Câmara de Lisboa quer pôr mais de 300 lojas históricas da cidade “a render”

Em Outubro, a autarquia vai discutir a definição dos critérios relativos às Lojas com História, assim como “os próximos passos” da iniciativa.

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Câmara quer contrariar o fecho de lojas históricas com este novo projecto Miguel Manso

“A principal razão que vai fazer com que, no futuro, estas lojas permaneçam é elas continuarem a render, terem sustentabilidade. Vamos preservar, sim, mas isto é para as pessoas irem lá consumir e irem lá comprar, não é só para irem lá ver”, afirmou Graça Fonseca (PS).

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“A principal razão que vai fazer com que, no futuro, estas lojas permaneçam é elas continuarem a render, terem sustentabilidade. Vamos preservar, sim, mas isto é para as pessoas irem lá consumir e irem lá comprar, não é só para irem lá ver”, afirmou Graça Fonseca (PS).

A autarca falava à agência Lusa a propósito da definição dos critérios, aprovados há dias pelo conselho consultivo do projecto, que farão com que um estabelecimento emblemático da cidade receba o selo Lojas com História, no âmbito do projecto camarário aprovado em Fevereiro.

Esses critérios – que incidirão sobre um “base inicial” de “mais de 300 lojas” – dividem-se em três níveis: a actividade, o património e a identidade, segundo a responsável pelo pelouro da Economia.

“Hoje em dia, existem vários instrumentos jurídicos que permitem preservar o património. […] O mesmo não acontece com a actividade, que não é considerada património, mas se calhar devia ser”, precisou Graça Fonseca, referindo-se ao primeiro nível.

Aqui englobam-se as lojas que ainda tenham actividade de manufactura ou oficinas nos próprios estabelecimentos.

“Um segundo nível tem a ver com o património arquitectónico e com o espólio que existe” nas lojas, como por exemplo “máquinas originais”, acrescentou.

O último nível diz respeito ao “património imaterial”, ou seja, à identidade. “Por exemplo, lojas nas quais tenham acontecido eventos importantes para a cidade”, destacou a autarca.

Dentro destes níveis existem 19 subcritérios, sendo necessário preencher 10 (relativos aos três níveis) para receber a atribuição.

Graça Fonseca admitiu que há um “problema dramático” relacionado com a recente da lei das rendas, que já originou despejos na cidade, mas insistiu que o objectivo da iniciativa é, antes, dar a conhecer o “centro comercial fantástico” composto pelas lojas emblemáticas de Lisboa.

A responsável disse esperar que, do conselho consultivo das Lojas com História, surjam “sugestões de alterações legislativas importantes”, ao nível ao arrendamento e do reconhecimento da actividade, áreas sobre as quais as autarquias “estão muito limitadas do ponto de vista de instrumentos de intervenção”.

Em Outubro, a Câmara vai discutir a definição dos critérios relativos às Lojas com História, assim como “os próximos passos” da iniciativa, entre eles um guia sobre os estabelecimentos típicos da cidade e uma plataforma online com o seu historial, “para os turistas mas também para os portugueses”.

“Nós podemos ter todas as ideias do mundo, mas se estes negócios não forem financeiramente sustentáveis é difícil”, reforçou Graça Fonseca, salientando que estes estabelecimentos não podem ser apenas “lojas museu”.

O conselho consultivo do projecto é composto por personalidades como Marina Tavares Dias (jornalista), Catarina Portas (empresária), Teresa Barata Salgueiro (professora catedrática), Carla Salsinha (da União de Associações do Comércio e Serviços) e Appio Sottomayor (olisipógrafo).