São os indecisos que decidem a sorte das eleições?

De que falamos quando falamos em indecisos? Dos que não sabem se irão ou não votar? Dos que não sabem se votarão neste ou naquele partido/candidato? O facto de as percentagens de indecisos apresentarem grandes discrepâncias entre diferentes centros de sondagens indica que talvez nem todos estejam a referenciar o mesmo conceito.

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De que falamos quando falamos em indecisos? Dos que não sabem se irão ou não votar? Dos que não sabem se votarão neste ou naquele partido/candidato? O facto de as percentagens de indecisos apresentarem grandes discrepâncias entre diferentes centros de sondagens indica que talvez nem todos estejam a referenciar o mesmo conceito.

Do meu ponto de vista os inquiridos a quem chamamos "indecisos" incluem diversos estratos com características diferentes umas das outras. Há os inquiridos que estão indecisos sobre o que fazer - não sabem se votam ou não e, se votarem, não sabem em que partido votar. Muitas vezes, esta indecisão advém do facto de não saberem onde votar. A maioria acaba por ficar indecisa até à última e acaba por não votar.

Há os indecisos que pensam votar, mas não sabem em que partido votar. A sua indecisão pode ter, por exemplo, três opções de escolha. A sua atitude no dia da eleição pode ser muito variada: desde acabar por não votar, até ter um voto útil (em eleições importantes, como é agora o caso) ou um voto de protesto (por exemplo quando está certo o ganhador) ou, mesmo, um voto mais emocional (como nas europeias).

Há ainda os indecisos que o não são. Sabem bem onde vão votar, mas não querem dizer. Esta atitude explica-se por estes eleitores terem “vergonha” de dizer qual o partido da sua preferência. Diz-se então que esse partido está em clima de opinião negativo, ao qual chamamos "espiral de silêncio". Acontece em França com a Frente Nacional. Não acontece em Portugal, embora a "espiral de silêncio" já se tenha manifestado em Portugal com o PSD (e com o CDS), mas com outras características: não é vergonha, mas a convicção de as empresas de sondagens quererem prejudicar estes partidos. Mas tal não afecta muito os indecisos, antes provoca recusa inicial de resposta ao inquérito.

Quando a indecisão se foca sobre partidos/candidatos, acaba por ser escolhido quem se revelar o mais eficaz a responder às expectativas íntimas dos eleitores e que poderá não ter sido a primeira escolha. Os indecisos também aqui acabam por ter uma palavra a dizer.

De tudo isto, podemos concluir que, de uma maneira geral, os indecisos não provocam, em Portugal, alterações do sentido da intenção de voto captada nas sondagens. Na sua maioria acabam por se abster. O mais preocupante são os que dizem que vão votar e depois se abstêm. Como sabemos, a abstenção real é sempre superior ao somatório dos abstencionistas e dos indecisos das sondagens pré-eleitorais.

Director Geral da Intercampus