ONG precisam de captar voluntários em idades mais avançadas

Capacidade de mobilização de voluntários das organizações da economia social portuguesas é inferior à da maioria dos países europeus.

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ONG devem conseguir captar voluntários menos jovens Miguel Manso

Há voluntários em grande parte das ONG portuguesas, a começar pelos seus órgãos sociais, mas, em cada instituição, estão representados em pequeno número, aponta este trabalho realizado por uma equipa da Universidade Católica de Lisboa para a Fundação Calouste Gulbenkian. Os autores reportam relatos de um decréscimo no número de voluntários, assim como a diminuição “na qualidade dos voluntários mais jovens a quem falta alguma maturidade e visão multidisciplinar.”

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Há voluntários em grande parte das ONG portuguesas, a começar pelos seus órgãos sociais, mas, em cada instituição, estão representados em pequeno número, aponta este trabalho realizado por uma equipa da Universidade Católica de Lisboa para a Fundação Calouste Gulbenkian. Os autores reportam relatos de um decréscimo no número de voluntários, assim como a diminuição “na qualidade dos voluntários mais jovens a quem falta alguma maturidade e visão multidisciplinar.”

Este estudo, que passa em revista os pontos fracos e fortes da chamada economia social em Portugal, nota que estando a esperança de vida da população cada vez mais a aumentar, isto pode “significar um enorme potencial de voluntários de idades mais ou menos avançadas que as ONG devem aprender a cativar e a acolher nas instituições”. Mas com “a noção de que provavelmente terão que adaptar as oportunidades de voluntariado às diferentes idades e inerentes capacidades."

Dados da Comissão Europeia citados pelo estudo revelam que a capacidade de mobilização de voluntários das organizações da economia social portuguesas é inferior à da maioria dos países europeus, pois envolvem apenas 12% da população, à semelhança da França e da Bulgária, situando-se, assim, muito abaixo do nível médio de participação de voluntários, que é 25% da população a nível europeu, e de 22% nos países mais comparáveis a Portugal.

O estudo nota ainda que muitas organizações não governamentais nacionais poderão vir a ter problemas na sucessão das suas lideranças. Uma das razões é "a demasiada longevidade dos membros das direcções". No que toca às suas direcções merece atenção “a idade dos dirigentes, o tempo de permanência no cargo", bem como a necessidade "de investimento na formação de potenciais (mais jovens) sucessores”. Foi também manifestada uma grande dificuldade em encontrar pessoas motivadas e com disponibilidade para o exercício de funções de direcção.

A grande pecha apontada ao sector é a sua excessiva dependência de dinheiros públicos, o que as torna reféns de financiamentos estatais muitas vezes desadequados às necessidades do terreno, existindo ainda “tendência para que a agenda de financiamento público continue a privilegiar projectos assistencialistas.”

Um factor transversal ao estudo é a desadequação dos recursos humanos face à necessidade de diversificação das fontes de financiamento, nomeadamente apelando a doadores empresariais e particulares. Para tal, as ONG precisariam de ter no seu corpo de funcionários trabalhadores da gestão e do marketing, "a trabalhar exclusivamente em áreas como a comunicação externa ou angariação de fundos”.

Ao mesmo tempo, diz-se que há oportunidade de financiamentos que lhes passam ao lado, por faltarem “competências para candidaturas a projectos, nomeadamente internacionais”. Grande parte das organizações portuguesas não sabe a que instituições internacionais pode submeter pedidos e candidaturas.

A presença online destas organizações é o espelho de muitos dos pontos fracos apontados pelo diagnóstico. Apesar de muitas terem sites e pertencerem a diversas redes sociais, “muitas vezes encontram-se desactualizados e poucas vezes estão voltados para a captação de pessoas interessadas em colaborar tanto economicamente como em voluntariado.”