Três ateliers portugueses vencedores do Prémio Archdaily

Três projectos portugueses, de Siza Vieira, do atelier Spaceworkers e do atelier OTO, estão entre os vencedores do Prémio Internacional Archdaily Building of the Year 2015.

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Os projectos portugueses venceram nas categorias de Escritório (Edifício Sobre a Água, na China, desenhado por Álvaro Siza Vieira e Carlos Castanheira), em Arquitectura Cultural (atelier OTO para o Parque Natural do Fogo, em Cabo Verde), e Casas (Sambade, em Portugal, do atelier Spaceworkers).

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Os projectos portugueses venceram nas categorias de Escritório (Edifício Sobre a Água, na China, desenhado por Álvaro Siza Vieira e Carlos Castanheira), em Arquitectura Cultural (atelier OTO para o Parque Natural do Fogo, em Cabo Verde), e Casas (Sambade, em Portugal, do atelier Spaceworkers).

O projecto do atelier OTO para o Parque Natural do Fogo foi inaugurado em Março do ano passado, mas foi destruído em Novembro pela erupção vulcânica que afectou aquela ilha de Cabo Verde.

Fundada em 2008, a Archdaily é uma plataforma online de informação e divulgação da arquitetura que contabiliza 350 mil visitas diárias e atribui anualmente este prémio a projectos que se destacam pela inovação espacial, social, material e técnica. Na lista de 70 finalistas estavam nove projectos de arquitetos portugueses desenhados para o país ou para o estrangeiro.

Além dos vencedores, eram finalistas, na categoria Habitação, a DM2 Housing do atelier OODA, e na categoria de Hospitalidade o White Wolf Hotel, do atelier AND-RÉ, a Casa no Tempo dos arquitectos Aires Mateus e de João e Andreia Rodrigues, e o Ozadi Hotel, de Pedro Campos Costa.

Também de Portugal eram finalistas os projectos JA House, de Filipe Pina e Maria Inês Costa, na categoria de Remodelação, e o Centro de Artes Nadir Afonso, por Louise Braverman, na categoria Arquitectura Cultural.

"Tão bons ou melhores que no futebol"

O arquitecto André Castro Santos, do atelier OTO, um dos três vencedores portugueses com o projecto para o Parque Natural do Fogo, considerou hoje que este "é o reconhecimento do trabalho de excelência" que se faz em Portugal. "Mais uma vez e, como tem acontecido praticamente todos os anos, os portugueses mostram que são muito bons em arquitectura, diria tão bons ou melhores até que no futebol", disse André Castro Santos em declarações à Lusa.

André Castro Santos disse que, apesar da situação económica em que o país vive, Portugal conseguiu ter vários projectos de portugueses a serem nomeados, mesmo aqueles que não ganharam. "Tivemos muitos nomeados finalistas, e com uma arquitectura de excelência", contou.

 

 

No projecto do atelier OTO estiveram envolvidos André Castro Santos, Nuno Teixeira Martins, Miguel Ribeiro de Carvalho e Ricardo Vicente. Em declarações à Lusa, André Castro Santos contou que o projecto "foi muito especial": "Começou com um concurso internacional que ganhámos em 2007. Era um concurso de ideias desenvolvido por nós com a ajuda das pessoas que estavam envolvidas no Parque Natural do Fogo, com a cooperação alemã e da população, que ficou muito sensibilizada", indicou.

Explicou que o atelier tentou desenvolver algumas valências no edifício que pudessem ser úteis para a população. "Estivemos envolvidos pessoalmente neste projecto. Já passaram sete anos desde que ganhámos o concurso. Foi inaugurado em Março de 2014, foi um projeto muito especial. Temos muita pena que tenha tido aquele fim", salientou.

Apesar de ainda ser cedo para se falar na construção de um novo edifício, depois da sua destruição na recente erupção vulcânica na ilha, o arquitecto da OTO tem esperança de que isso possa vir a acontecer no futuro. "Pode ser que reconstruam noutra zona. Ficou quase completamente destruído. É possível que, com um novo financiamento, consigam reconstruir noutro local", disse.

Sobre o futuro, André Castro Santos considera que este prémio veio dar um "novo balanço" à equipa. "Vamos continuar a trabalhar para dar o nosso melhor e conseguir projectos que consigam surpreender as pessoas", concluiu.

