Arcebispo de Braga desafia partidos a beberem inspiração na encíclica papal

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D. Jorge Ortiga criticou os que "não ousam sujar as mãos com a vida real das pessoas" Daniel Rocha

"Os decisores políticos não podem, nem devem, ignorar esta encíclica", referiu Jorge Ortiga, em conferência de imprensa, nesta sexta-feira.

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"Os decisores políticos não podem, nem devem, ignorar esta encíclica", referiu Jorge Ortiga, em conferência de imprensa, nesta sexta-feira.

Lembrando que os partidos em Portugal estão actualmente em "fase de preparação" dos seus programas eleitorais para as legislativas, Jorge Ortiga defendeu que a encíclica papal Laudato si ("Louvado sejas"), publicada na quinta-feira, poderá ser uma boa fonte de inspiração.

Na encíclica em que propõe uma revolução social, ambiental e económica, o Papa Francisco defende que os países ricos devem sacrificar algum do seu crescimento e, assim, libertar recursos necessários para os países mais pobres. "Chegou a hora de aceitar crescer menos em algumas partes do mundo, disponibilizando recursos para outras partes poderem crescer de forma saudável", escreveu.

Cobrindo temas que vão do ambiente ao desemprego, Francisco apela às potências mundiais para salvarem o planeta, considerando que o consumismo ameaça destruir a Terra – transformada em "depósito de porcaria" – e apontando o egoísmo económico e social das nações mais ricas.

Em conferência de imprensa, o arcebispo de Braga manifestou "grande alegria" com a nova encíclica, sublinhando que "é de uma actualidade invulgar" e defendendo que "é urgente criar uma nova mentalidade" para salvar o planeta Terra.

"O cuidar desta nossa casa comum tem de começar hoje, para que amanhã não seja já demasiado tarde", alertou Jorge Ortiga.

Por isso, o prelado defendeu que a encíclica deve ser lida "por todos" e os seus "ensinamentos" postos em prática pelos diversos actores da sociedade, desde as famílias às escolas, passando pelas autarquias e pelos governos.

Para Isabel Varanda, docente da Faculdade de Teologia de Braga, a nova encíclica "converge com a agenda do planeta" e assume-se como "um estupendo presente que o Papa acaba de oferecer ao mundo". "A natureza agradece", referiu, adiantando ainda tratar-se de "uma encíclica inconveniente para muitos aprendizes de feiticeiros".

Aludindo a uma "lição de sapiência ecológica", com "ensinamentos dirigidos as todas as criaturas do planeta", Isabel Varanda classificou ainda a encíclica como "uma convocação mundial a um sobressalto". "E este sobressalto tem de acontecer, já", rematou.