"Smartphones" são instrumentos em concerto na Casa da Música

Na Casa da Música, o público vai tornar-se artista no concerto "a.bel". Este é um espectáculo, onde os "smartphones" são bem-vindos

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Guo Bobi/Flickr

Os espectadores que forem à Casa da Música, no Porto, no dia 26 de Outubro, para assistir ao concerto "a.bel" vão ser convidados, desde o momento de compra do bilhete, a participar no espectáculo com os seus dispositivos móveis.

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Os espectadores que forem à Casa da Música, no Porto, no dia 26 de Outubro, para assistir ao concerto "a.bel" vão ser convidados, desde o momento de compra do bilhete, a participar no espectáculo com os seus dispositivos móveis.

Organizado em conjunto pelo INESC TEC, que está a comemorar o seu 30.º aniversário, e pela Casa da Música, o concerto, cujo nome deriva de Abel Salazar e de Alexander Graham Bell, vai juntar músicos profissionais, que vão estar em palco, aos espectadores, que, depois de instalarem uma aplicação específica (seja em "smartphones" ou "tablets", com sistema operativo iOS ou Android) vão poder contribuir musicalmente ao carregarem nas superfícies dos dispositivos móveis transformados em instrumentos.

"Todas as pessoas já vêm para o concerto com um instrumento musical no bolso. O problema é que, na maior parte dos casos, isto [o telemóvel] é um elemento disruptivo das experiências colectivas. Uma pessoa num concerto que esteja a olhar para um telemóvel é uma pessoa que está alheada do que se passa. O desafio é como é que transformamos isto numa experiência que seja não disruptiva da experiência colectiva, mas uma ponte para que as pessoas se conectem", disse à Lusa o investigador do INESC TEC Rui Penha.

O investigador, que é também um dos quatro compositores envolvidos no projecto, afirmou que estão a procurar "perceber de que forma é que [podem] dar a cada pessoa que está no concerto a sensação de que teve uma participação activa no concerto, de que foi um músico".

O público pode descarregar a aplicação (que vai poder usar antes e depois do concerto) e terá direito a um código específico individual: "A pessoa pode decidir quando é que vai tocar uma nota, pode-se articular com as pessoas que estão à volta dela. Só que esta decisão, ou seja, qualquer nota que escolha, vai estar integrada nesta harmonia". O que significa que, apesar de tudo, vai haver um grau de controlo por parte de quem está aos comandos do espectáculo para que seja "sincronizado através da rede".

"Por exemplo, há um modo em que quando toco uma nota ele vai repetir a nota mais duas vezes em intervalos sincronizados com o ritmo à volta. A minha intervenção automaticamente vai ser integrada do ponto de vista rítmico, mesmo que eu não queira. No servidor posso pensar, "há ali uma zona que está a exceder-se" e posso limitar as repetições do que estão a fazer. Há aqui um certo controlo, mas idealmente não temos de o usar", frisou Rui Penha, que reconheceu estar mais preocupado com a falta de participação da assistência e não com o excesso.

Os três outros compositores são Carlos Guedes, da Universidade de Nova Iorque em Abu Dhabi, Neil Leonard, da Berklee College of Music, e José Alberto Gomes, da Digitópia, que vão estar em palco com outros músicos como o saxofonista Gilberto Bernardes e o percussionista André Dias, para além do Digitópia Collective.