Diogo Moreira morreu a poucos metros de onde desaparecera

Emigrante português encontrado morto em Brighton, perto da casa onde foi visto pela última vez oito dias antes.

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O corpo de Diogo Moreira foi encontrado próximo da estação de comboios de Brighton Reuters

O corpo de Diogo Moreira possivelmente esteve sempre ali, ao longo de dias, enquanto amigos, parentes e a polícia se desdobravam numa busca desesperada. Foram dezenas de pessoas, a colar cartazes, a percorrer a cidade e a alertar, por todos os meios possíveis, para o desaparecimento do português de 29 anos, natural de Espinho, que era trabalhador num café e estudante na universidade local.

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O corpo de Diogo Moreira possivelmente esteve sempre ali, ao longo de dias, enquanto amigos, parentes e a polícia se desdobravam numa busca desesperada. Foram dezenas de pessoas, a colar cartazes, a percorrer a cidade e a alertar, por todos os meios possíveis, para o desaparecimento do português de 29 anos, natural de Espinho, que era trabalhador num café e estudante na universidade local.

Surgiram pistas, possíveis avistamentos. Mas o destino frustrou a esperança depositada em tamanho esforço. Na quarta-feira, dia 22, um corpo não identificado foi encontrado na base daquele talude, junto à linha de comboio, na estação de Brighton, eram 12h15. A polícia suspeitou que se pudesse tratar do português desaparecido, dada a proximidade do último local onde foi visto, a casa de Jovan Popovic, um amigo.

Horas depois, já na manhã desta quinta-feira, circulou uma mensagem da família, que todos prefeririam não ter lido. “A família de Diogo Moreira gostaria de agradecer a todos pelo seu esforço na sua procura. O seu corpo foi encontrado ontem em Brighton”, diz o texto publicado no Facebook. “Diogo era conhecido e estimado por todos. Uma marcha em sua homenagem será organizada na próxima semana para celebrar a vida desta pessoa maravilhosa”.

Quando foram contactados pelas autoridades, os dois irmãos de Diogo Moreira que estão em Brighton desde segunda-feira encontravam-se no restaurante Olé Olé, no centro da cidade. Estavam com amigos de Diogo, combinando novas estratégias na busca do seu paradeiro. 

Foram com a polícia para a casa de Popovic, para que fosse possível recolher impressões digitais de objectos deixados pelo irmão quando desapareceu misteriosamente, na madrugada do dia 14: a carteira, os documentos, a mochila.

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O corpo estava irreconhecível, disse a polícia. Mas seria possível  identificá-lo através das impressões digitais.

O processo de reconhecimento levou cerca de um dia para chegar a uma conclusão. O Laboratório da Polícia Científica em Portugal colaborou activamente neste trabalho. Contactado pelas autoridades britânicas, solicitou os dados de Diogo Moreira ao Instituto dos Registos e Notariado e comparou-os com os elementos enviados de Brighton. O resultado deu positivo.

A meio da tarde, a Polícia Britânica de Transportes, que está a liderar as investigações, dizia que o processo formal de identificação não estava ainda completamente concluído.

Muito antes disso, porém, outros elementos, como as roupas e os pertences que estavam nos seus bolsos, não deixaram dúvidas aos irmãos e amigos de que se tratava de Diogo.

Ninguém tem certezas sobre o que terá acontecido. O que se sabe é que Diogo Moreira tinha passado o fim-de-semana num festival em Leicester, a 260 quilómetros de Brighton, e que quando voltou não foi dormir em sua casa, mas na de Jovan Popovic. Estava “em baixo” e terá tido um ataque de pânico, segundo Joseph Ashwin, com quem Diogo dividia uma habitação.

Vítor Rodrigues, seu amigo desde os 13 anos e que também emigrou de Espinho para o Reino Unido há vários anos, conta que não notou nada de errado no comportamento de Diogo nos últimos tempos.

O que os amigos relatam é que Popovic acordou às 4h e viu que Diogo já lá não estava. Tinha saído, deixando a porta entreaberta e todos os pertences na casa.

O corpo foi encontrado na base da encosta escondida pelo muro que fica mesmo ali ao lado, atravessando a rua em frente ao pub The West Hill. Ainda se vê, no arame farpado, um pedaço de fita azul e branca com que a polícia isolou a área na quarta-feira.

Alguém instalou um pequeno vaso com flores no muro, mais adiante. E no vidro de um carro ali estacionado, ainda está afixado um dos cartazes que os amigos de Diogo espalharam pela cidade, com a sua fotografia e um pedido de colaboração a quem o tivesse avistado. Muitos cartazes ainda são vistos nas ruas de Brighton.

Diogo Moreira faria 30 anos em Setembro. Nasceu em Espinho em 1985 e vivia em Brighton há cerca de cinco anos, trabalhando num café numa artéria central da cidade, o Redroaster. Morou também em Cardiff, no País de Gales.

Em 2011, foi aprovado no concurso especial de acesso ao ensino superior, para maiores de 23 anos, na Universidade do Porto, para o curso de Ciências e Tecnologia do Ambiente. Mas foi na Universidade de Brighton que acabou por iniciar um curso superior, em Ciências Ambientais e Geologia. Tinha acabado de concluir o primeiro ano.

O corpo de Diogo Moreira não foi trasladado esta quinta-feira para Portugal. “Ainda decorrem as investigações acerca das circunstâncias em que a morte ocorreu e a sua libertação depende da ordem do Ministério Público inglês”, disse o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário. O Governo tem estado em contacto com a família. “Falei com o pai do Diogo e a nossa cônsul-geral em Londres conversou hoje [quinta-feira] de manhã lá com os irmãos”, acrescentou.

Alguns dos amigos de Diogo Moreira estavam reunidos esta quinta-feira à tarde num pub na rua St.James, perto do café Redroaster. Este encontrava-se encerrado, de luto, com flores à porta. Várias pessoas paravam para ler um cartaz com a foto de Diogo e um texto em sua homenagem, escrito pelos seus companheiros de trabalho. 

Nele, os colegas manifestam que estiveram na expectativa de o reencontrar, com um sorriso nos lábios e uma explicação qualquer sobre onde esteve esse tempo todo. Mas a realidade deixou-os “paralisados com tristeza, desgosto e incredulidade”.

Diogo Moreira era, dizem os seus companheiros, paciente, bem humorado e a sua alegria de viver era apreciada por todos. “Era impossível não gostar dele”. com Andreia Sanches e Pedro Sales Dias