O sal vem do mar. Mas também vem de uma planta. E agora até há nos montes

A salicórnia, que adora ambientes salobros, foi agora reproduzida em laboratório, dando hipótese ao interior do país de rivalizar com o litoral no que ao sal diz respeito.

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Quando Marisa Ribeirinho, enquanto estudante de Licenciatura em Genética e Biotecnologia da UTAD, decidiu o tema para o seu relatório final de estágio, estava longe de imaginar que iria desenvolver uma forma de reprodução da salicórnia in vitro com mais benefícios do que os obtidos quando a planta cresce no seu habitat natural, sujeita a factores exterior não controláveis. “O grande desafio da investigação foi produzir a salicórnia in vitro, livre de possíveis contaminações do ambiente, desprovida de fungos e bactérias. A partir daí, percebemos que conseguíamos fazer cópias geneticamente fiéis da planta, o que permite reproduzi-la durante todo o ano”, explica a aluna.

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Quando Marisa Ribeirinho, enquanto estudante de Licenciatura em Genética e Biotecnologia da UTAD, decidiu o tema para o seu relatório final de estágio, estava longe de imaginar que iria desenvolver uma forma de reprodução da salicórnia in vitro com mais benefícios do que os obtidos quando a planta cresce no seu habitat natural, sujeita a factores exterior não controláveis. “O grande desafio da investigação foi produzir a salicórnia in vitro, livre de possíveis contaminações do ambiente, desprovida de fungos e bactérias. A partir daí, percebemos que conseguíamos fazer cópias geneticamente fiéis da planta, o que permite reproduzi-la durante todo o ano”, explica a aluna.

Uma vez que a salicórnia que cresce junto a estuários ou salinas só é comestível entre Abril e fins de Julho, não estando mais de metade do ano em condições para ser comercializada, a possibilidade de produzir esta planta em grandes quantidades e num curto espaço de tempo pode ter uma importante mais valia comercial. Marisa Ribeirinho admite que a produção contínua da planta “possa ameaçar os produtores” no litoral mas, salienta, esse risco “também irá depender da adesão dos consumidores". E lembra que, "apesar das numerosas vantagens do seu consumo, esta planta é ainda pouco conhecida em Portugal”.

Fernanda Leal, docente e investigadora da UTAD, que aceitou o desafio de criar uma alternativa à produção da Salicornia ramosissima (uma das 148 espécies de salicórnias conhecidas) proposto pela jovem estudante, acrescentou que “a grande vantagem da produção em laboratório é dar as condições óptimas de reprodução à planta". Condições como a luminosidade ou o clima que, "no seu habitat natural, se alteram diariamente, ao longo da semana e mesmo ao longo do mês”, enquanto no laboratório, podem ser controladas.

Esta planta rasteira e comestível, também conhecida por “sal verde”, é muito utlizada em saladas não condimentadas uma vez que pode substituir o sal. Apesar de habitualmente ser consumida fresca, nos restaurantes, também já é cozinhada e acompanha arroz e massa.

Em alguns países europeus, a salicórnia já foi considerada produto gourmet. “O grande produtor da planta é a Holanda, sendo também muito consumida em França. Se em Portugal conseguirmos ter uma produção própria que chegue a todo o país a um preço mais competitivo, já será um grande avanço, pois não precisávamos de importar”, avança Marisa Ribeirinho.

Para além das potencialidades gastronómicas da salicórnia, esta tem, ainda, um papel fundamental na prevenção de algumas doenças: “A planta, rica em iodo, fósforo, zinco e vitaminas A, C e D, já é referenciada em estudos científicos internacionais por conter características antioxidantes, antitumorais, diuréticas e até estéticas”, afirma Marisa Ribeirinho. A ideia das investigadoras passa agora por “tentar que chegue aos consumidores o melhor, ou seja, a salicórnia o mais desinfectada possível e conservando as suas propriedades medicinais”, explicam.

A estudante e professora, que inicialmente começaram por querer perceber apenas os malefícios associados ao sal, admitem que não esperavam que a investigação tivesse tanto impacto. Agora, esperam pela atribuição da patente para que possam “fazer estudos mais pormenorizados a comprovar as particularidades já identificadas na planta, explorar melhor as suas potencialidades medicinais, obter facilmente uma grande quantidade a nível industrial para encontrar possíveis produtores, divulgando-a o mais possível”.

Mas porque é que uma universidade do interior se lança na produção de uma planta que nasce lá longe, junto ao mar? “A ideia foi fazer o cruzamento das regiões, trazendo para Trás-os-Montes aquilo que não se consegue produzir em ambiente natural, visto que é uma planta que só cresce em ambientes com alta salinidade, e provando que, se aqui tinha sucesso, também o poderá ter em qualquer parte do país”, conclui Marisa Ribeirinho.