“Está a criar-se uma nova geração de pobres”

Os novos números da pobreza do INE preocupam especialistas e instituições sociais.

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As famílias com crianças são as que mais frequentemente se encontram em privação Paulo Pimenta/Arquivo

Mais: “Os agregados com filhos são os mais pobres”, nota Sérgio Aires, que também é presidente do Observatório de Luta Contra a Pobreza na cidade de Lisboa. Mais alguns números: 38,4% das famílias monoparentais (definidas como “um adulto com pelo menos uma criança”) vivem com rendimentos abaixo do limiar de pobreza, de acordo com o INE. Um aumento, num só ano, de 5,3 pontos percentuais. Estes foram, de resto, os agregados mais atingidos. Os dados retratam a situação do país em 2013.

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Mais: “Os agregados com filhos são os mais pobres”, nota Sérgio Aires, que também é presidente do Observatório de Luta Contra a Pobreza na cidade de Lisboa. Mais alguns números: 38,4% das famílias monoparentais (definidas como “um adulto com pelo menos uma criança”) vivem com rendimentos abaixo do limiar de pobreza, de acordo com o INE. Um aumento, num só ano, de 5,3 pontos percentuais. Estes foram, de resto, os agregados mais atingidos. Os dados retratam a situação do país em 2013.

“Lendo estes dados com os números mais recentes do desemprego, que mostram um aumento do desemprego dos jovens, e sabendo-se que o emprego que está a ser criado é mal pago” e que, à conta “destes estágios que são criados para jovens”, se “acabam com postos de trabalho”, serão precisos, na opinião de Sérgio Aires, “uns 30 anos para voltar a repor os mínimos”.

Para além do desemprego, a redução do número de beneficiários de prestações sociais a que se tem assistido nos últimos anos ajudará a explicar o aumento da taxa de risco de pobreza. “E estamos só a olhar para o que piora. Mas entre os idosos, o cenário continua a ser mau” — 15,1% no grupo de 65 ou mais anos.

Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) ainda não analisou os novos dados do INE. Mas vai dizendo: “Infelizmente correspondem à sensação que temos.”

Dá um exemplo: nas creches e jardins de infância do sector solidário, muitos pais têm retirado os filhos, preferindo ficar com eles em casa, “embora as instituições particulares de solidariedade social façam preços adequados às situações e ninguém mande crianças embora quando as famílias não podem pagar”. Contudo, “os pais estão desempregados, não têm perspectivas de melhoria, acham que podem em casa dar uma boa educação aos filhos.” Para Lino Maia, "estas crianças ficam de facto mais pobres", são "estigmatizadas".

A pobreza infantil não é uma preocupação nova no país. “Mesmo nos períodos de redução da pobreza em Portugal, há um sector onde os resultados são praticamente nulos: a pobreza nas crianças e jovens. Se durante o período de queda das desigualdades os resultados se mantiveram quase iguais, neste período oposto têm aumentado imenso”, diz o especialista em desigualdades, exclusão social e políticas públicas, Carlos Farinha Rodrigues. “A taxa de pobreza das crianças já vai nos 25,6%. Este, para mim, é um dos factores de preocupação: hoje, as crianças e os jovens são dos sectores em maior fragilidade social, temos um quarto das nossas crianças e jovens em situação de pobreza.”