Resultados de domingo abrem crise no PS-Madeira

Congresso deverá realizar-se em Maio. Dois nomes surgem como potenciais candidatos a sucessores de Victor Freitas. Mas as divisões continuam.

Foto
O PS-Madeira tem somado um rol de queda de líderes ao longo dos últimos anos Rui Gaudêncio (arquivo)

Uma coligação “contra-natura”, rejeitada pela maioria do eleitorado, que se revê na matriz socialista. “Quem vota PS não vota PTP”, uma frase ouvida vezes sem conta durante a campanha. Portanto, nenhuma surpresa. A derrota era previsível. Neste momento, os bastidores andam muito agitados, embora as grandes decisões sejam empurradas para o período pós-Páscoa. “Precisamos de ter calma. Não há pressa. A situação exige reflexão e discussão interna. Não falarei mais sobre este assunto nos próximos dias”, disse ao PÚBLICO Carlos Pereira, economista e chefe do grupo parlamentar. O homem que pode transformar-se no novo líder é um apoiante de António Costa e alertou o líder nacional, num encontro em Lisboa, para o desastre que  seria uma candidatura liderada por Victor Freitas, um apoiante de António José Seguro.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma coligação “contra-natura”, rejeitada pela maioria do eleitorado, que se revê na matriz socialista. “Quem vota PS não vota PTP”, uma frase ouvida vezes sem conta durante a campanha. Portanto, nenhuma surpresa. A derrota era previsível. Neste momento, os bastidores andam muito agitados, embora as grandes decisões sejam empurradas para o período pós-Páscoa. “Precisamos de ter calma. Não há pressa. A situação exige reflexão e discussão interna. Não falarei mais sobre este assunto nos próximos dias”, disse ao PÚBLICO Carlos Pereira, economista e chefe do grupo parlamentar. O homem que pode transformar-se no novo líder é um apoiante de António Costa e alertou o líder nacional, num encontro em Lisboa, para o desastre que  seria uma candidatura liderada por Victor Freitas, um apoiante de António José Seguro.

O PÚBLICO apurou que Carlos Pereira, o número dois da lista, eleito num total de seis deputados (5 PS e 1 PTP), só avançará se conseguir criar uma vaga de fundo, um consenso generalizado, caso contrário estará indisponível para disputar um congresso que se prevê para Maio, após decisão da comissão regional, órgão deliberativo máximo entre congressos, que ainda não se reuniu. E as divisões internas continuam. Bernardo Trindade, ex-secretário de Estado do Turismo do Governo de José Sócrates, apoiante de António Costa, vê com bons olhos a lançamento de Emanuel Câmara, actual presidente da autarquia socialista do Porto Moniz. O ex-árbitro de futebol estará disposto a assumir. Isto porque “não gosta” de Carlos Pereira, avançou ao PÚBLICO fonte socialista. Se este for o caminho, Carlos Pereira não avança.

A hipótese de Bernardo Trindade ser candidato está posta de parte até porque, neste momento, tem a sua vida familiar e profissional sediada em Lisboa. O único cargo que ainda poderia assumir seria o de cabeça de lista às eleições legislativas nacionais previstas para Outubro. Lugar que já ocupou antes de entrar para um segundo mandato de Sócrates, altura em que o PS-Madeira perdeu dois deputados na Assembleia da República dos três conquistados pelo então líder Jacinto Serrão, que antecedeu a Victor Freitas, eleito em 2011.

Com uma liderança sempre criticada internamente mas no silêncio, ou seja, sem consequências, viu reforçada a sua influência logo após as eleições autárquicas de 2013, uma calamidade para o PSD que perdeu sete câmaras, incluindo o Funchal. Nesta altura, o mal-estar interno já era latente, mas o resultado prorrogou decisões que foram, de novo, enfiadas na gaveta com o score obtido nas eleições para o Parlamento Europeu. António José Seguro ofereceu ao PS-Madeira o 8.º lugar na lista para as europeias, elegendo a eurodeputada Liliana Rodrigues. No congresso regional de Janeiro de 2014, e que contou com a presença de Seguro, era impossível fazer frente a Victor Freitas. A sua moção de estratégia global “Uma alternativa responsável”, apresentada como documento preparatório das regionais do domingo, mereceu a unanimidade dos congressistas, tendo sido aplaudida de pé.

António Costa, eleito secretário-geral do PS em Outubro do mesmo ano, não tinha legitimidade nenhuma para fazer fosse o que fosse com o PS-Madeira, até porque a região tem estatutos próprios e autonomia administrativa e política. No congresso nacional reiterou a sua confiança política em Victor Freitas e na campanha eleitoral ainda passou um dia pela Madeira de fugida. O diálogo era tenso. Quanto à decisão de acordo com o PTP/PAN e MPT, coube exclusivamente a Victor Freitas a responsabilidade, depois de rejeitar a proposta de coligação do CDS-Madeira em que o candidato a presidente do governo não seria nenhum dos líderes mas uma “figura de prestígio” escolhida na sociedade civil, mas nunca se avançou com nomes. Victor Freitas recusou e partiu para um modelo idêntico ao que lhe tinha dado uma vitória no Funchal. A diferença é que, desta vez, o BE saltou, o mesmo acontecendo com o PND. A CDU nunca alinhou nesta estratégia.

E assim vai a vida do PS-Madeira. Nada de novo para quem conhece a história do partido nesta região desde 1974. Um rol de quedas de líderes, de crises internas e de disputadas fratricidas potenciadas pelos interesses privados que sempre se sobrepuseram aos interesses do bem comum, havendo uma espécie de bloco central na área dos negócios numa ilha pequena com cruzamentos de famílias. Alberto João Jardim, conhecedor do terreno, sempre explorou esta realidade.