Para ANMP, vastidão de informação enviada à administração central é “um absurdo”

Manuel Machado disse que, numa sociedade democrática, "o direito à informação tem de ser exercido com razoabilidade, bom senso e boa-fé, sem colocar em causa" o princípio da prossecução do interesse público.

Foto
Manuel Machado falou no encerramento da conferência "A transparência na administração pública", em Coimbra adriano miranda

Apesar de reconhecer que as deliberações dos órgãos da administração pública "podem e devem ser sujeitas ao escrutínio dos cidadãos", esse escrutínio, "como vem acontecendo no caso das autarquias", leva à alocação de recursos humanos, técnicos e administrativos "de tal modo numerosos" que tornam absurda a transmissão da informação, criticou Manuel Machado.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Apesar de reconhecer que as deliberações dos órgãos da administração pública "podem e devem ser sujeitas ao escrutínio dos cidadãos", esse escrutínio, "como vem acontecendo no caso das autarquias", leva à alocação de recursos humanos, técnicos e administrativos "de tal modo numerosos" que tornam absurda a transmissão da informação, criticou Manuel Machado.

Os municípios têm de dar resposta a "uma vastidão de informações e relatórios que têm de ser reportados" a diversas entidades estatais no seu dia-a-dia, o que coloca as autarquias como as entidades da administração pública “mais fiscalizadas" e "as mais controladas", referiu, no encerramento da conferência "A transparência na administração pública", no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC).

Manuel Machado considerou também que, numa sociedade democrática, "o direito à informação tem de ser exercido com razoabilidade, bom senso e boa-fé, sem colocar em causa" o princípio da prossecução do interesse público.

Depois de enumerar diversas situações de entrega de informação que os municípios são obrigados a realizar, o presidente da ANMP apontou a criação do Portal de Transparência, que considerou afigurar-se "parcial", por abranger "somente o poder local".

"É como o velho ditado: olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço", disse, considerando que um portal focado apenas nas câmaras "é susceptível de criar anátemas e estigmas desnecessários e injustos".

Manuel Machado acusou o Governo de se isentar do dever da transparência, defendendo que esse desígnio deve ser extensivo a toda a administração pública.

"A administração pública, tanto a nível central como a nível local, deve constituir-se como uma referência de transparência, rigor, integridade e exemplo de boas práticas", frisou.

Para o também presidente da Câmara de Coimbra, só ao ser fomentada em todos os serviços do Estado a transparência “será um contributo válido para a consolidação da democracia", prevenindo-se assim a corrupção.

Na sessão de abertura da conferência, esteve presente o secretário de Estado da Administração Local, António Leitão Amaro, que afirmou que a transparência foi "condição essencial" para as melhorias registadas na gestão na administração local, inclusive ao nível financeiro.

O responsável frisou que, na gestão pública, a ideia da transparência é fundamental para se alterarem comportamentos, que não podem ser combatidos apenas com leis e regras.