Ciência Viva no Verão dá pontapé de saída na Ponte 25 de Abril

Mais de 1100 passeios, visitas e palestras que estão à espera dos participantes por todo o país, entre Julho e Setembro. Tudo gratuito. Ao fim de quase 20 anos de existência, o programa Ciência Viva de 2015 fez o seu lançamento simbólico num dos marcos da engenharia em Portugal.

Fotogaleria

O ponto de partida é a sala das amarrações, dentro de um dos pilares, por onde passam os mais de 11 mil cabos de aço que sustentam a Ponte. José Costa Nunes e Francisco Mendes Godinho são os engenheiros da Infraestruturas de Portugal que orientam os participantes, fornecendo as explicações técnicas. A visita, na última quarta-feira, marcou início oficial do programa Ciência Viva no Verão em Rede, uma iniciativa da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, à qual se associam instituições científicas, associações, Centros Ciência Viva, autarquias e empresas de todo o país.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O ponto de partida é a sala das amarrações, dentro de um dos pilares, por onde passam os mais de 11 mil cabos de aço que sustentam a Ponte. José Costa Nunes e Francisco Mendes Godinho são os engenheiros da Infraestruturas de Portugal que orientam os participantes, fornecendo as explicações técnicas. A visita, na última quarta-feira, marcou início oficial do programa Ciência Viva no Verão em Rede, uma iniciativa da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, à qual se associam instituições científicas, associações, Centros Ciência Viva, autarquias e empresas de todo o país.

Rosalia Vargas, presidente da agência Ciência Viva, criada como uma unidade do Ministério da Ciência e da Tecnologia em 1998, recorda as palavras de José Mariano Gago, então ministro da Ciência e da Tecnologia, e que morreu em Abril deste ano: “‘É preciso levar a ciência para onde estão os cidadãos, e da maneira mais simples e directa’ – foram estas as palavras que me disse o professor Mariano Gago no ano em que criámos a Ciência Viva no Verão, e hoje estamos aqui em sua homenagem.”

Dos morcegos às estrelas
A iniciativa que pretende promover a cultura científica junto da sociedade portuguesa teve a sua primeira edição em 1996, com a sessão Astronomia na Praia, realizada em diversos locais do país. Hoje são mais de 1100 acções gratuitas espalhadas por todos os distritos do país, entre 15 de Julho e 15 de Setembro, nas quais pessoas de todas as idades se podem inscrever pela Internet (em http://www.cienciaviva.pt e, para mais informações, há a Linha Verão: 218 985 050). 

As inscrições deste ano contam-se já em mais de 11 mil no dia oficial da abertura. Da astronomia à engenharia, passando pela medicina, a biologia e a geologia, os temas percorrem as diversas áreas das ciências.

As observações astronómicas, que inicialmente começaram por se fazer apenas em praias, têm hoje lugar em várias zonas do país, ao longo de toda a costa, mas passando também pelo interior que, por estar mais protegido da poluição luminosa, é um óptimo “telescópio” para observar estrelas e planetas. Freixo de Espada à Cinta é um dos locais onde decorrerá uma destas actividades – a sessão Mais perto das estrelas, a 12 de Agosto, organizada pelo Centro de Ciência Viva de Bragança.

Mais perto das estrelas vão estar também os participantes da sessão na Foz do Douro, que decorrerá no dia 5 de Agosto. A actividade é organizada pelo Planetário do Porto – Centro Ciência Viva, com o qual colabora o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. Mais cedo ainda, a 24 de Julho, decorrerá em Tavira uma observação astronómica, desta vez organizada pelo Centro Ciência Viva do Algarve.

A geologia é também uma das áreas exploradas, sendo o território português bastante fértil para estas sessões. Em Castromil, no concelho de Paredes, há uma viagem ao passado com a visita às antigas minas de ouro. Serão oito sessões, entre Julho e Setembro, que o Município de Paredes proporciona, em parceria com o Planetário do Porto. Em Évora terá lugar, a 15 de Julho e 17 de Agosto, um percurso pelo centro histórico, do núcleo romano até à mouraria ou judiaria da cidade alentejana.

Mais próxima do público vai ficar a medicina nuclear, com as sessões de 18 e 15 de Julho, organizadas pelo Centro Ciência Viva de Coimbra – Exploratório Infante D. Henrique, em parceria com Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Os participantes vão conhecer a área médica que utiliza substâncias radioactivas para diagnosticar ou tratar doenças.

