Documentário retrata a "segunda vida" de uma aldeia que ficou desabitada em 2000

Drave, nas serranias de Arouca, "fechou as portas" em 2000, mas há gente que recusa deixá-la ao abandono.

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Em 1997 o PÚBLICO fez reportagem sobre os dois últimos habitantes da aldeia de Drave, Em Arouca Mário Marques/Arquivo

"A lógica foi a de tentar perceber o que tem de peculiar esta aldeia para que, depois de ter ficado desabitada no ano 2000, não tenha sido abandonada. Não só houve pessoas que começaram a reconstruí-la - os escuteiros -, como se tornou ponto de atracção turística, com milhares de pessoas a passarem por lá todos os anos", explicou à agência Lusa João Nuno Brochado, que vai entregar o lucro resultante das vendas do filme para a reconstrução de Drave.

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"A lógica foi a de tentar perceber o que tem de peculiar esta aldeia para que, depois de ter ficado desabitada no ano 2000, não tenha sido abandonada. Não só houve pessoas que começaram a reconstruí-la - os escuteiros -, como se tornou ponto de atracção turística, com milhares de pessoas a passarem por lá todos os anos", explicou à agência Lusa João Nuno Brochado, que vai entregar o lucro resultante das vendas do filme para a reconstrução de Drave.

O mentor do projecto (cuja autoria partilha com Paulo Natividade e José Carlos Matos) recorda que em Drave, uma espécie de vale situado entre as serras de São Macário e da Freita, na freguesia de Covêlo de Paivó, concelho de Arouca, distrito de Aveiro, não há electricidade, água canalizada, rede de telemóvel ou mesmo estradas que permitam o acesso por automóvel. "Os carros ficam a dois quilómetros. Para se chegar lá, tem de se ir por caminhos de cabra", conta.

Além dos escuteiros, que desde o início do século se têm dedicado à reconstrução da aldeia, o realizador portuense procurou também abordar o facto de esta aldeia se estar a tornar "um ponto de atracção turística". "Há muitas pessoas que vão para lá fazer caminhadas, muitos desportistas, há centenas de pessoas a passar por lá todas as semanas", assegura.

Para o realizador, de 31 anos, outro dos grandes motivos de interesse deste trabalho reside em perceber como é que há tantos jovens num sítio "completamente isolado do mundo". "Hoje em dia, é difícil acreditar que passem lá duas ou três semanas sem as condições que consideramos ser básicas. Vão para lá recuperar o património a troco de nada", sublinha, frisando que esta ainda é uma realidade "desconhecida para muita gente".

Entre as histórias que foi descobrindo, ao longo dos mais de 30 dias que lá passou, entre Fevereiro de 2013 e Outubro de 2014, destaca uma, que consta dos extras do documentário, uma produção da Cimbalino Filmes. "Enquanto a aldeia ainda era habitada, o correio ficava numa mercearia de Regoufe, uma aldeia vizinha, a quatro quilómetros de distância. As próprias pensões das pessoas eram lá entregues e, para compensar o merceeiro pelo facto de ficar com elas, as pessoas ainda tinham de lhe dar uma percentagem", assinala, recordando, que, na década de 90, ainda havia quem vivesse ali sem água e electricidade.