para Lisboa, no dia 10 de Dezembro, mas a digressão já foi cancelada.

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A banda que estava a tocar no palco da sala de espectáculos Bataclan, em Paris, quando três homens armados dispararam contra as mais de mil pessoas que assistiam ao concerto, tem um nome que motivou uma série de equívocos e despertou curiosidade nas redes sociais: Eagles of Death Metal.

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A banda que estava a tocar no palco da sala de espectáculos Bataclan, em Paris, quando três homens armados dispararam contra as mais de mil pessoas que assistiam ao concerto, tem um nome que motivou uma série de equívocos e despertou curiosidade nas redes sociais: Eagles of Death Metal.

Seja pelas referências a uma suposta ironia por causa da palavra "death" (morte), seja pela ideia de que a banda toca um subgénero do heavy metal particularmente extremo – o death metal –, foram muitas as mensagens espalhadas pelo Facebook e pelo Twitter que revelam desconhecimento em relação à banda que estava em palco no momento em que os terroristas começaram a disparar contra tudo e contra todos.

Conhecidos pelo seu sentido de humor, tanto nas entrevistas como nas letras das músicas, os Eagles of Death Metal são uma banda blues rock/garage/stoner formada em 1998 na cidade de Palm Desert, no estado norte-americano da Califórnia.

De acordo com a história contada pelos seus fundadores, Jesse Hugues e Josh Homme (este último líder da banda mais conhecida Queens of the Stone Age, que já actuou vária vezes em Portugal e que não estava em palco no Bataclan), o nome Eagles of Death Metal surgiu depois de um amigo de Homme ter tentado convencê-lo a gostar do género musical death metal, dando-lhe a ouvir a banda polaca Vader.

Enquanto ouvia Vader, Josh Homme rotulou-os como "os Eagles do death metal", numa referência à banda norte-americana de country rock imortalizada pela canção Hotel California. Apesar deste trocadilho, nem a banda é uma homenagem aos Eagles, nem as suas músicas caem na categoria de death metal.

No dia 2 de Outubro, a banda lançou o seu mais recente álbum, Zipper Down. Numa entrevista há apenas dois meses, na Rolling Stone, o sarcasmo de Josh Homme numa resposta sobre o porquê de terem demorado sete anos a gravar um novo álbum chega-nos agora com uma carga acrescida de tragédia, à luz do que aconteceu na sexta-feira à noite.

"Houve uma série de problemas no Médio Oriente e muitas outras coisas, e lamentamos que isso tenha acontecido. Não era nossa intenção ter causado isso por não termos editado um disco, mas pensamos que a partir de agora o mundo deverá voltar a dar-se bem, como acontecia antes."

Então, seria Zipper Down a resposta dos Eagles of Death Metal ao terrorismo? Homme reforçou a dose de sarcasmo: "Sim. Quando nós lançamos um álbum, a situação dos direitos humanos melhora, o mundo fica melhor, as pessoas ganham melhor, há menos raiva, as pessoas respeitam mais as mulheres e os homossexuais, e são em geral melhores umas para as outras. Foi por isso que achámos que chegou o tempo de iniciarmos este processo de cura."

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Jesse Hugues e Josh Homme são os únicos músicos permanentes na banda, embora Homme raramente toque ao vivo devido a outros compromissos – para as digressões são contratados músicos de outras bandas. Entre as dezenas de músicos que participaram em gravações ou concertos dos Eagles of Death Metal destacam-se Dave Grohl (baterista dos Nirvana e vocalista e guitarrista dos Foo Fighters) e o actor e músico Jack Black.

Ao fim da noite de sexta-feira, alguém partilhou nas contas no Twitter e no Facebook da banda que ainda se estava a "tentar determinar a segurança e o paradeiro" dos músicos e da sua equipa, e desde então não foi publicada mais nenhuma informação nos canais oficias da banda – a última fotografia na conta oficial no Facebook é de um concerto na noite de quinta-feira no Olympia Theatre, em Dublin, na Irlanda; e na conta de Jesse Hugues no Instagram não há ainda qualquer referência ao ataque no Bataclan.

Mas a jornalista Claire Meynal, da revista francesa Le Point, disse que conseguiu falar com os elementos da banda pouco depois do fim do ataque, num café não muito distante do Bataclan, e que estavam todos bem, apesar do natural nervosismo.

Em declarações ao jornal norte-americano Washington Post, Emily, mulher do baterista Julian Dorio, disse que "toda a gente que estava em palco conseguiu sair". "Ele [Julian] telefonou para dizer que me ama e que estava em segurança." Numa mensagem publicada no Twitter, a banda Mojave Lords fez saber que outro dos músicos, Dave Catching, "está são e salvo, segundo os agentes dos Eagles of Death Metal". Na mesma mensagem, a banda salientava que ainda estava a aguardar notícias sobre alguns dos elementos da equipa técnica. Também o baixista Matt McJunkins estará "a salvo", de acordo com uma mensagem partilhada no Twitter pela banda PusciferEste sábado, começaram também a ser partilhados no YouTube os primeiros vídeo do concerto no Bataclan.

Já ao fim da noite de sábado, chegou a notícia de que Nick Alexander, reponsável pela venda de material dos Eagles of Detah Metal, morrera no ataque. "Os nossos pensamentos estão com a família e os amigos de Nick e com as outras vítimas. Há demasiado ódio e negatividade neste mundo", escreveu a editora Ipecac Recordings no Facebook.

Os Eagles of Death Metal estavam a realizar uma digressão pela Europa, que deveria terminar no Natal e que incluía um concerto em Portugal, marcado para o dia 10 de Dezembro, em Lisboa. De acordo com as últimas informações, a banda cancelou a digressão e regressou aos Estados Unidos. Os Eagles of Death Metal tocaram em Portugal em 2006, no Festival Paredes de Coura, e em 2009, no antigo Optimus Alive.

"Não tinham máscaras, sabiam o que estavam a fazer e eram muito jovens"
No final do ataque terrorista no Bataclan, depois da intervenção da polícia, o jornalista da rádio Europe 1 Julien Pierce, que estava na sala a assistir ao concerto dos Eagles of Death Metal, relatou ao jornal britânico The Guardian os momentos de terror: "Dois ou três homens, sem máscaras, entraram com armas automáticas do tipo Kalashnikov e começaram a disparar indiscriminadamente em direcção à multidão. Durou uns 10 ou 15 minutos. Foi extremamente violento e houve uma onda de pânico."

Tal como muitas outras pessoas têm frisado, o ataque ao Bataclan não se tratou de uma tomada de reféns – os atacantes entraram com a intenção de matar o maior número possível de pessoas, sem qualquer exigência em mente.

"Toda a gente começou a correr em direcção ao palco. Vi muitas pessoas a serem atingidas por balas. Os atiradores tiveram muito tempo para recarregar pelo menos três vezes. Não tinham máscaras, sabiam o que estavam a fazer e eram muito jovens", disse o jornalista Julien Pierce.

Ainda não há certezas quanto ao número de mortos no Bataclan – as autoridades falam entre 87 e mais de 100 –, mas foi neste clube que morreu o maior número de pessoas em todos os ataques em Paris, que no total fizeram pelo menos 127 mortos.