João Semedo e Catarina Martins, dois líderes, dois anos, duas derrotas

Estivéssemos no PS na era de António José Seguro e era caso para falar no “caminho das pedras” trilhado pelos líderes, que nunca tiveram uma boa noite eleitoral.

Foto
Miguel Manso

Autárquicas, primeiro, e europeias, depois. Nas eleições locais, os actuais coordenadores falharam o objectivo assumido publicamente de conquistar um lugar de vereador em Lisboa, no qual tinham apostado tudo com a candidatura de João Semedo. E não alcançaram a reconquista da única câmara que detinham no país, a de Salvaterra de Magos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Autárquicas, primeiro, e europeias, depois. Nas eleições locais, os actuais coordenadores falharam o objectivo assumido publicamente de conquistar um lugar de vereador em Lisboa, no qual tinham apostado tudo com a candidatura de João Semedo. E não alcançaram a reconquista da única câmara que detinham no país, a de Salvaterra de Magos.

O modelo de coordenação a dois, inicialmente avançado pelo ex-líder Francisco Louçã quando se despediu há dois anos, originou, no imediato, muito debate interno. Estivéssemos no PS na era de António José Seguro e era caso para falar no “caminho das pedras” trilhado pelos líderes.

A polémica tinha também a assinatura da corrente fundadora UDP, que tem em Luís Fazenda o rosto principal e em Pedro Filipe Soares a principal promessa. A relação com ambos os coordenadores é cordial, mas suficientemente distante. Contribui para isso, aquando da saída de Louçã, a UDP ter defendido, não um modelo de liderança partilhado a dois, mas, pelo contrário, mais líderes. Uma liderança colegial era então o cenário ideal proposto por Fazenda e Pedro Filipe Soares. Mas estes não eram os únicos opositores.  

Embora na altura preferissem Semedo a solo na liderança, alguns dos críticos estão agora de pedra e cal ao lado dos líderes, casos da eurodeputada Marisa Matias e do dirigente José Gusmão. Outros bateram com a porta entretanto. O maior ruído veio este Verão de Ana Drago e, antes, de Daniel Oliveira.

João Semedo e Catarina Martins são dois perfis muito diferentes com uma experiência política igualmente díspar. O facto de Catarina Martins se ter filiado no Bloco apenas dois anos antes de ascender à liderança era um dedo então apontado por quadros mais antigos. A par da inexperiência, uns e outros questionavam a ideia de serem precisos dois para substituir Louçã e de como, para fora do partido, essa imagem soava a fraqueza e não a reforço.

Actriz de profissão, Catarina Martins, 41 anos, estreou-se como deputada em 2009. Nesses três anos até chegar à liderança, ninguém antecipava que viesse a ser parte da solução empreendida para substituir Louçã.

Algum do seu traquejo político foi dado pela participação na comissão de inquérito às Parcerias Público-Privadas. O coordenador dessa “pasta” no Bloco era então Pedro Filipe Soares. Agora, à frente partido, Catarina Martins continua a ter a alçada da Cultura, mas os dois líderes revezam-se com muita frequência nos debates parlamentares em que confrontam o primeiro-ministro ou nas “corridas” que fazem pelo país.

João Semedo, médico, 63 anos, foi deputado do Bloco pela primeira vez em 2005. Passou quase toda a sua vida política com o cartão do PCP, com quem rompeu definitivamente poucos anos antes. Destacou-se na comissão parlamentar de saúde, da qual é actualmente vice-presidente, e como o homem forte dos bloquistas no inquérito ao BPN. Foi o deputado relator do negócio de compra da TVI pela PT, em 2010, e, mais recentemente, participou naquela que ficou conhecida como a comissão de inquérito aos submarinos (programas relativos à aquisição de equipamentos militares).