S. Pedro do Sul vai requalificar balneário romano em ruínas

Balneário romano por onde passaram reis e rainhas e chegou a ser escola primária vai ser requalificado. Câmara de S. Pedro do Sul espera avançar com projecto no valor de 1,9 milhões de euros. A obra é financiada através dos fundos comunitários.

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Segundo Francisco Matos, o projecto, feito por um professor e arquitecto da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, já está pronto, “tal como estão prontos os projectos da especialidade e dos arranjos exteriores que nos dão aqui algum avanço”. “Só falta mesmo é começar a obra”, sustentou.

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Segundo Francisco Matos, o projecto, feito por um professor e arquitecto da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, já está pronto, “tal como estão prontos os projectos da especialidade e dos arranjos exteriores que nos dão aqui algum avanço”. “Só falta mesmo é começar a obra”, sustentou.

Termas fundadas pelo imperador Augusto
O historiador e professor universitário Jorge Adolfo recordou que estas são umas termas medicinais das “mais famosas” fundadas pelo imperador Augusto e com uma longa história que chega até aos nossos dias. A mais conhecida, e que deu nome à piscina de água quente, ocorreu em 1169 quando D. Afonso Henriques se deslocou às “caldas de Lafões”, onde permaneceu durante três meses, para recuperar de uma perna partida, consequência da Batalha de Badajoz. “As águas eram – e são – boas para os tratamentos do sistema respiratório, pele e ossos e, por esta razão, ao longo da idade média, foram bastante procuradas”, disse. Prova disso são as inúmeras visitas que as termas receberam de membros de várias famílias reais, entre elas D. Carlos e D. Amélia, os pais do último rei de Portugal. 

O complexo termal agora alvo de requalificação era, inicialmente, constituído por um tanque interior de água aquecida e outro, no exterior, de água fria. Foi assim edificado no primeiro século e assim se manteve até ao século XVI, altura em que D. Manuel I mandou construir, entre as duas piscinas, um edifício que servia de “hospital real a todos aqueles que fossem às Termas e precisassem de um lugar para dormir”.

Ainda segundo o professor na Escola Superior de Educação de Viseu, o balneário romano, desde a sua construção e até finais do século XIX, cumpriu sempre com a sua função de estância termal para “fins medicinais”. Deixou de cumprir essa função em 1884, quando a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul decidiu construir um moderno edifício a que chamou balneário Rainha D. Amélia. 

No século XX, o “antigo hospital” foi escola primária até à década de 70. Depois disso, todo o complexo ficou votado ao abandono e à mercê dos temporais. No local ainda se podem ver vestígios de uma piscina, capitéis, uma parede de pé direito com sete metros, característica da arquitectura romana, e colunas com inscrições. Vê-se ainda parte do edifício que depois de uma tempestade no início deste século foi abaixo e está hoje seguro por andaimes.

O abandono a que foi votado o complexo tem sido alvo de crítica, não só de historiadores, como da população em geral que gostava de ver o espaço com “outra dignidade”.

O elevado valor do investimento tem sido a razão apontada para os sucessivos adiamentos na requalificação. A última intervenção ocorreu em finais do século passado, mas apenas ao nível de escavações arqueológicas que permitiram “datar com precisão” a data de fundação.

“Demorou tempo a arrancar com esta obra porque, por um lado, era a falta de dinheiro, por outro, a falta de vontade política e depois juntar estas duas variáveis não era fácil”, admitiu o vereador Francisco Matos. “Agora conseguimos tudo”, concluiu o autarca.

As piscinas termais foram inicialmente construídas pelos romanos para servirem o pequeno povoado da região de Lafões e eram frequentadas pelas populações dos castros que existiam à volta.

Hoje, as Termas de S. Pedro do Sul são consideradas das melhores da Península Ibérica, continuam com a sua função “medicinal” e recebem, em média por ano, 17 mil aquistas.