A próxima edição do Charlie Hebdo, o “jornal dos sobreviventes”, já está a ser feita

Ajudados por outros jornais porque "já não têm sequer um lápis”, instalaram-se no Libération enquanto decorria a caça ao homem e o sequestro na Porta de Vincennes. "Coragem!", gritou-se.

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Na rua Béranger, perto da Praça da República parisiense e num dos extremos do bairro do Marais, cerca de uma centena de jornalistas esperou no passeio ladeado por grades a chegada da equipa do Charlie Hebdo. Um carro com o material informático, o advogado Richard Malka, o director financeiro Eric Portheault e o desenhador Willem chegaram primeiro, como descreve o Libération, em cujo átrio foi recebida a equipa do jornal. “A emoção é grande, e a atmosfera grave”, escreveu o diário francês. As entradas no edifício foram controladas pela polícia.

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Na rua Béranger, perto da Praça da República parisiense e num dos extremos do bairro do Marais, cerca de uma centena de jornalistas esperou no passeio ladeado por grades a chegada da equipa do Charlie Hebdo. Um carro com o material informático, o advogado Richard Malka, o director financeiro Eric Portheault e o desenhador Willem chegaram primeiro, como descreve o Libération, em cujo átrio foi recebida a equipa do jornal. “A emoção é grande, e a atmosfera grave”, escreveu o diário francês. As entradas no edifício foram controladas pela polícia.

“Albergamo-los porque já não têm sequer um lápis”, justificou Laurent Joffrin, director editorial do Libération, evocando o ataque de quarta-feira em que 12 pessoas morreram, oito das quais trabalhadores do semanário satírico.

“Equipa do Charlie, aqui vamos!”, disse Malka quando a redacção do jornal atacado por Chérif e Said Kouachi se instalou na sala de conferências do Libé. Pela redacção, faixas negras e cartazes Je Suis Charlie. Gritos de “coragem!”. Primeira reunião feita, à porta fechada, e depois o advogado voltou ao piso térreo do edifício do Libération para dizer aos jornalistas: “Temos um jornal a criar nas condições que conhecem. O que temos a dizer, vamos dizê-lo nas oito páginas” do próximo número do Charlie, que sairá na próxima quarta-feira com uma tiragem de um milhão de exemplares.

A equipa teve uma visita no final desta sua primeira manhã no Libération – o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, que agradeceu à redacção do jornal o gesto para com os sobreviventes e que frisou a importância de que o “Charlie Hebdo prossiga o seu percurso, a sua missão”. “A mais forte das respostas é dizer-lhes ‘continuamos’.” Entretanto, decorria a caça ao homem das forças de segurança francesas em busca dos irmãos Kouachi e um tiroteio e uma situação de sequestro desenrolava-se numa mercearia kosher perto da Porta de Vincennes, na zona oriental da capital francesa.

Continuam o chefe de redacção Gérard Biard, o cronista Patrick Pelloux – médico de emergência e que foi dos primeiros a chegar aos colegas caídos na sequência do ataque – ou o desenhador Luz – autor do cartoon que levou ao atentado de 2011 contra o Charlie Hebdo e na sequência do qual o Libé acolheu durante dois meses o jornal satírico também nas suas instalações. E outros cartoonistas como Riss, Riad Sattouf, Catherine Meurisse e ‘Coco’. O grande repórter Laurent Léger, que também voltou ao trabalho esta sexta-feira, disse à France Info: “Sei que Charb e os outros teriam desejado, absolutamente, que saia um jornal e que digamos que existimos. Não quero que façamos um jornal de obituários, quero fazer um jornal para dizer o desafio de existir, o desafio de dizer as coisas, de continuar a lutar contra a estupidez, contra a idiotice humana, contra o obscurantismo, contra todos os fundamentalismos”.

Com uma circulação média de 30 mil exemplares, o jornal conta agora com meio milhão de euros para garantir a sua continuidade vindos do Fundo para a Imprensa e o Pluralismo e do Fundo para a Inovação Digital da Imprensa (financiado pelo Google). O governo francês já anunciou que vai encaminhar um milhão de euros para garantir o futuro do jornal satírico, que também está a ser alvo de campanhas informais de subscrição e recolha de donativos.

Na sala conhecida como le hublot (a janela), faz-se agora “o jornal dos sobreviventes”, reunidos em torno de uma grande mesa. Pediram autorização para fumar nas instalações. Emocionado, o sub-director do Libération, Johan Hufnagel, confirmou ao diário gratuito francês 20 Minutes : “Demo-la”.