O brilho de Dorian

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Um plano que se dobra uma, duas e três vezes. Um brilho intenso que se torna reflexo do espaço à volta. Chama-se Dorian a peça desenhada por Martin Hirth e que resulta numa intrigante imagem de si mesma.

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Um plano que se dobra uma, duas e três vezes. Um brilho intenso que se torna reflexo do espaço à volta. Chama-se Dorian a peça desenhada por Martin Hirth e que resulta numa intrigante imagem de si mesma.

O conceito não é novo e tem sido bastante explorado por quem projecta: intervir numa única folha, manipulando-a de modo a perder a sua bidimensionalidade, projectando-a no espaço das três dimensões e ganhando a forma de coisa construída. Dorian constrói-se assim, com uma chapa de aço inox espelhada cortada e simplesmente quinada, sem soldaduras nem aparafusamentos. As versões coloridas, azul ou dourado, são obtidas pela colocação de uma camada com pigmento sobre a chapa quente, que é depois prensada por rolos até esta atingir os 1,5 milímetros de espessura. Deixa-se pousar simplesmente, sem precisar de fixações, facilitando mudanças de lugar.

O facto de ainda não ter mencionado a tipologia desta peça é o que leva a remetê-la para o campo da ambiguidade, da subjectividade. O que é? Para que serve? Qual a função de um objecto para o qual não encontramos uma definição imediata? Podíamos facilmente classificá-la como peça decorativa e até o é. Uma versão contemporânea do boudoir? Um acessório de casa de banho? Pode ser. Os três planos de espelho (convencionalmente um vidro revestido com uma camada metálica) encontram-se no ângulo certo para permitir a multiplicação da imagem do que lhe está próximo.

O próprio nome Dorian pode ser terminado com o apelido Gray... o do Retrato, de Oscar Wilde; sendo que aqui a figura que envelhece com o tempo não está pintada a óleo e é a projecção directa da nossa própria imagem.

Mudamo-la para outra zona e torna-se outra coisa — num “gabinete de curiosidades” quando serve de suporte a peças que procuram o seu lugar para serem exibidas, num “palco” para uma qualquer natureza-morta viver. E então potencia a relação que estabelece com o que nela se deposita e o diálogo que connosco se inicia. É um objecto-paixão, para quem o quiser.