Uma sequóia que afinal não é gigante

A Câmara do Porto decidiu substituir uma sequóia gigante que morrera, no Carregal, por outro exemplar da mesma espécie. Mas o que lá plantou é outra árvore.

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Fernando Veludo/nfactos

Paulo Ventura Araújo considera que “a Câmara Municipal do Porto não trata as árvores com especial carinho, sendo bem mais lesta a abatê-las (por razões que nem sempre se entendem) do que a substituí-las. As tílias que há três ou quatro anos foram cortadas à frente dos jardins do Palácio de Cristal nunca foram substituídas”, assinala, acrescentando que, pelo contrário, ali como noutros locais, encheram-se as caldeiras com paralelipípedos, cimento ou alcatrão. Ou seja, “desapareceram não só a árvore mas o próprio lugar da árvore”, deplora. E, na sua perspectiva, o modo como a CMP lida com as suas árvores em nada se alterou com a mudança do poder político.

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Paulo Ventura Araújo considera que “a Câmara Municipal do Porto não trata as árvores com especial carinho, sendo bem mais lesta a abatê-las (por razões que nem sempre se entendem) do que a substituí-las. As tílias que há três ou quatro anos foram cortadas à frente dos jardins do Palácio de Cristal nunca foram substituídas”, assinala, acrescentando que, pelo contrário, ali como noutros locais, encheram-se as caldeiras com paralelipípedos, cimento ou alcatrão. Ou seja, “desapareceram não só a árvore mas o próprio lugar da árvore”, deplora. E, na sua perspectiva, o modo como a CMP lida com as suas árvores em nada se alterou com a mudança do poder político.

A propósito da promessa de substituição da sequóia-gigante que morrera, no Jardim do Carregal, o que o académico nota na autarquia é uma preocupação mais centrada em comunicar o que se faz do que em melhorar os serviços da área dos jardins. E acusa inclusive a imprensa - o PÚBLICO, por exemplo, fez várias notícias sobre esta árvore e as iniciativas em torno dela - de colaborar neste “desvelo encenado pela árvore ou pela natureza”. E, neste caso, assinala, o que aconteceu foi um “dislate”, uma história “burlesca” em torno de uma velha árvore, importante como qualquer árvore mas que, que, garante, não estava classificada, como afirmou o vereador numa reunião de Câmara.

Para uma sequóia-gigante com 114 anos, a do Carregal deixava até um pouco a desejar. E Paulo Ventura Araújo já tinha escrito, em 2004, que lhe parecia que esta “é uma árvore que não resulta muito bem em meio urbano ou no nosso clima. São das maiores do planeta e os exemplares que cá temos são muito mirrados. Elas não estão bem, as condições não são as melhores”, argumentava. Mas, após a morte deste que era um dos três únicos exemplares desta espécie existentes na cidade, a câmara do Porto prometeu substituí-la e fê-lo em Março, com alguma pompa. O que ninguém reparou, nem a ninguém foi dito, é que estava a ser plantada uma vulgar sequóia sempre-verde da qual, só no Carregal, existem uns vinte espécimes.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete e imprensa da autarquia assume que, de facto, nada se disse à imprensa, mas sabia-se que o foi plantado em Março é uma Sequoia sempervirens, e não a prometida Sequoiadendron giganteum. A mesma fonte explicou, agora, ao PÚBLICO, que na véspera da iniciativa os técnicos do horto municipal perceberam que a sequóia-gigante que iam transplantar “não estava em bom estado”. Mas, acrescentou, havendo actividades culturais combinadas com outras entidades, decidiu-se avançar na mesma, plantando no local uma “sempre-verde”, enquanto se encomendava um novo exemplar da árvore prometida. Esta, explicou, já chegou, mas só lá vai ser colocada no Outono. Que, afinal, e segundo o que agora é dito, é  “a melhor época para o fazer”.