Só em flor

A amendoeira que nos trouxeram os mouros, na melhor das horas, pode muito bem ser, sem ironia, a mais portuguesa das árvores.

É sempre antes da Primavera. A amendoeira que nos trouxeram os mouros, na melhor das horas, pode muito bem ser, sem ironia, a mais portuguesa das árvores.

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É sempre antes da Primavera. A amendoeira que nos trouxeram os mouros, na melhor das horas, pode muito bem ser, sem ironia, a mais portuguesa das árvores.

Até na tristeza: no Algarve e aqui (ao contrário do que ainda acontece esporádica e heroicamente no Douro), as amêndoas que serão oferecidas no Outono, depois de tanto trabalho de metamorfose, não serão apanhadas nem aproveitadas.

Tristemente, a amêndoa que, graças aos nossos sábios governantes muçulmanos, é um dos fundamentos da nossa doçaria, deixou de ser respeitada. Compram-se amêndoas americanas às toneladas e deixam-se apodrecer as portuguesas. As americanas são redondas, sensaboronas e baratas.

As portuguesas — nas raras vezes em que conseguimos encontrá-las (como as maravilhas de Castelo Rodrigo que, sei lá porquê, conseguem sobreviver) são chatas, finas e saborosas. 

A nossa muito amiga e sábia Maria Manuel Valagão, que mora e estuda em São Brás de Alportel, dá-nos cabo dos corações com histórias factuais do abandono das amendoeiras no Algarve.

Mesmo assim manda-nos, sempre que quer elogiar uma mulher da resistência, as melhores amêndoas (e os melhores figos secos) que já conhecemos.

A flor das nossas amendoeiras branca e quase cor-de-rosa aproxima-nos bem da reverência justa e bonita dos japoneses diante as cerejeiras.

Seja.