Pode Anish Kapoor instalar uma vagina gigante nos jardins de Versalhes?

Descrição da obra pelo artista como "a vagina da rainha" não caiu bem em França.

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Instalação está virada para o Palácio de Versalhes DR/Kapoor Studio

A instalação já por si estava a levantar algumas dúvidas, desde logo por causa do nome, Dirty Corner, e depois por se assemelhar a uma vagina. Mas se dúvidas existiam, Anish Kapoor, nascido em Bombaim, na Índia, em 1954, mas radicado em Londres desde o princípio da década de 1970, deixou claro: é mesmo isso, uma vagina. Numa entrevista esta semana ao jornal francês Le Journal Du Dimanche, o artista conhecido pela sua exuberância descreveu a sua obra como “a vagina da rainha que tomou o poder”. E foi aí que a discussão disparou. É Anish Kapoor um génio provocador ou cometeu um deslize?

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A instalação já por si estava a levantar algumas dúvidas, desde logo por causa do nome, Dirty Corner, e depois por se assemelhar a uma vagina. Mas se dúvidas existiam, Anish Kapoor, nascido em Bombaim, na Índia, em 1954, mas radicado em Londres desde o princípio da década de 1970, deixou claro: é mesmo isso, uma vagina. Numa entrevista esta semana ao jornal francês Le Journal Du Dimanche, o artista conhecido pela sua exuberância descreveu a sua obra como “a vagina da rainha que tomou o poder”. E foi aí que a discussão disparou. É Anish Kapoor um génio provocador ou cometeu um deslize?

Dirty Corner é uma escultura de aço em forma de funil, ou de vagina, se quisermos, no meio de várias pedras partidas, virada exactamente para o Palácio de Versalhes que desde 2008 vem convidando artistas contemporâneos a dialogarem com os seus mestres do barroco. Estas exposições são das mais importantes do calendário mundial das artes e também das mais procuradas. Versalhes, só por si, tem cinco milhões de visitantes anuais.

François de Mazières, autarca de Versalhes e deputado dos Republicanos, partido de Nicolas Sarkozy, reagiu à controvérsia no Twitter, defendendo que o artista cometeu um erro. Na imprensa francesa, as opiniões dividem-se.  Le Figaro aplaude o trabalho de Anish Kapoor, que tem ficado conhecido nos últimos anos sobretudo com as suas obras de escala monumental. “Qualquer polémica só vai trazer mais visitantes”, lê-se no diário sobre a exposição que ficará patente ao público até Outubro. A revista Les Inrocks, por sua vez, vê em Dirty Corner um simbolismo do poder e da identidade francesa de Versalhes, onde viveu a corte de Luís XIV.

Na entrevista ao Le Journal Du Dimanche, Kapoor elogiu a organização da exposição: são “bravos e corajosos” porque o seu trabalho é uma “provocação”, admitiu.

Anish Kapoor é o autor de obras como Marsyas, a misteriosa membrana em PVC com que ocupou os 150 metros de comprimento do Turbine Hall da Tate, em 2003, a ArcelorMittal Orbit, a peça de mais de 100 metros de altura concebida para o Parque Olímpico de Queen Elizabeth, em Londres, tida como a maior escultura do Reino Unido, ou Leviathan, o enorme balão que em 2011 instalou no Grand Palais, em Paris.

O artista sucede a Lee Ufan (2014), Giuseppe Penone (2013), Joana Vasconcelos (2012), Bernar Venet (2011), Takashi Murakami (2010), Xavier Veilhan (2009) e Jeff Koons (2008). Joana Vasconcelos é até hoje a única mulher a constar desta lista. No seu ano, também a artista plástica portuguesa viu uma obra sua ser alvo de crítica – A Noiva, o lustre com milhares de tampões, foi recusada pela organização com a justificação de que não se adequava ao espaço. A peça foi exposta paralelamente no Centquatre, em Paris.