Metade dos portugueses qualificados emigrados não pensa voltar, mostra estudo

Trabalho inquiriu 1011 pessoas que emigraram. Destas, 52% considera ser pouco ou nada provável regressar definitivamente a Portugal.

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Procura de emprego e de melhores salários foram algumas das razões para os inquiridos emigrarem Daniel Rocha

Dos 1.011 inquiridos, 52% consideram ser pouco ou nada provável regressar definitivamente a Portugal, sendo que a "fotografia" registada pelo estudo aponta para que os portugueses qualificados que emigraram para outros países europeus se orientem "para uma emigração para toda a vida ou de muito longo prazo", sublinhou o coordenador do projecto que teve início em 2013, Rui Machado Gomes, professor catedrático na Universidade de Coimbra.

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Dos 1.011 inquiridos, 52% consideram ser pouco ou nada provável regressar definitivamente a Portugal, sendo que a "fotografia" registada pelo estudo aponta para que os portugueses qualificados que emigraram para outros países europeus se orientem "para uma emigração para toda a vida ou de muito longo prazo", sublinhou o coordenador do projecto que teve início em 2013, Rui Machado Gomes, professor catedrático na Universidade de Coimbra.

O projecto Brain Drain and Academic Mobility from Portugal to Europe (Bradramo) (cuja tradução é qualquer coisa como “Fuga de Cérebros e Mobilidade Académica de Portugal para a Europa”) envolveu investigadores das universidades de Coimbra, Porto e Lisboa, e contou com 52 entrevistas e um questionário “online” a uma amostra não aleatória de 1.011 portugueses com formação superior que estivessem a trabalhar ou a residir noutro país europeu ou que o tivessem feito nos seis anos anteriores.

A registar-se uma "emigração definitiva", esta tem um custo não apenas na perda do investimento na formação das pessoas que emigraram, mas também "no efeito de inovação e desenvolvimento" das empresas portuguesas e no agravamento da crise demográfica, constatou Rui Machado Gomes.

Segundo os resultados do projecto, 36% dos inquiridos estavam desempregados e 10% em situação de subemprego em Portugal, sendo que no país de destino a situação profissional da maioria altera-se, com 92% empregados.

Ainda relativamente à sua situação profissional, a migração levou a uma maior estabilidade, com 48,9% com contrato por tempo indeterminado (em oposição aos 20,7% registados no país de origem), e também a um aumento do rendimento mensal líquido, com 62% a ganhar entre 1.000 e 3.000 euros, quando em Portugal a maioria estava sem rendimento (30%) ou a ganhar até 1.000 euros (42,5%).

A procura de emprego e melhores salários (80,7%) e a necessidade de realização e progressão na carreira (95,3%) foram as razões mais apontadas pelos inquiridos para emigrarem, sendo que mais de metade considera importante a estabilidade dos sistemas de protecção social nos países de destino.

De acordo com Rui Machado Gomes, o fenómeno de fuga de cérebros está "a aprofundar as assimetrias entre o sul e o norte" da Europa e "fere de morte o projecto europeu".

"O projecto europeu não é transformar os países do sul em países que formam recursos humanos para os outros utilizarem", frisou o coordenador do estudo.

Os resultados do projecto Bradamo estão também presentes no livro Fuga de cérebros: retratos da emigração portuguesa qualificada, editado pela Bertrand, que compila 20 retratos de pessoas entrevistadas para o estudo.

O livro é lançado nesta segunda-feira, em Coimbra, às 18h30, na livraria Bertrand, no centro comercial Dolce Vita, e conta com a apresentação por parte do físico e docente universitário Carlos Fiolhais.

A 6 de Outubro, o livro é apresentado em Lisboa, com a participação do professor universitário Viriato Soromenho Marques, e a 13 de Outubro no Porto, com o investigador Manuel Sobrinho Simões.

Para além do livro em formato físico, será lançado em Novembro um livro digital com mais 27 retratos.