O segredo da Topázio esconde-se nas mãos dos artesãos

Os 140 anos da empresa Topázio, centenária na arte de trabalhar prata e ouro, imprimiram o nome de Joana Vasconcelos, Dino Alves, Vihls e de outros 11 artistas de renome internacional na recriação do icónico Jarrão D. João V. A colecção “140 anos de prata” está em exposição no MUDE até final de Março. O P3 falou com Joana Vasconcelos e foi espreitar os bastidores da Topázio

Quando as portas da fábrica da Topázio se abrem entra-nos imediatamente o barulho dos martelos nos ouvidos. Há máquinas com o peso da História espalhadas pela sala, modelos de talheres e de peças de decoração que remontam a 1874 pendurados nas paredes, móveis preenchidos de inúmeros moldes – um portefólio único no país -, gavetas carregadas de desenhos que sobreviveram ao tempo e que reclamam um museu. A rádio está ligada numa emissora local, os olhares focados na peça a ser trabalhada, num ambiente maioritariamente masculino.

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Quando as portas da fábrica da Topázio se abrem entra-nos imediatamente o barulho dos martelos nos ouvidos. Há máquinas com o peso da História espalhadas pela sala, modelos de talheres e de peças de decoração que remontam a 1874 pendurados nas paredes, móveis preenchidos de inúmeros moldes – um portefólio único no país -, gavetas carregadas de desenhos que sobreviveram ao tempo e que reclamam um museu. A rádio está ligada numa emissora local, os olhares focados na peça a ser trabalhada, num ambiente maioritariamente masculino.

Toni Grilo, designer e director criativo da empresa, acompanha-nos nesta visita. Traz os processos referentes a cada fase de criação na ponta da língua, o fascínio pelo trabalho singular dos artesãos no olhar, esse “trabalho de paixão”, tantas vezes repetido, é visível em cada um dos compartimentos. Caminhamos pelas longas salas de olhos colocados em peças com a assinatura de artistas como Joana Vasconcelos, Nuno Baltazar ou Dino Gonçalves – parte da colecção “140 anos de prata” - ainda a serem polidas, mas é o cunho manual de cada artesão e a atenção ao detalhe que transforma cada uma das jarras numa obra singular, garante Toni Grilo.

“Quando entrei para a Topázio disse: isto é um tesouro nacional. Temos que manter esta tradição. Mas há alguns processos que se vão perder. Há pessoas que trabalham aqui há 40 anos e que vão levar o seu trabalho quando se reformarem. Há peças que não poderão ser reeditadas porque a pessoa que a realizou já não está cá”, afirma o designer, sublinhando a necessidade de se criar uma escola especializada. “O trabalho feito por indivíduos é o que assegura a singularidade e o valor das obras. Para além disso, os trabalhos artesanais trazem consigo a história das mãos de quem os fez, concedendo-lhes uma dignidade superior ao trabalho industrial.” As palavras são de Joana Vasconcelos, uma das convidadas a integrar a colecção que marca os 140 anos da empresa.

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O jarrão D. João V transformou-se em ‘A Joanina’ mantendo a “voluptuosidade característica do Barroco através de linhas depuradas, transformando a representação naturalista dos elementos em formas abstractas, mas universais”, explica a artista. Outros 13 artistas responderam ao repto da Topázio. O convite “demonstra a sua [Topázio] vontade de inovar e de se renovar, e de fazer-se representar na contemporaneidade”, acredita Joana Vasconcelos. Toni Grilo justifica o convite: “Para mim era óbvio misturar toda a criatividade, desde um decorador a um arquitecto, um artista ou designer. Quanto mais rico e diferente seja o criador mais a marca ganhará com isso. Sou contra a criatividade monocromática”.

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A jarra de Joana Vasconcelos está quase pronta. O polimento tem de ser perfeito, depois serão colocadas as bolas, dado o banho, etc, etc, explica-me um dos artesãos. No entanto, esta colecção não demonstra aquele que possa ser o amanhã da Topázio. Sentado numa sala expositiva onde repousam peças desenhadas por Álvaro Siza Vieira, Toni Grilo afirma que a fábrica está em crescimento e que “140 anos de prata” é apenas uma demonstração “da riqueza do que se poderá fazer”. “Nós podemos fazer tudo. Só precisamos da ideia. Temos de ser actuais e futuristas. E portanto, temos de chamar os criativos de hoje e não repetir aquilo que se fez no passado”, avança o director criativo, frisando que a tradição não se perderá. Joana Vasconcelos corrobora: “Dada a preocupação comercial que é exigida de uma marca, esta deverá procurar responder a gostos e valores estéticos do presente”.

As portas da fábrica fecham-se por hoje. As do MUDE, Museu do Design e da Moda, continuam abertas. A exposição poderá ser vista até 28 de Março.