Jornalistas e preguiçosos

O primeiro-ministro não se cansa de não surpreender. Honra a língua materna como ninguém. No uso correcto da linguagem correcta. Adoptou na governação a criatividade linguística da Jota. É o povo “piegas”. A “salsicha educativa”. O “striptease bancário”. O “fanatismo orçamental”. A "pancada” no povo. É “essa gente” toda.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O primeiro-ministro não se cansa de não surpreender. Honra a língua materna como ninguém. No uso correcto da linguagem correcta. Adoptou na governação a criatividade linguística da Jota. É o povo “piegas”. A “salsicha educativa”. O “striptease bancário”. O “fanatismo orçamental”. A "pancada” no povo. É “essa gente” toda.

Encolhemos os ombros: “coisas da juventude”. Já passa. Não passa. É modo de ser.

Só a palavra imprópria já é mau. Constrange. É o primeiro-ministro!

Se se passa às ideias, a coisa complica-se.

Eça não tem razão! O primeiro-ministro não quer só o louvor da imprensa. Exige o acordo da imprensa. Se o jornal não louva e concorda, é preguiçoso. Patético.   

No seio da família partidária, entusiasma-se. A unanimidade inebria-o. Subestima ensinamentos mínimos da vida. A prudência de duvidar do unanimismo. Embalado com tanta razão, descura a lucidez. O entusiasmo enevoa a clareza de espírito. Toma-se a parte pelo todo.

A preguiça procria juízos ligeiros. Os jornalistas não estudam, não analisam. São calaceiros. Falam de cor. Deviam seguir-lhe o exemplo. Tudo estuda com minúcia. De tudo fala com rigor. Nunca diz ora uma coisa, ora outra. Nunca se engana! São uns preguiçosos.

São patéticos!  Exagerados. Inventaram a austeridade da qual nunca mais se sai. A dívida sempre crescente. O défice que não desce. O futuro sem futuro. O desemprego. A carga fiscal sem nome. Professores sem escola, alunos sem professor. Tribunais bloqueados por meses. Conspiração jornalística.

Os jornalistas e comentadores são míopes. Mal intencionados. Recusam a grandeza das reformas! Um povo que sofre. Quanto mais trabalha, menos recebe. Mouro de trabalho para pagar impostos. Um Governo que se sente muito melhor. As pessoas não. Uma terra vendida a retalho a estrangeiros. Um país sem sonhos!

Sobrava a terminologia imprópria de primeiro-ministro. Preocupante é o subliminar. As injúrias a uma classe profissional. Dissimuladamente, a férula ao jornalismo, que é fundamental à garantia da liberdade de pensamento, expressão e informação, firmada em tudo quanto é legislação internacional e nacional sobre a matéria.

Eça dizia que “quando se lê constantemente Séneca, ganha-se os hábitos e o espírito de Séneca”. Há anos a fio, o primeiro-ministro professa uma doutrina: o “memorando de ajustamento”. O seu Corão. Uma religião. Pensamento único. A graça da austeridade. O pecado mortal de ser feliz em Portugal.

O memorando blasfema da cidadania. Renega e despreza a liberdade. Só números, despedimentos , juros e cortes, em folhas de Excel.

Personagem aquém, o primeiro-ministro não vê adiante. Verbera o pensamento além. O memorando é a verdade. Pensar diferente é heresia. Preguiça. Ser patético. Chama-se censura!

Procurador-geral adjunto