Abrir o leque

Em Elástica, o brasileiro Jarbas Lopes pintou, tecendo, e teceu, pintando. Uma exposição livre

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Na sua primeira exposição na Galeria Baginski, em 2009, Jarbas Lopes (Rio de Janeiro, 1964) partilhou o espaço com Miguel Palma, mostrando peças associadas aCicloviaérea, projecto que resgata (desde 2001) o imaginário da bicicleta como meio de transporte e símbolo de uma relação benigna e equilibrada entre homem e máquina. Seis anos depois, na sua nova individual na galeria lisboeta, o artista brasileiro volta abordar o mesmo trabalho, exibindo a sua progressão num livro/fanzine, mas o que agora traz a Lisboa é, sobretudo, um material: o elástico. A flexibilidade e o volume desse tecido dão forma e suporte à maioria das obras de — passe a repetição — Elástico.

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Na sua primeira exposição na Galeria Baginski, em 2009, Jarbas Lopes (Rio de Janeiro, 1964) partilhou o espaço com Miguel Palma, mostrando peças associadas aCicloviaérea, projecto que resgata (desde 2001) o imaginário da bicicleta como meio de transporte e símbolo de uma relação benigna e equilibrada entre homem e máquina. Seis anos depois, na sua nova individual na galeria lisboeta, o artista brasileiro volta abordar o mesmo trabalho, exibindo a sua progressão num livro/fanzine, mas o que agora traz a Lisboa é, sobretudo, um material: o elástico. A flexibilidade e o volume desse tecido dão forma e suporte à maioria das obras de — passe a repetição — Elástico.

Com efeito, sobre as paredes estão “pinturas elásticas” de cores e dimensões variáveis, cujos padrões e tramas remetem para o acto de tecelagem. O artista entretido nessa técnica antiga é uma imagem plausível do trabalho desenvolvido no atelier, mas projectar na superfície das telas as ligações de uma rede técnica ou evocar a grelha modernista já serão leituras forçadas. O que sobressai é a memória de uma actividade solitária, dada à meditação, que as mãos e o corpo alimentaram, e a presença de um material “menor”, comum e quase sempre invisível no quotidiano. Em Elástico, as cores alegres e o apelo ao tacto aludem ao neo-concretismo, a universos artesanais, ao pensamento e à paciência. A um recolhimento que se exprime vibrante.

Jarbas Lopes começou a trabalhar com elásticos em 2010 numa exposição em Nova Iorque, na Tilton Gallery. Nessa ocasião, usou-os para criar a série Shock Pintura que solicitava uma interacção imediata com o espectador. Os visitantes podiam lançar-se sobre a pintura sem se ferirem e sem a destruir, pois o elástico amortecia o choque. Para muitos, a provocação terá sido irresistível e visitantes houve que entraram, de facto, por momentos, nas obras, antes de estas os devolverem ao exterior. Em Elástico, a interacção faz-se mais sossegada, o movimento suspende-se nas malhas do material e pede, primeiro, a intervenção do olhar. Uma pintura revela a presença de relevos sob o elástico pintado de vermelho, outra encontra-se totalmente coberta por uma trama de elástico. Revela-se assim a tridimensionalidade da pintura, tornada objecto, e do elástico, enquanto material criador de volume. A par destas dimensões, estão a cor trazida pela tinta e os pigmentos. Certas pinturas parecem reproduzir a cor original do plástico, outras permitem aos espectador entrever a utilização do pigmento no acto da” tecelagem”. Dito de outro modo, Jarbas pintou, tecendo, e teceu, pintando.

No centro da sala, estão estruturas em leque, feitas de bambu e tecido. A leveza e a transparência são qualidades que envolvem os visitantes, atraindo-os para o interior da forma que sugere, tal como o elástico, movimentos de expansão e retracção (as estruturas movem-se impelidas pela passagem dos corpos e do ar). Jarbas Lobes abre o leque ou o jogo, expressões que são caras ao seu modo de fazer, articulando um sincretismo genuíno e vivo entre a arte e a vida.

Do elástico e o do bambu para o papel. Em Revistas, uma prateleira expõe lombadas coloridas e presas em elásticos. A uma distância razoável confundem-se com a madeira, mas vistas de perto revelam-se como revistas. São feitas de páginas de jornais recolhidas e depois expostas ao sol pelo artista. Nesse processo, ganharam uma textura, uma tonalidade dourada e, enroladas e enfileiradas, aparentam uma solidez e um volume que contrastam com a fragilidade do papel. Por pouco tempo, se espectador assim o desejar: podem ser desembrulhadas, folheadas e lidas. É também esta elasticidade que anima os livros expostos. Tanto pedem para ser lidos visualmente como podem circular, nas suas páginas, para lá da galeria. Criando outras tramas.