Na biologia, as Noites dos morcegos, organizadas pelo Centro de Ciência Viva do Alviela, concelho de Santarém, e que se realizam entre Julho e Agosto, prometem aos participantes a observação dos mamíferos voadores e a identificação das diferentes espécies com detectores de ultra-sons. Em vários dias de Julho, Agosto e Setembro, há, em Gradil, no concelho de Mafra, uma visita ao Centro de Recuperação do Lobo Ibérico. Os visitantes poderão ficar a saber mais sobre o último grande predador da fauna portuguesa, nesta actividade organizada pelo Centro Ciência Viva do Lousal, juntamente com o Grupo Lobo – Associação para a Conservação do Lobo e do seu Ecossistema.

Na ponte com Raul Solnado
De regresso à Ponte 25 de Abril, a visita, que integra a área da engenharia, conta ainda com mais duas sessões, uma a 31 de Julho e outra a 7 de Setembro, por agora esgotadas.

Depois de subidas as íngremes escadas que dão acesso a um dos tabuleiros da ponte, os visitantes esquecem o esforço e o medo de antes, para se maravilharem com a vista sobre o rio, que dali parece interminável.

A ponte de 2,3 quilómetros é uma das maiores pontes suspensas do mundo, assemelhando-se na estrutura de cor vermelha à gémea Golden Gate em São Francisco, nos Estados Unidos. A empresa responsável pela obra foi efectivamente a mesma, a United States Steel Export Company, que, em 1960, apresentou a concurso público internacional um projecto para a sua construção. Os trabalhos iniciaram-se em 1962 e em 1966 teve lugar a inauguração.

A portagem para atravessar a ponte em 1966 era 20 escudos (10 cêntimos na moeda actual) para o condutor do veículo, e o pagamento fazia-se no sentido Lisboa – Almada, ao contrário do que é feito hoje. O facto motivou um texto humorístico do actor Raul Solnado, publicado sete meses depois da inauguração na revista Século Ilustrado.

No recorte perdido nos arquivos da PIDE pode ler-se: “Depois lá consegui chegar à entrada da ponte, onde há uma casinha que tem lá dentro um senhor fardado que está ali a pedir dinheiro para as obras da ponte. O que eu achei esquisito é que aquilo tem um letreiro que diz ‘portagem’, o que eu acho que está errado porque ‘portagem’ devia ser na ponte do Porto. Ali devia ser ‘almagem’, porque a casinha fica em Almada, ou ‘pagagem’ porque é onde se paga, ou então ‘garagem’ já que é para automóveis!”

O tabuleiro inferior, onde passa a linha ferroviária, é agora percorrido pelos participantes que, de quando em vez, têm de se encostar às grades laterais para deixar passar o comboio que une Lisboa à outra margem. Mas nem sempre foi assim. Até 1999, a ponte estava aberta apenas à circulação rodoviária, no tabuleiro superior. Com o crescente aumento do tráfego, decidiu-se concretizar a segunda parte do projecto inicial de 1966, que previa a construção do segundo tabuleiro para a circulação ferroviária.

A 30 de Julho de 1999 circulavam já comboios sobre a Ponte 25 de Abril. O novo meio de transporte veio trazer melhorias na acessibilidade a diversas regiões, tendo-se verificado também uma diminuição da quantidade de veículos que diariamente atravessavam o Tejo. Hoje circulam todos os dias cerca de 140 mil veículos e 157 comboios sobre a ponte que une Lisboa a Almada.

A iniciativa do Ciência Viva no Verão na Ponte 25 de Abril tem um percurso a pé de cerca de 1500 metros sobre a ponte. Os participantes podem deslocar-se em ambos os tabuleiros e ainda nas plataformas intermédias ao tabuleiro rodoviário e ao tabuleiro ferroviário. A visita termina do lado de Almada, onde também tem início, na sala das amarrações.

“Eu é que já descobri como é que hei-de ir a Cacilhas de borla. Vou pela ponte de Santarém, que já não se paga, gasto os 20 escudos em melões de Almeirim, venho por ali abaixo e posso chegar a Cacilhas a muito boas horas de apanhar o barco para Lisboa”, prossegue o texto de Raul Solnado. “Não estou para que me aconteça o que aconteceu a um rapaz que eu conheço. Passou a ponte para lá e agora, coitadinho, está há mais de um mês a lavar pratos num restaurante a ver se consegue dinheiro para voltar para Lisboa. Livra! A mim é que já não me apanham!”

A lavar pratos não terão de ficar os participantes do Ciência Viva no Verão, que podem usufruir gratuitamente de muitas iniciativas como esta, que prometem trazer a ciência na forma mais fácil de a aprender: pelo coração, ou de cor, como diziam os romanos.

Texto editado por Teresa Firmino