Só agricultura e pescas escapam ao aumento do crédito malparado nas empresas

Empréstimos vencidos na construção e imobiliário ultrapassam os 7400 milhões de euros. Incumprimento nos particulares atinge novo recorde.

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Mais de metade dos empréstimos vencidos (55%) são de empresas de construção e imobiliário Fernando Veludo/NFACTOS

O problema do malparado é muito diferente de sector para sector, mas a tendência de agravamento foi comum aos 12 ramos de actividade em que o banco central divide o tecido empresarial. O crédito malparado aumentou na restauração e hotelaria; no comércio e reparação de veículos; na electricidade, gás, água, saneamento e gestão resíduos; na construção; nas actividades imobiliárias; nos transportes e armazenagem; na indústria extractiva; na indústria transformadora; nas actividades de informação e comunicação; nas sociedades SGPS não-financeiras; nas empresas de consultadoria; e nos sectores da educação, saúde e serviços sociais.

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O problema do malparado é muito diferente de sector para sector, mas a tendência de agravamento foi comum aos 12 ramos de actividade em que o banco central divide o tecido empresarial. O crédito malparado aumentou na restauração e hotelaria; no comércio e reparação de veículos; na electricidade, gás, água, saneamento e gestão resíduos; na construção; nas actividades imobiliárias; nos transportes e armazenagem; na indústria extractiva; na indústria transformadora; nas actividades de informação e comunicação; nas sociedades SGPS não-financeiras; nas empresas de consultadoria; e nos sectores da educação, saúde e serviços sociais.

Ao todo, os empréstimos em incumprimento ascendiam em Abril a 13.385 milhões de euros, o equivalente a 15,7% dos 85.333 milhões de euros de empréstimos que constam no balanço dos bancos e outras instituições financeiras.

Na construção e no sector imobiliário estão 55% de todos os créditos vencidos no tecido empresarial: 7420 milhões de euros. A construção, onde encerraram mais de 39.600 empresas de 2010 a 2014, continua a ser o sector mais afectado. Em Abril, quase um terço do financiamento era crédito malparado (de 14.807 milhões de euros emprestados, 4594 milhões já tinham vencido, ou seja, 31%). Esta percentagem tem sofrido pequenas variações mensais, mas a trajectória dos últimos anos é de agravamento progressivo, até se registar agora um novo máximo. Um ano antes, o peso do malparado na construção era de 25,9%, em Abril de 2013 estava em 21,7%, valores que contrastam com os 15,5% de 2012 e os 8,6% de 2011, no mês imediatamente anterior à chegada da troika.

No sector imobiliário, o malparado também atingiu um novo máximo, chegando aos 24,4% (2826 milhões de 11.595 milhões de euros). O comércio é o sector com a terceira percentagem mais elevada, nos 15,6%, seguindo-se as indústrias extractivas, com 13,2%, e a restauração e hotelaria, com 12,6%. Na agricultura, produção animal e pescas – o único sector onde houve uma queda no incumprimento –, a percentagem é de 5,6%. Dos 2126 milhões de euros concedidos a empresas deste sector, 119 milhões são crédito malparado.

As estatísticas que o Banco de Portugal actualizou apenas dizem respeito ao valor dos créditos, não incluindo o número de sociedades em incumprimento.

Não é apenas nas empresas que se fazem sentir as dificuldades no pagamento dos créditos. O incumprimento dos particulares está a subir desde o início do ano e bateu um novo recorde em Abril, ao representar 4,4% dos empréstimos desse segmento. São 5435 milhões de euros, de um total de 122.298 milhões registados no balanço das instituições financeiras.

Os dados do Banco de Portugal mostram um novo agravamento do malparado no crédito à habitação. De 100.462 milhões de euros concedidos, 2,52% correspondem a empréstimos que não foram pagos dentro do prazo, o equivalente a 2532 milhões.

Nos empréstimos ao consumo, onde a tendência é há muito superior, o incumprimento equivale a 10,89%. Esta percentagem caiu em Abril, apesar de o valor absoluto dos créditos ter aumentado. De 11.999 milhões registados como empréstimos para este fim, 1307 milhões estavam por regularizar depois de ter terminado o prazo de pagamento. Ao todo, entre empresas e particulares, havia em Abril 18.820 milhões de empréstimos vencidos.