Com ou sem Robert, Mugabe pode suceder a Mugabe

A política do país foi abalada pela fulgurante entrada em cena de Grace Mugabe, a mulher do actual Presidente: "Dizem que eu quero ser Presidente. Porque não? Não nasci no Zimbabwe?"

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No meio de uma purga interna com o objectivo de afastar do círculo de poder a actual vice-presidente do partido, Joice Mujuru, começa a ganhar forma uma ideia que há apenas três meses seria pouco mais do que uma piada – a primeira-dama, Grace Mugabe, também conhecida como "Gucci Grace" devido aos seus gastos extravagantes, é vista agora como um nome a ter em conta na luta pela presidência do Zimbabwe.

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No meio de uma purga interna com o objectivo de afastar do círculo de poder a actual vice-presidente do partido, Joice Mujuru, começa a ganhar forma uma ideia que há apenas três meses seria pouco mais do que uma piada – a primeira-dama, Grace Mugabe, também conhecida como "Gucci Grace" devido aos seus gastos extravagantes, é vista agora como um nome a ter em conta na luta pela presidência do Zimbabwe.

Grace, 41 anos mais nova do que Robert, nunca surgiu aos olhos do país como uma pessoa interessada na política, muito menos como uma líder partidária com ambições presidenciais. Os opositores de Robert Mugabe nunca esconderam o desdém que têm por ela – para além de "Gucci Grace", a primeira-dama do Zimbabwe é também conhecida como "DisGrace" e "First Shopper" ("primeira-cliente", numa alusão ao seu consumismo).

A sua entrada de rompante na cena política, há três meses, atingiu neste fim-de-semana um novo patamar, com a confirmação da sua nomeação para líder da poderosa ala feminina do partido de Mugabe, o Zanu-PF. Grace já ocupava o cargo de facto, após "o surpreendente anúncio" de renúncia da anterior líder, Oppah Muchinguri, em Agosto, escreve no jornal The Guardian o analista político zimbabweano Vince Musewe.

"A ascenção de Grace Mugabe é um conto de fadas político em curso que causa admiração entre os seus seguidores, preocupação entre a elite, e expõe o alcance da sua audácia. Agora até temos uma rua chamada Grace Mugabe Way, que apareceu do nada nesta semana sem ter passado pelas autoridades da cidade [de Harare]. Estará em curso a criação de uma dinastia Mugabe?", questiona o comentador.  

Para além da chegada à liderança da ala feminina do Zanu-PF (que lhe confere um lugar no poderoso Politburo do partido), Grace Mugabe aproveitou os últimos três meses para cimentar a sua imagem de candidata a altos voos no futuro do país – nesse curto espaço de tempo, tirou um doutoramento em Sociologia na Universidade do Zimbabwe, "num processo que os seus críticos descrevem como uma tentativa desesperada para ganhar credibilidade", escreve o correspondente do The Guardian em África, David Smith.

Os críticos de Robert Mugabe acusam a sua mulher de liderar uma campanha para afastar todos os elementos do Zanu-PF que poderiam fazer frente ao Presidente, principalmente a actual n.º 2 do partido e do país, Joice Mujuru, até há poucos meses vista como a inevitável futura chefe de Estado.

"Antes de Grace ter mergulhado de cabeça na luta pela sucessão no Zanu-PF, a facção de Mujuru caminhava para a liderança como um comboio a alta velocidade, com o controlo da maioria das estruturas do partido, incluindo o Politburo, o comité central e as províncias. Mas Grace começou a atacar Mujuru e os seus aliados de uma forma muito violenta, com uma série de alegações, incluindo incompetência, extorsão, corrupção e conspiração" para mandar assassinar Robert Mugabe, escreve o jornalista Owen Gagare no semanário privado Zimbawean Independent.

Com o afastamento de Joice Mujuru, é esperado que Robert Mugabe nomeie para o seu lugar o actual ministro da Justiça, Emmerson Mnangagwa, conhecido como "Crocodilo" devido à reputação de ser implacável com os seus rivais, um homem que espera há três décadas pela oportunidade de ascender à liderança do país.

Mas a estrela do momento no Zimbabwe chama-se Grace, concordam apoiantes e adversários. Marcellina Chikasha, líder de uma nova formação chamada Partido Democrático Africano e autora de fortes ataques contra Mugabe, confirma essa ideia, em declarações à BBC: "Chamem-lhe esperteza, sede de poder ou o velhinho 'estar no lugar certo à hora certa', mas esta dactilógrafa tornou-se decisiva na luta pela sucessão no Zimbabwe. É tenaz e determinada; é ingénua e pouco delicada; é temida e conhecida por ter alcançado sempre tudo o que quis."

E o que quer agora Grace? "Dizem que eu quero ser Presidente. Porque não? Não nasci no Zimbabwe?", perguntou a mulher de Robert Mugabe durante um comício nos arredores da capital, no dia 23 de Outubro.