Papa em Sarajevo contra o "clima de guerra" que se vive no mundo

A Bósnia “mostra ao mundo inteiro que é possível a colaboração entre diversas etnias e religiões".

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Perante 65 mil fiéis, reunidos no estádio olímpico da cidade, o papa argentino disse sentir “um clima de guerra” no mundo “atiçado deliberadamente por aqueles que procuram o confronto entre culturas e civilizações”.

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Perante 65 mil fiéis, reunidos no estádio olímpico da cidade, o papa argentino disse sentir “um clima de guerra” no mundo “atiçado deliberadamente por aqueles que procuram o confronto entre culturas e civilizações”.

Neste contexto, disse Francisco, “Sarajevo e a Bósnia revestem-se de um significado particular para a Europa e para o mundo inteiro”.

A coexistência de três comunidades, os sérvios ortodoxos, os muçulmanos bósnios e os croatas católicos “mostra ao mundo inteiro que é possível a colaboração entre diversas etnias e religiões com vista ao bem comum”.

Mas é preciso fazer mais, particularmente na Bósnia, continuou o Papa quando, antes da missa, tinha ao seu lado o Presidente bósnio em exercício, Mladen Ivanic. Este é o representante sérvio na presidência tripartida (sérvia, croata e muçulmana) do país. A igualdade de todos os cidadãos perante a lei e na sua aplicação é “indispensável”, avisou Francisco.

Ivanic afirmou, por seu lado, que as autoridades bósnias multiétnicas estão “dispostas a trabalhar para a redução dos nacionalismos” e pediu um “apoio total” ao sumo pontífice para permitir que a Bósnia e os outros países dos Balcãs possam aderir à União Europeia.

Francisco respondeu-lhe proclamando que a Bósnia é “parte integrante da Europa” e pedindo à comunidade internacional, e à União Europeia em particular, que ajudem aquele país no seu percurso europeu. Essa colaboração é “fundamental”, disse.

“Sarajevo, conhecida como a ‘Jerusalém do Ocidente’, é uma cidade que sofreu muito na História e que está no bom caminho da paz. É por isso que eu faço esta viagem, que é um sinal de paz, uma oração pela paz”, disse o Papa Francisco aos jornalistas que o acompanharam no avião que o levou à Bósnia.

A guerra da Bósnia (1992-95) fez quase 100 mil mortos e mais de dois milhões de deslocados e refugiados, ou seja, mais de metade da população do país.

Vinte anos depois dos acordos de Dayton (EUA), que puseram fim à guerra, a Bósnia está em paz, mas não conseguiu alcançar uma verdadeira reconciliação. “A Bósnia precisa da mensagem de paz do Papa numa altura em que a desconfiança permanece entre as comunidades do país”, disse Katarina Dzrek, uma croata da Bósnia que foi ouvir o Papa.

Neste país de 3,8 milhões de habitantes, os muçulmanos representam cerca de 40% da população. Seguem-se os ortodoxos sérvios (31%) e os católicos, quase todos eles croatas (10%). Os judeus são uma pequena minoria.