World Press Photo retira prémio a fotógrafo italiano que manipulou a realidade

Organização do prémio investigou as queixas levantadas e concluiu que Giovanni Troilo mentiu sobre as suas imagens.

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O italiano Giovanni Troilo tinha-se candidatado com uma série de dez fotografias da cidade belga de Charleroi. A vida como ela era naquele recanto na Bélgica depressa começou a dar que falar na Internet. Quem conhecia a cidade não a reconhecia naquelas imagens premiadas. O próprio presidente da Câmara de Charleroi, Paul Magnette, não ficou indiferente e escreveu à organização do World Press Photo a pedir a retirada do prémio.

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O italiano Giovanni Troilo tinha-se candidatado com uma série de dez fotografias da cidade belga de Charleroi. A vida como ela era naquele recanto na Bélgica depressa começou a dar que falar na Internet. Quem conhecia a cidade não a reconhecia naquelas imagens premiadas. O próprio presidente da Câmara de Charleroi, Paul Magnette, não ficou indiferente e escreveu à organização do World Press Photo a pedir a retirada do prémio.

“Não sou especialista em fotografia mas sei reconhecer o mau jornalismo quando o vejo”, começou por escrever o autarca belga, argumentando que o fotógrafo tinha recorrido a luzes muito dramáticas e frias para reforçar a sensação de uma cidade abalada pela crise económica e social. Paul Magnette não duvidava que a série que tinha por título La Ville Noir – The Dark Heart of Europe (O Coração Negro da Europa) foi construída de forma a mostrar isso mesmo. Ela não representava a realidade mas aquilo que Giovanni Troilo quis retratar.

Numa das imagens vemos um homem, meio despido, sentado em casa e que, segundo a história do italiano, vive sozinho com problemas de obesidade e com medo de sair à rua. Acontece que afinal esse homem é uma figura conhecida da cidade, dono de uma loja de vinhos, alega Paul Magnette que incluiu um vídeo para provar o que diz.

A revista Time escreve ainda que pelo menos uma das fotografias não foram sequer tiradas em Charleroi, informação que foi confirmada por Giovanni Troilo por telefone e email. “Cometi um erro, não o posso negar”, confessou o fotógrafo de 37 anos a viver em Roma.

A organização dos prémios, atribuídos pela fundação homónima com sede em Amesterdão desde 1955, abriu uma investigação ao caso e nesta quarta-feira à noite revelou os resultados. A distinção já não é de Giovanni Troilo. Giulio Di Sturco que tinha ficado em segundo lugar na categoria de Histórias da Vida Quotidiana ficou com o primeiro prémio. No site, do World Press Photo o trabalho de Troilo já desapareceu.

“O concurso do World Press Photo tem de ser baseado na confiança de que os fotógrafos submetem os seus trabalhos de acordo com a ética profissional. Temos controlo e verificação no local, claro, mas o prémio não funciona se não existir confiança”, lê-se na nota de Lars Boering, director do World Press Photo, que confirma que este é “um caso claro de informação enganosa que altera a forma como a história é percebida”. “Uma regra foi quebrada e uma linha ultrapassada”, defende, revelando que será organizada em breve uma discussão à volta do tema.

O grande prémio do World Press Photo foi entregue este ano fotógrafo dinamarquês Mads Nissen com o retrato de um momento de intimidade entre Jon e Alex, um casal homossexual. A imagem foi tirada em São Petersburgo, na Rússia.