Primeiro-ministro critica "os que olham agora gulosamente para as eleições"

De visita a Valença, Passos Coelho criticou os que não "remaram para o mesmo lado" para ajustar o país e avisou que Portugal ainda terá que enfrentar muitas "restrições". E insistiu na necessidade de um "amplo debate nacional" sobre matérias importantes como a reforma do Estado.

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Passos Coelho quando abandonou a cimeira, já de madrugada Foto: Francois Lenoir/Reuters

"Crescer dá trabalho, ter projectos bem-sucedidos dão trabalho (...). As coisas não caem do céu, dão trabalho, exigem esforço”, disse Pedro Passos Coelho, acrescentando ter "a impressão de que nem todos remaram para o mesmo lado", nomeadamente "os que olham agora gulosamente para as eleições".

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"Crescer dá trabalho, ter projectos bem-sucedidos dão trabalho (...). As coisas não caem do céu, dão trabalho, exigem esforço”, disse Pedro Passos Coelho, acrescentando ter "a impressão de que nem todos remaram para o mesmo lado", nomeadamente "os que olham agora gulosamente para as eleições".

Segundo o chefe do Executivo, Portugal vai ainda enfrentar "durante muitos anos um nível elevado de dívida pública". "São restrições reais", "as coisas são como são", salientou, acrescentando que "a pior crise que pode acontecer ao país é ter um Governo que faça de conta".

Para Passos Coelho, "o melhor favor que o Estado pode fazer aos cidadãos é saber comportar-se com parcimónia", não acrescentando dívida à dívida existente. "E é isso que Portugal vai precisar de fazer durante uns anos", frisou.

Sobre o Orçamento do Estado para 2015, Passos afirmou que o documento "é o que pode ser", adiantando que Portugal "ainda está de alguma forma vulnerável a choques externos que possam ocorrer". "Na verdade, é o que pode ser. Tem equilíbrio e responsabilidade porque o Estado não está ainda em condições de poder devolver tudo, mas tem sinais importantes que mostram às pessoas que tempos mais agudos estão por agora vencidos", declarou, quando questionado sobre a proposta orçamental para 2015 em discussão na Assembleia da República.

Pedro Passos Coelho lembrou que na semana passada, perante "indefinições na Grécia", as taxas de juro a 10 anos dispararam logo em países como Espanha, Portugal, Itália e também Irlanda. "Essa é a razão deste Orçamento do Estado", sublinhou.

O primeiro-ministro, que falava na Câmara de Valença, destacou a necessidade de Portugal saber aproveitar com rigor os próximos fundos comunitários. "Temos que gastar bem cada euro que tivermos", avisou, sublinhando que na próxima década o país terá os fundos comunitários como única fonte de financiamento. Disse que "a chamada contrapartida nacional não pode falhar", sendo dever do Estado garantir essa meta. "Esperamos que, desta vez, estes próximos sete anos sirvam para convergir com a média europeia em vez divergir", disse.

Passos Coelho acrescentou que este quadro comunitário de apoio (2014-2020) "tem que ter regras diferentes das dos precedentes", mostrando-se convencido de que hoje "todos têm a noção muito aguda desta necessidade". Na sua opinião, "uma das poucas vantagens" que a crise trouxe ao país foi o facto de agora as pessoas terem a noção de que é preciso garantir que as verbas sejam devidamente gastas, em projectos sustentáveis.

O primeiro-ministro voltou a defender a necessidade de Governo e da oposição discutirem os problemas do país, afirmando querer "um amplo debate nacional sobre matérias importantes" como a reforma do Estado.

"Os governos duram o que têm que durar nos termos da Constituição e desde que não haja crises (...). Temos este tempo ainda para que o Governo governe e para que a oposição faça oposição, mas entre quem governa e quem faz oposição tem de haver espaço para discutir os problemas do país", afirmou Passos Coelho, na Casa das Artes de Arcos de Valdevez, regressando ao assunto das eleições antecipadas.

"Agora andam várias pessoas interessadas em discutir a antecipação das eleições, há sempre quem goste de se distrair com conversas que dizem pouco às pessoas e quando chega a altura de discutir coisas que são mesmo importantes, dizem que só discutem depois das eleições", criticou.

Segundo o primeiro-ministro, Portugal tem "problemas que se arrastaram durante muitos anos" e, apesar do Governo procurar nos últimos três anos resolver muitos deles, "permanecem aspectos estruturais que são muito relevantes e que precisam de ser devidamente respondidos". São problemas que "não se respondem nem num mês nem num ano; demoram vários anos a produzir resultados".

Quanto à reforma do Estado, disse que "ainda há muito a fazer nessa medida" e apelou ao contributo do poder local. Em resposta ao presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, o social-democrata João Esteves, que pediu apoios para a regeneração urbana, qualificação da estrada nacional que liga o concelho a Ponte da Barca e depois a Orense, bem como contribuir para o aumento da competitividade das empresas na região, Passos Coelho afirmou que "o apoio aparecerá consoante as possibilidades que o Governo e o Estado têm". Mas prometeu que o Governo ajudará a concretizar alguns dos projectos.