Em Pohnpei, havia uma bola e pouco mais

A história de dois ingleses que queriam ser internacionais e acabaram como treinadores da selecção de uma pequena ilha do Pacífico.

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Watson e Conrad tinham chegado ao seu “El Dorado” futebolístico, que é como quem diz, a pior selecção do mundo, onde até dois ingleses sem experiência futebolística seriam, pensavam eles, titulares indiscutíveis. Não foram. Mas a história não acaba aqui. Estava apenas a começar. O alvo era Pohnpei, uma ilha no Pacífico, que integra os Estados Federados da Micronésia, com cerca de 34 mil habitantes. Os dois ingleses contactaram a federação de futebol da ilha e receberam uma resposta. O presidente ia estar em Londres e marcou uma reunião. O que lhes ofereceram não foi a titularidade garantida na equipa mas algo muito melhor: a possibilidade de serem eles próprios os treinadores.

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Watson e Conrad tinham chegado ao seu “El Dorado” futebolístico, que é como quem diz, a pior selecção do mundo, onde até dois ingleses sem experiência futebolística seriam, pensavam eles, titulares indiscutíveis. Não foram. Mas a história não acaba aqui. Estava apenas a começar. O alvo era Pohnpei, uma ilha no Pacífico, que integra os Estados Federados da Micronésia, com cerca de 34 mil habitantes. Os dois ingleses contactaram a federação de futebol da ilha e receberam uma resposta. O presidente ia estar em Londres e marcou uma reunião. O que lhes ofereceram não foi a titularidade garantida na equipa mas algo muito melhor: a possibilidade de serem eles próprios os treinadores.

“No início, o que queríamos era mais uma história engraçada para contar no pub. Depois, quando fomos à ilha é que percebemos que podíamos contribuir a sério e não ser apenas para benefício próprio”, conta Conrad, cuja única qualificação para ser treinador era um curso de paramédico promovido pela federação inglesa. Os dois pagaram a viagem a Pohnpei do seu próprio bolso, tiveram todo o apoio e voluntarismo do Comité Olímpico da Micronésia, mas faltava tudo o resto e nem sequer eram pagos. “Tivemos de começar pelo básico”, recorda Watson, um jornalista desportivo.

As coisas evoluíram rapidamente. A dupla conseguiu estabelecer uma rotina de treinos para os jogadores e conseguiu pô-los em forma, algo, à partida, bastante difícil numa ilha onde a obesidade era um problema. Conseguiram até que se organizasse um pequeno campeonato local. “É isto que é fantástico no futebol, não é preciso muito para criar uma comunidade de pessoas que gostam de futebol. Só é preciso haver uma bola”, diz Conrad. Mas era preciso dar mais um salto. Os jogadores precisavam de ter estímulo competitivo e a dupla de treinadores decidiu que iriam fazer uma digressão a Guam. Felizmente que alguém da família de Conrad tinha uma pequena companhia área e patrocinou a viagem.

Dezoito meses depois de Watson e Conrad terem aterrado em Pohnpei, a selecção por eles treinada iria conseguir a primeira vitória da sua história, derrotando uma equipa do campeonato de Guam por 7-1. “Tínhamos aquela estatística horrível de nunca termos ganho um jogo. Quando soou o apito final, foi um momento de enorme orgulho”, recorda Conrad. A aventura deste par inglês deu um livro, “Up Pohnpei”, e vai dar um documentário, realizado pelo próprio Conrad, que ainda está à procura de financiamento para o completar. Quanto a Watson, foi treinar um clube para a Mongólia, desta vez com um salário.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos