PwC reconhece que auditoria à PT não está de acordo com as normas internacionais

PT recusou revelar documentos fundamentais pedidos pela consultora sobre aplicações no Grupo Espírito Santo.

Foto
DANIEL ROCHA

Na síntese do relatório de auditoria enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a consultora, contratada pela PT para realizar a auditoria, alerta para um conjunto de reservas ela própria levanta ao trabalho que realizou, declarando expressamente que “a assessoria da PwC foi conduzida numa perspectiva financeira e de negócio e, como tal, não incorporou qualquer análise de natureza jurídica (conforme estipulado pelas normas profissionais em Portugal)”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na síntese do relatório de auditoria enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a consultora, contratada pela PT para realizar a auditoria, alerta para um conjunto de reservas ela própria levanta ao trabalho que realizou, declarando expressamente que “a assessoria da PwC foi conduzida numa perspectiva financeira e de negócio e, como tal, não incorporou qualquer análise de natureza jurídica (conforme estipulado pelas normas profissionais em Portugal)”.

Entre os alertas importantes está o facto de a consultora assumir que não submeteu a informação financeira ou não financeira contida nos relatórios “a procedimentos de verificação”, salvo quando diz expressamente o contrário. Admite ainda a PwC que “caso tivesse efectuado tais procedimento, aspectos adicionais poderiam ter-se revelado, os quais teriam sido reportados”.

“Assim – continua o relatório – e excepto se referido em contrário, o trabalho não inclui procedimentos que visem confirmar a exactidão e totalidade da informação incluída nos relatórios, pelo que não assume qualquer responsabilidade a este respeito”.

E salvaguardando futuras responsabilidades pelo trabalho realizado, a PwC declara: “Pela sua natureza, irregularidades e actos ilegais, incluindo fraude, encontram-se frequentemente encobertos, não podendo ser garantido com certeza absoluta que todas as eventuais situações relacionadas tenham sido detectadas no decorrer do trabalho da PwC”.

 Informação negada e depoimentos contraditórios

 Quanto aos documentos não fornecidos, a consultora destaca “extractos da contabilidade com todas as aplicações financeiras/investimento/tesouraria desde 1 de Janeiro de 2012, para todas as entidades do grupo PT”. Refere ainda o facto de “as actas do Conselho de Administração, Comissão Executiva e Comissão de Auditoria da PT SGPS que lhes foram disponibilizadas não incluírem os respectivos anexos”.

A PwC refere expressamente que pediu, mas foi-lhe negado, “documentação de suporte para os processos de análise de risco (rating interno) efectuados pelos serviços do Grupo PT SGPS”, para todas as aplicações desde 1 de Julho de 2012, e as actas da Comissão de Governo de 1 de Janeiro de 2013 ate 30 de Junho de 2014 e a declaração de renúncia de Henrique Granadeiro.

A consultora refere ainda o facto “de, em algumas situações, as informações prestadas pelos entrevistados ser contraditória”. E destaca que: “Devido ao facto de muitas decisões e aprovações serem tomadas de forma informal e sem ser deixada evidência sobre quem tomou determinada decisão, ou sobre quem aprovou determinada transacção”,  não foi possível à PwC “apurar a realidade dos factos”.

Ao longo de duas páginas sobre o âmbito da auditoria, a PwC chama a atenção para o facto de “os seus procedimentos não terem incluído a recolha e análise de evidências electrónicas” e que “caso estes procedimentos tivessem sido efectuados as conclusões do relatório poderiam ser diferentes”.

É ainda salvaguardado que, “tendo em conta as alterações relevantes que ocorreram na estrutura de gestão e de reporte do Departamento de Finanças Corporativas da PT SGPS (nomeadamente transferência dos colaboradores para a PT Portugal e alteração do Director)´", existe a possibilidade de existir outra documentação relevante sobre as aplicações efectuadas pela PT SGPS, PT Finance, PT Móveis e Bratel "que esteja na posse de outros indivíduos que já não fazem parte da actual estrutura e que, por essa razão, não tenham sido disponibilizados”.

E ainda que “não foi possível, apesar dos contactos estabelecidos, entrevistar o Dr. Ricardo Salgado”, ex-presidente do BES.