China quer chegar ao pico de emissões de CO2 antes de 2030

Compromissos apresentados à ONU prevêm reduzir em 60 a 65% as emissões de carbono por unidade do PIB nos próximos 15 anos.

Foto
Para chegar aos seus objectivos, a China aposta em medidas para controlar o consumo de carvão AFP

A China é o 41º primeiro país a submeter o documento requerido pela ONU a todas as nações do mundo até Outubro, com a contribuição que cada uma está disposta a dar para travar o aquecimento global. Dos grandes emissores de CO2, também já o fizeram os 28 Estados-membros da União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A China é o 41º primeiro país a submeter o documento requerido pela ONU a todas as nações do mundo até Outubro, com a contribuição que cada uma está disposta a dar para travar o aquecimento global. Dos grandes emissores de CO2, também já o fizeram os 28 Estados-membros da União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá.

Aguardada com ansiedade, a contribuição da China tem menos novidades naquilo que promete, do que na explicação de como o irá fazer. No ano passado, numa declaração conjunta com os Estados Unidos, o país já tinha anunciado que pretendia atingir o seu valor máximo de emissões em torno de 2030, começando a reduzi-lo a partir daí.

No documento agora entregue à ONU, a China volta a referir o mesmo, mas diz que fará “os melhores esforços para atingir o pico [de emissões] mais cedo”. Um estudo recente de investigadores da London School of Economics sugere que, com as tendências actuais, a China está no caminho para começar a reduzir as suas emissões já a partir de 2025.

Qual será este pico, em valores absolutos de emissões, este é um dado que não consta dos compromissos chineses.

Contrariamente à União Europeia e aos Estados Unidos, que fixaram metas de redução de emissões até 2030, o documento chinês assume apenas uma meta de intensidade carbónica – ou seja, promete reduzir a quantidade de CO2 lançada por cada unidade de riqueza produzida.

Em 2009, o país já tinha garantido que diminuiria esta intensidade em 40 a 45% até 2020. Até 2014, já tinha alcançado 34%, segundo o documento entregue à ONU. Para 2030, a nova meta agora é de 60 a 65%, em relação a 2005.

A quota de 20% de energia não fóssil até 2030 também foi renovada. Neste momento, está em 11%. E as florestas serão reforçadas com mais 4,5 mil milhões de metros cúbicos de árvores até à mesma data.

Para chegar aos seus objectivos, a China aposta em medidas para controlar o consumo de carvão, aumentar a eficiência das centrais térmicas e ampliar para 10%, até 2020, a participação do gás natural no consumo primário de energia. O plano chinês também prevê a construção de mais barragens, garantindo uma adequada “protecção ambiental e ecológica e realojamento de populações”.

A aposta no nuclear – “de uma forma eficiente e segura” – é reiterada, assim como o impulso à energia eólica e solar. Até 2020, prevê-se duplicar a capacidade em parques eólicos, dos 98 gigawatts (GW) actuais para 200 GW. E quase quadruplicar a potência instalada solar, de 28 para 100 GW.

Outros pontos dos compromissos submetidos à ONU incluem a meta de um edifício “verde” em cada dois construídos e pelo menos 30% de deslocações em transportes públicos nas cidades grandes e médias a partir de 2020.

A China quer ainda eliminar ou controlar progressivamente o uso de alguns gases fluorados – como o HCFC-22 e o HFC-23, que têm um potencial de aquecimento da atmosfera mais de mil vezes superior ao do CO2.

Os compromissos que estão a ser apresentados à ONU serão centrais para um novo tratado internacional que deverá ser aprovado numa cimeira climática em Paris, em Dezembro.

Com a China incluída, os países que já apresentaram os seus planos somam mais da metade das emissões de CO2 do mundo. Mas o que está em cima da mesa não será suficiente para conter o aumento da temperatura global a dois graus Celsius até ao fim do século – limite acima do qual temem-se consequências catastróficas. Segundo o New Climate Institute, uma organização não-governamental alemã, sem metas mais exigentes, os termómetros podem subir 3,1 graus.

“A China sempre esteve na defensiva em relação às alterações climáticas. Mas o anúncio de hoje é um primeiro passo para um papel mais activo”, avalia Li Shuo, da delegação chinesa da organização ambientalista Greenpeace. “Para um sucesso em Paris, porém, todos os actores – incluindo a China e os Estados Unidos – têm de elevar o jogo”, completa.

Os planos da China foram anunciados no dia em que o primeiro-ministro Li Keqiang reuniu-se, em Paris, como Presidente francês François Hollande, anfitrião da conferência climática de Dezembro próximo.