Atesta qualidade das novas gerações

O arquitecto Henrique Marques, da Spaceworkers, considerou que o prémio "é um orgulho" e que atesta a qualidade dos trabalhos e dos profissionais portugueses. "Termos sido nomeados já foi uma grande vitória, mas ultrapassar a fase da nomeação é algo que não estávamos à espera. Somos jovens arquitectos e isto é bom para nós, mas sobretudo para a arquitectura portuguesa", disse à Lusa.

No entender do co-fundador do atelier Spaceworkers, o prémio atesta a qualidade das novas gerações, que "estão a tentar fazer um bom trabalho", e projecta ainda mais os trabalhos de excelência dos arquitectos portugueses. "Este prémio vem enaltecer o nosso trabalho, o das novas gerações e das escolas novas que tentam formar pessoas para competir com os melhores", disse.

Em declarações à Lusa, Henrique Marques, que fundou o Spaceworkers em 2007 com o arquiteto Rui Dinis, contou que o projeto Casas surgiu em 2011. "Pediram-nos para desenvolvermos um projeto num terreno fantástico com três hectares. A casa tem um volume muito puro. Tentámos explorar ao máximo a relação entre a paisagem e potenciar todas a vivências da casa com essa mesma paisagem", contou.

Henrique Marques adiantou que o atelier está com muitos projetos em mãos e acredita que este "prémio e a sua mediatização" podem ser benéficos para a Spaceworkers, que neste momento conta com cinco arquitectos e uma directora financeira. "Vamos tentar fazer o melhor que conseguirmos e que...este seja o primeiro de muitos prémios", disse.     


Uma boa notícia para arquitectos portugueses na China

O prémio internacional atribuído ao primeiro projecto de Siza Vieira na China "é uma boa notícia" para as dezenas de arquitectos portugueses que trabalham naquele país, disse esta sexta-feira à Lusa Nuno Lobo, em Pequim.

"O prémio da Archdaily mostra que a arquitectura portuguesa tem valor e que vale a pena as empresas investirem em arquitectos portugueses", acrescentou aquele jovem arquitecto. Nuno Lobo, radicado há mais de sete anos em Pequim, realçou que o 'site' que atribuiu o prémio, na quinta-feira, é "muito conhecido entre os arquitectos".

"Isto é muito bom para Portugal e para os arquitectos portugueses que trabalham na China", disse a arquitecta paisagista Sofia Castelo, estabelecida também na capital chinesa.

Nuno Lobo, 36 anos, formado no Porto, é um dos mais antigos arquitectos portugueses residentes na China continental. Quando chegou, em 2007, eram "apenas cinco ou seis"; hoje são "dezenas", espalhados por várias cidades, entre as quais Xangai e Shenzhen, no sul da China, contou.

O prémio Archdaily Building of the Year 2015 distinguiu um edifício de escritórios na província chinesa de Jiangsu desenhado por Siza Vieira em colaboração com o arquitecto Carlos Castanheira, e inaugurado no Verão passado. "O facto de um edifício construído na China ser reconhecido a nível internacional é extraordinário. A construção na China ainda não tem a qualidade do que faz na Europa", salientou Sofia Castelo.

Foi o primeiro projecto de Siza Vieira na China, desenhado e construído ao longo de quatro anos, sobre um lago artificial. Trata-se de uma construção curvilínea de 10.000 metros quadrados, com apenas dois pisos e 300 metros de comprimento, edificada no meio do reservatório da fábrica Shihlien Chemical Jiangsu Co, em Huaian, no leste da China. Baptizada pelos proprietários com o nome de "Edifício sobre a Água", a obra faz lembrar um dragão flutuar.

"Xi Zha" (Siza, em chinês), galardoado em 1992 com o Pritzker Prize, o Nobel da Arquitetura, é um nome muito admirado entre os arquitectos chineses, nomeadamente por Wang Shu, o primeiro chinês distinguido com aquele prémio, há três anos.

Para o Shihlien Group, o consórcio de Taiwan que encomendou o edifício agora premiado, Siza Vieira "é um dos grandes mestres da arquitectura vivos", com uma obra de linhas "minimalistas" e "altamente poética".

"O minimalismo simples do seu vocabulário arquitectónico está intimamente ligado à paisagem e casa-se com um profundo respeito pela região, a cultura e a história, dando à obra uma irresistível tensão e vitalidade", considerou o Shihlien Group. 

Actualizado às 16h13 com declarações de de responsáveis dos ateliers OTO e Spaceworkers