A Anita e a Lara Seixo Rodrigues

“Não sei estar parada e sou seguidora do lema ‘ama o que fazes e faz o que amas’.” Ela não quer ser artista, mas as latas fazem parte da sua vida

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Ana Morais

Lara Seixo Rodrigues, colheita de 79 e originalmente da Covilhã. Comecemos por aí, pela Covilhã. Quem conhece a geografia entende como a Lara cresceu entre culturas, costumes e línguas — a própria acredita que é uma justificação para a sua infindável curiosidade.

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Lara Seixo Rodrigues, colheita de 79 e originalmente da Covilhã. Comecemos por aí, pela Covilhã. Quem conhece a geografia entende como a Lara cresceu entre culturas, costumes e línguas — a própria acredita que é uma justificação para a sua infindável curiosidade.

Em Lisboa, estudou Arquitectura, que exerce desde 2004 em atelier próprio, tendo sido já premiada na área. Apesar de considerar a actividade apaixonante, os períodos longos de duração dos processos e uma grande incapacidade de estar parada, levaram-na à criação de outros projectos que a apaixonavam. Conversamos num sítio carregado de memórias (memórias da licenciatura, dos churrascos e do graffiti).

A Lara esteve presente no primeiro Wall of Fame de Graffiti, em Belém. De observadora a parte activa tudo aconteceu de uma forma muito natural. Perdeu a timidez e envolveu-se de maneira mais formal ao participar numa oficina de “street art” integrada na segunda edição (2007) do Festival CCB Fora de Si, e integra a Associação ACA - Azáfama Citadina Associação, como responsável pelo festival CRONO (2010), primeiro evento de dimensão internacional em Lisboa.

Os verões em Espanha a explorar linhas do comboio com o irmão, numa altura em que o movimento de graffiti e street art em Portugal era praticamente inexistente, levou-a a associar a sua paixão ao orgulho em ser serrana. Surge assim em 2011 o WOOL - Festival de Arte Urbana da Covilhã, aproveitando “a fisionomia da cidade” e as “muitas paredes” disponíveis. E começa a desenhar-se um sem número de projectos, como o Lata 65 — Workshop de Arte Urbana para Idosos, vencedor do Orçamento Participativo de Lisboa 2013/14 ("é super gratificante ver a transformação de quem participa"), o projecto Tour Paris 13 e o Djerbahood.

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Esta paixão pela Arte Urbana é igualmente manifestada nas várias apresentações da especialidade e na curadoria de diversas acções culturais e exposições, como é exemplo a Garagem das Artes no Fusing Culture Experience 2014. Este ano teve também a seu cargo a curadoria e produção do evento Espigar nas Gentes, que apresentou recentemente na área de São Bento, no Porto. Este projecto envolveu ilustradores que conheceram na primeira pessoa histórias de moradores e trabalhadores da área de São Bento e representaram as mesmas nas suas ilustrações. O documentário deste evento será apresentado este sábado (27 Junho, pelas 17h).

"Não sei estar parada"

A Associação de Intervenção Criativa sem fins lucrativos Mistaker Maker surge como forma a gerir da melhor forma possível todas estas facetas. Fundada pela Lara com o objectivo de fomentar activamente e criativamente a produção e promoção de exercícios de Arte Contemporânea em todas as suas (novas) formas de expressão; estimular informalmente a integração de públicos heterogéneos, visando um reforço de massa crítica e a criação, não somente de novos produtos artísticos, como também de crescente valor económico, social e cultural. “Resumindo, não sei estar parada e sou seguidora do lema ‘ama o que fazes e faz o que amas’.”

Considera-se uma fazedora e destaca os “falhanços” como os melhores mestres do seu percurso. Estar a trabalhar numa área que ainda é considerada “nova” em Portugal é contrariar preconceitos ligados a curadores e galerias. Ser mulher e sem pretensões a artista são outros obstáculos que aprendeu a contornar.

A Lara é um exemplo de que vale a pena lutar pelos nossos sonhos e paixões. A persistência apesar de às vezes dolorosa premeia-nos com o que de melhor podemos retirar da vida: realização pessoal e a certeza de que fizemos a diferença. “Durante estes três anos, a balança foi mudando progressivamente: menos Arquitectura, mais arte urbana... Percebi que esta paixão pela leitura da cidade, de uma comunidade, de um determinado local, se transportou completamente para o trabalho com a Arte Urbana”.

No início do ano o Wool integrou a galeria online Google Art Project – Street Art –, disponibilizando aos utilizadores de várias plataformas destaque e informação em detalhe sobre 147 intervenções (43 artistas nacionais entre os quais Pantónio, Add Fuel e Bordalo II, e 16 artistas internacionais com acções e peças em seis cidades portuguesas e duas estrangeiras).

Brevemente podemos contar com a 2.ª edição do Muraliza – Festival de Arte Mural em Cascais que se realizará nos próximos dias 29 de Junho a 6 de Julho, com artistas nacionais e internacionais confirmados - Millo (IT), Samina, Draw, Add Fuel, Carmelino, Bosoletti (ARG), Third e Mário Belém. A Mistaker Maker é também responsável pela curadoria e produção do grupo de artistas que criou a imagem da edição 2015 do NOS Alive e durante o qual irão realizar uma acção de live-painting. Ainda em Julho vamos poder encontrar a Lara em três aldeias próximas de Montemor-o-Velho com o Lata 65. No segredo dos deuses fica um projecto que está a desenvolver com um amigo, que esperam poder divulgar em Setembro. Nós cá permaneceremos atentos.