São Tomé e Príncipe: miséria é o inimigo número um das mulheres

Miséria, salários menores, maior dificuldade de acesso à educação e responsabilidade monoparental são alguns dos problemas de grande parte das mulheres do país

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Finbarr O'Reilly/Reuters

A ONU afirma que as disparidades entre homens e mulheres são hoje a principal barreira ao desenvolvimento humano, pelo que a igualdade de género ainda é um projecto em construção. Porém, as diferenças ficam mais evidentes em realidades onde a pobreza se faz presente, sendo as mulheres mais atingidas pelas injustiças sociais no mundo e em São Tomé e Príncipe em particular.

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A ONU afirma que as disparidades entre homens e mulheres são hoje a principal barreira ao desenvolvimento humano, pelo que a igualdade de género ainda é um projecto em construção. Porém, as diferenças ficam mais evidentes em realidades onde a pobreza se faz presente, sendo as mulheres mais atingidas pelas injustiças sociais no mundo e em São Tomé e Príncipe em particular.

Miséria, salários menores, maior dificuldade de acesso à educação, responsabilidade monoparental, violência doméstica e poligamia masculina são alguns dos problemas enfrentados por grande parte das mulheres em São Tomé, que travam uma luta diária por uma vida mais justa.

Assim é a vida de Francisca, que como milhares de mulheres santomenses, vive em comunidades sem água canalizada e sistema de esgotos. Francisca acorda todos os dias às 4h30 da manhã, caminha quilómetros até ao centro, para trabalhar informalmente em troca de salários baixíssimos. Criou os seus sete filhos praticamente sozinha, já que o seu companheiro também tinha outras duas esposas.

Maria das Neves, ex-primeira-ministra, diz ser a miséria o maior inimigo da mulher santomense. Como é que as mulheres se podem libertar deste problema quando têm maior dificuldade em conseguir emprego, mesmo quando este é informal?

Quando conseguem um trabalho, o salário delas é menor que o dos homens. Segundo dados do último inquérito demográfico, cerca de 76% das mulheres declararam ganhar menos do que o seu companheiro. Esta situação agrava-se porque são as mulheres também quem possui o menor nível de instrução: o mesmo inquérito indica que qualquer que seja o nível atingido, os homens são mais escolarizados do que as mulheres.

Falta de escolarização 

Esta falta de escolarização possui raízes históricas e culturais. Até à independência do país, em 1975, as mulheres eram praticamente proibidas de frequentar a escola; elas deveriam preparar-se para trabalhos domésticos enquanto aos homens era garantido o ensino. Hoje, isto mudou. Porém, os valores culturais construídos que privilegiam os homens permanecem e levam muito mais tempo a serem desconstruídos.

Além disso, o país não possui infantários, as mães com crianças pequenas que não possuem ajuda familiar não podem trabalhar, e o mesmo problema acontece com as adolescentes que engravidam e são obrigadas a deixar a escola, pois a instituição vê-as como um mau exemplo para as outras raparigas. Depois, quando os filhos nascem, também não podem regressar, já que precisam de cuidar das crianças.

O primeiro passo para lutar contra este problema é entender que os homens e as mulheres possuem disparidades que vão muito além do sexo; perceber de que maneira o mesmo problema afecta as pessoas de maneira diferente, para que possam ser criadas políticas com o intuito de combater estas desigualdades. 

Daniele Savietto teve o apoio do programa de formação jornalística "Beyond Your World", financiado pela Comissão Europeia e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos.