Mercado de trabalho piora

Os números agora conhecidos dizem que o mercado de trabalho nacional piorou no último trimestre.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os números agora conhecidos dizem que o mercado de trabalho nacional piorou no último trimestre.

O desemprego, face ao trimestre anterior, aumentou 9,4 mil pessoas, contudo a nota mais negativa é dada pela destruição trimestral de emprego, superior a 70 mil.

Este desfasamento assimétrico, entre o aumento do desemprego e a diminuição de emprego, acima de 65 mil, demonstra duas coisas: a emigração e o desencorajamento regressaram, depois duma Primavera-Verão ímpar, em termos de turismo e da restauração.

Para sustentar esta última perspectiva realçam-se os dados da redução de emprego nos grupos de jovens, seja entre os 15 e os 24 anos ou entre os 25 e os 34 anos, no valor aproximado de 40 mil postos de trabalho, a par da insignificante variação do desemprego. Acrescenta-se ainda o aumento da população inactiva, acima das 60 mil pessoas.

Se o nível de análise, porém, forem os dados anualizados, verifica-se que, embora o emprego se tenha acrescido, em 2014, de 22,7 mil casos, portanto um número não significativo, todavia, quando comparado com os aumentos observados nas políticas públicas ocupacionais de desempregados, vistos na comparação em termos dos valores médios anuais, os desempregos envolvidos subiram cerca de 45 mil pessoas, ou seja, o dobro.

A actividade económica, portanto, ao longo de 2014, de facto empregou menos gente, logo o mercado de trabalho piorou.

Apesar do excelente ano turístico, sobretudo nas Cidades de Lisboa e do Porto, que levaram a que as regiões, onde se inserem, tenham diminuído, respectivamente, a taxa de desemprego 3,2 e 2,2 pp, as ténues melhorias estatísticas anuais do emprego estão, assim, longe de ser boas.

Em síntese, mais de um milhão e duzentas mil pessoas, em Portugal, estão mal perante o trabalho, ou porque estritamente desempregados, ou porque desencorajadas, ou porque ainda trabalham como subempregados involuntariamente. Este é um número dramático, numa população activa que pouco fica acima de 5 milhões.

A consequência desta situação do mercado de trabalho, em primeira instância, reflecte-se nos dados negativos conhecidos recentemente sobre a pobreza e, depois, na nuvem negra que paira sobe as expectativas dos cidadãos nacionais.
Professor do ISCTE e ex-presidente do IEFP