Serão precisos 70 anos para alcançar igualdade salarial entre homens e mulheres

Organização Internacional do Trabalho diz que em média os homens ganham mais 23% do que as mulheres.

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Empresa de doces artesanais tem seis trabalhadores e quer pôr um pé nos mercados internacionais Fotos: Daniel Rocha

Apesar de mais países terem ratificado as normas internacionais, a OIT lembra que as "mulheres continuam a ser confrontadas situações de discriminação e desigualdade no trabalho".

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Apesar de mais países terem ratificado as normas internacionais, a OIT lembra que as "mulheres continuam a ser confrontadas situações de discriminação e desigualdade no trabalho".

Desde logo, em termos salariais. Apesar dos progressos, em média, o salário das mulheres corresponde a 77% do salário pago aos homens, um fosso que tende a alargar-se no caso dos salários mais elevados. E, nota a OIT, “ao ritmo actual e sem uma acção orientada, a equidade salarial entre mulheres e homens só será atingida em 2086, ou seja, dentro de 71 anos”.

Segundo a organização, a desigualdade salarial é um problema que afecta todas as mulheres, com ou sem filhos. Mas quando se trata de mulheres que já foram mães “a diferença de remuneração relacionada com a maternidade aumenta com o número de filhos”.

“Em muitos países europeus, por exemplo, ter um filho tem um efeito reduzido, mas as mulheres que têm dois filhos e, especialmente, as que têm três são fortemente penalizadas em termos salariais", exemplifica a OIT.

Às desigualdades salariais há ainda que somar as diferenças na participação no mercado de trabalho e o tipo de trabalho - indiferenciado e mal remunerado - que, em regra, é atribuído às mulheres.

Em termos globais, as diferenças entre as taxas de participação no mercado de trabalho dos homens e das mulheres desceram de forma marginal desde 1995. Actualmente, cerca de 50% das mulheres trabalham, enquanto nos homens a taxa de participação é de 77%. Em 1995 as taxas eram de 52% e 80%.

“Estima-se que, ao reduzir a diferença entre as taxas de participação em 25% nos países do G20, será possível juntar 100 milhões de mulheres à força de trabalho em 2025”, destaca a organização liderada por Guy Ryder.

No que respeita à protecção na maternidade, a OIT considera que houve melhorias, mas 800 milhões de trabalhadoras no mundo não têm uma licença de maternidade adequada.

"Apesar de os homens começarem a assumir uma maior responsabilidade na família, as mulheres continuam a ser responsáveis pela maior parte dos cuidados para a família, o que muitas vezes limita o acesso a um emprego remunerado a tempo inteiro", refere.

Na União Europeia, as mulheres gastam 26 horas por semana em actividades domésticas, contra as nove horas despendidas pelos homens.

A violência continua a ser “o principal factor a pôr em causa a dignidade das mulheres", salienta a OIT, acrescentando que 35% das mulheres são vítimas de violência física ou sexual, o que afecta a sua presença no local de trabalho.

"A principal conclusão 20 anos depois da Conferência de Pequim é que, apesar dos progressos marginais, ainda temos pela frente décadas até que as mulheres beneficiem dos mesmos direitos do que os homens no trabalho", afirma Shauna Olney, responsável do departamento de Género e Igualdade da OIT.

Também esta semana, o Governo português anunciou que vai iniciar negociações com as empresas cotadas em bolsa para que estas se comprometam a incluir pelo menos 30% de mulheres nos conselhos de administração até ao final de 2018.

A medida faz parte de um pacto elaborado pela secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, que aponta para a existência de 9,7% de mulheres nos conselhos de administração das empresas cotadas que responderam a um inquérito.

Em Portugal, as mulheres recebem, em média, menos 13% do que os homens a desempenhar as mesmas funções, enquanto na União Europeia a desigualdade salarial é de 16,4%.