Sensor de papel detecta bactérias produtoras de electricidade

O dispositivo, que recorre a nanopartículas que mudam de cor em contacto com as bactérias, foi desenvolvido por uma equipa portuguesa.

Foto
Em presença de certas bactérias, o sensor de papel torna-se azul DR

O sensor de papel funciona à maneira de um teste de gravidez. Em contacto com a bactéria, nanopartículas de trióxido de tungsténio, que foram adicionadas ao papel, mudam de cor – de esbranquiçadas passam a azuis.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O sensor de papel funciona à maneira de um teste de gravidez. Em contacto com a bactéria, nanopartículas de trióxido de tungsténio, que foram adicionadas ao papel, mudam de cor – de esbranquiçadas passam a azuis.

A importância deste tipo de bactérias, ditas “electroquimicamente activas”, reside na capacidade que têm de "transferir electrões para o exterior” das suas células, podendo assim "ser utilizadas para a produção de electricidade", explicou à Lusa Elvira Fortunato, que dirige o Centro de Investigação de Materiais/CENIMAT e o Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação/I3N.

Segundo a investigadora, bactérias como a Geobacter sulfurreducens podem ainda ser usadas "no tratamento de águas poluídas", uma vez que "conseguem reduzir a matéria orgânica" presente nos efluentes. O sensor de papel fornece assim um teste rápido, simples e barato para a detecção destas bactérias.

Carlos Salgueiro, que lidera a equipa de investigação da Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas/UCIBIO, adiantou que o sensor de papel foi testado com êxito num modelo de bactéria, mas que a ideia é usá-lo com outras bactérias do mesmo tipo, mas que possam ser mais eficientes do que Geobacter sulfurreducens na produção de energia.

Numa fase mais avançada da experiência, os cientistas tencionam isolar as bactérias no seu habitat natural, como água ou lamas, e utilizá-las no tratamento de esgotos, na descontaminação do solo e água e na produção combustível para baterias.

"Actualmente, é consensual que a produção contínua de energia a partir de matéria fóssil conduzirá ao esgotamento destes recursos. A procura de formas alternativas de produção de energia a partir de fontes renováveis e limpas é cada vez mais importante", assinalou o cientista à Lusa, apontando o recurso "a células de combustível microbianas, nas quais os microrganismos crescem produzindo corrente eléctrica".