UTAD homenageia dois pioneiros do “Douro Contemporâneo”

João Nicolau de Almeida e Luis Braga da Cruz recebem doutoramento honoris causa pelo seu contributo na modernização e desenvolvimento do Douro.

Foto
As margens do Douro e os casarios são cenários de filmes românticos com belas actrizes e homens de bigodes fartos Paulo Pimenta

Como é hábito, os doutoramentos honoris causa são atribuídos a personalidades razoavelmente incontroversas, mas desta vez a decisão da academia transmontana foi talvez ainda mais fácil do que o habitual. No seu discurso de abertura da cerimónia, Fontainhas Fernandes, reitor da UTAD, citou António Barreto, lembrando que “o Douro mudou mais nos últimos 20 anos dos que nos 200 anos anteriores”, e explicou que nesse processo de modernização João Nicolau de Almeida e Luis Braga da Cruz tiveram um papel fundamental.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Como é hábito, os doutoramentos honoris causa são atribuídos a personalidades razoavelmente incontroversas, mas desta vez a decisão da academia transmontana foi talvez ainda mais fácil do que o habitual. No seu discurso de abertura da cerimónia, Fontainhas Fernandes, reitor da UTAD, citou António Barreto, lembrando que “o Douro mudou mais nos últimos 20 anos dos que nos 200 anos anteriores”, e explicou que nesse processo de modernização João Nicolau de Almeida e Luis Braga da Cruz tiveram um papel fundamental.

A abertura do Douro à ciência da vinha e do vinho, que quando João Nicolau de Almeida regressou da sua licenciatura em Bordéus, no final dos anos de 1970 ainda se pautava por “práticas semi-medievais” teve no enólogo da Ramos Pinto um pioneiro – os seus estudos na selecção das melhores castas, nas novas formas de desenho da paisagem ou nas experiências de vinificação são hoje reconhecidos como um ponto de partida que levou à melhoria da qualidade do vinho do Porto e ao nascimento do vinho do Douro. E a gestão de Braga da Cruz de planos como o do PDRITM, um projecto financiado pelo Banco Mundial em 1986, na navegabilidade do Douro ou na candidatura do vale a Património Mundial da Unesco foram considerados pela UTAD como uma “matriz” para a abertura da região ao país e ao mundo, na opinião de Fontainhas Fernandes.

Na sua apologia a João Nicolau de Almeida, Bianchi de Aguiar considerou que a qualidade de vinhos como os Duas Quintas ou os prémios internacionais que recebeu (considerado o homem do ano já em 1998 pela revista Wine and Spirits) têm o valor dos artigos científicos; e Valente de Oliveira, o padrinho de Braga da Cruz, destacou a “paixão” que o engenheiro tem tem pelo Douro e por Trás-os-Montes, o que o levou nos seus 14 anos de presidência da CCDRN a apostar na criação de uma estratégia de desenvolvimento que hoje começa a dar frutos. O momento de maior divergência na cerimónia aconteceu quando, no seu discurso, Braga da Cruz revelou ter sido o autor do projecto da barragem de Foz Coâ, que ameaçava inundar a Quinta de Ervamoira, o lugar onde João Nicolau de Almeida aplicou o resultado das suas investigações pioneiras.

Depois da homenagem, a UTAD organizou um encontro com mais de 100 enólogos formados na sua escola e que hoje se encontram a trabalhar um pouco por todo o país. Depois de anos de distanciamento em relação aos actores da região, o novo reitor e o presidente do Conselho-Geral, Silva Peneda, apostam agora em recuperar a dinâmica inicial da UTAD e em abrir os seus cursos à região e ao país. Uma carta de vinhos dos enólogos da casa será, de acordo com Bianchi de Aguiar, mais um avanço no projecto que pretende demonstrar que o primeiro curso de enologia do país foi fundamental para a revolução dos seus vinhos nos últimos 30 anos.