INE pondera fim da publicação de dados provisórios do desemprego

Forte revisão em baixa da taxa de Maio acabou por colocar em cima da mesa a hipótese de haver apenas informação definitiva.

Foto
Alda Carvalho, presidente do INE, e a directora para o mercado de trabalho, Sónia Torres Rui Gaudêncio

“O custo é [mais] um mês na disponibilização da informação”, observou a presidente do INE, Alda Carvalho, depois de ter convocado a imprensa para uma conferência em que foi explicada com alguma minúcia a metodologia por trás das estatísticas e em que a responsável deflectiu praticamente todas as questões de carácter não técnico com a leitura de passagens da missão da instituição – frases como “divulgar informação estatística oficial de qualidade”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“O custo é [mais] um mês na disponibilização da informação”, observou a presidente do INE, Alda Carvalho, depois de ter convocado a imprensa para uma conferência em que foi explicada com alguma minúcia a metodologia por trás das estatísticas e em que a responsável deflectiu praticamente todas as questões de carácter não técnico com a leitura de passagens da missão da instituição – frases como “divulgar informação estatística oficial de qualidade”.

No entanto, Alda Carvalho frisou ter ouvido “vários stakeholders”, ou seja, partes interessadas em usar a informação do instituto, e afirmou que continuam a ter interesse nos dados provisórios. Isto inclui entidades públicas e privadas, que a responsável não quis especificar, mas que disse incluírem investigadores académicos e ministérios. A presidente do INE notou ainda que estes são utilizadores “conhecedores” da característica provisória da informação.

A hipótese de passar a divulgar apenas dados definitivos já tinha sido traçada na conferência de imprensa pela directora do serviço de estatísticas do mercado de trabalho, Sónia Torres. “O que poderá estar em causa é a maturidade desta sociedade para ter informação provisória”, afirmou.

Em causa está a discussão política que se seguiu à correcção dos números de Maio, que acabaram por apontar para uma descida do desemprego, quando inicialmente tinham indicado um aumento. 

O ajuste foi feito no final do mês passado, quando o INE divulgou as estatísticas do desemprego para o mês de Junho. À semelhança do que fez anteriormente, publicou também os números definitivos para o mês anterior. Nessa revisão, a maior até agora, a taxa de desemprego de Maio passou de 13,2% (o que seria a primeira subida após três meses de queda), para 12,4%, um valor inferior aos 12,8% de Abril e que é também igual à taxa provisória apresentada para Junho. 

Face às estatísticas, e quando se avizinham eleições em que o emprego será um tema quente, os partidos apressaram-se a apresentar diferentes interpretações sobre o mercado de trabalho. Numa conferência de imprensa marcada propositadamente para comentar os números do INE, o vice-presidente do PSD Marco António Costa afirmou que os dados provam que "o país está no rumo certo" e pode "ambicionar olhar para o futuro com mais esperança".

Por outro lado, a oposição apontou a redução do número de empregos e lembrou o fenómeno da emigração e das pessoas consideradas inactivas pelo INE, mas não desempregadas, por não estarem activamente à procura de emprego. Pelo meio, alguns funcionários da instituição sentiram-se beliscados na sua credibilidade e a comissão de trabalhadores emitiu um comunicado em que expressava “repúdio pelo aproveitamento político que tem sido feito da informação produzida pelo INE, pondo em causa a credibilidade e independência”.

Alda Carvalho admitiu no encontro desta sexta-feira com jornalistas que os 0,8 pontos percentuais da revisão relativa a Maio foram uma surpresa, mas rejeitou liminarmente a hipótese de um erro. “É verdade que ficámos surpreendidos com a última revisão”, reconheceu, acrescentando, no entanto, que esta “não é inédita” e que estas correcções também acontecem com o Eurostat, o gabinete de estatísticas da Comissão Europeia, que divulga dados mensais de desemprego.

Tal como já fez antes, o INE justificou com questões técnicas a discrepância entre o número provisório de Maio e o definitivo. As estatísticas publicadas a cada mês dizem respeito ao trimestre centrado nesse mês – ou seja, os números de Maio são relativos ao trimestre composto por Abril, Maio (para os quais já há dados definitivos, resultantes de inquéritos) e Junho (em que os valores são calculados por projecção). O resultado dos inquéritos de Junho acabou por ser invulgarmente diferente do previsto pelos modelos estatísticos de projecção. 

Entretanto, nesta semana, o INE divulgou as estatísticas trimestrais de desemprego (Abril a Junho), que incidem sobre um universo etário diferente e que apontam para uma taxa de 11,9%.