É pau, é pedra

Mármore e madeira têm-se aliado na construção de peças de mobiliário como elementos complementares.

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Na madeira, se analisarmos o tronco num corte transversal, conseguimos perceber a formação de anéis concêntricos (até à medula) que correspondem à passagem dos anos. Cada anel é formado por duas cores distintas, a mais clara, que corresponde a uma fase de crescimento mais rápido, durante a Primavera, e a mais escura que corresponde ao declínio do crescimento durante o Verão. A outra metade do ano, do Outono e Inverno, inscreve-se noutro anel, mais escuro e mais estreito. Alternam-se assim os anéis, em que que os primeiros anos se encontram mais afastados da medula e os mais recentes mais próximos.

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Na madeira, se analisarmos o tronco num corte transversal, conseguimos perceber a formação de anéis concêntricos (até à medula) que correspondem à passagem dos anos. Cada anel é formado por duas cores distintas, a mais clara, que corresponde a uma fase de crescimento mais rápido, durante a Primavera, e a mais escura que corresponde ao declínio do crescimento durante o Verão. A outra metade do ano, do Outono e Inverno, inscreve-se noutro anel, mais escuro e mais estreito. Alternam-se assim os anéis, em que que os primeiros anos se encontram mais afastados da medula e os mais recentes mais próximos.

O mármore é o resultado da transformação de outro tipo de rocha, pelo processo do metamorfismo (mudança de forma). As transformações físicas e químicas, resultantes das pressões e temperaturas elevadas, do movimento das placas tectónicas, e interferências de líquidos, em zonas profundas da crosta terrestre, forçam aquilo que já era rocha a reestruturar-se de uma nova forma, dando origem a outra rocha, a metamórfica, categoria da qual o mármore faz parte.

Utilizados na arquitectura, mármore e madeira têm-se também aliados na construção de peças de mobiliário, apresentando-se como elementos complementares em que cada um desempenha a função permitida pelas suas características particulares. A grande diversidade de espécies de árvores que produzem madeira não facilita uma generalização das suas características. No entanto, a madeira é relativamente leve e resistente para poder ser trabalhada e manipulada em estruturas capazes de suportar pesos como o de uma chapa de mármore. A temperatura é provavelmente a escala em que mais os distanciamos; o calor da madeira e frio da pedra. À impermeabilidade do mármore, opõe-se a permeabilidade da madeira, que permite a este material orgânico viver para além do seu tempo de recolha. A madeira é um material vivo, mexe e tem mesmo os seus parasitas.

À primeira vista, poderíamos estabelecer um princípio hierárquico de primazia da dureza e peso do mármore sobre a madeira, mas há uma técnica milenar (usada ainda em Portugal até há pouco tempo) que surpreendentemente utiliza a aparente vulnerabilidade de um para destruir a dureza do outro, numa tensa relação de medição de forças. Este processo, utilizado na extracção da pedreira ou na separação de blocos, consiste em incrustar na pedra peças de madeira (guilhos) em orifícios (caneluras) equidistantes, dispostos linearmente segundo o desenho do corte. A madeira é forçada a absorver água, e o seu consequente alargamento exerce a pressão necessária nos pontos (já fragilizados pela perfuração) para causar a fissura na pedra, numa linha de ruptura controlada. É a força do que tem vida sobre a dureza feita de coisas mortas, de cristalizações de outras vidas infinitamente longínquas, numa linha de fragilidade exposta.